Vejo poucas pessoas falando sobre as razões que levam Elon Musk a propagar o fascismo pelo mundo. A discussão nas redes sociais fica rasa quando tentamos apenas interpretar se um gesto ou uma fala é fascista, nazista ou não significa nada. Neste momento em que Musk detém tanto poder, é importante irmos um pouco mais a fundo.
Antes, vamos deixar clara a diferença entre os dois termos, que são interligados: o fascismo é uma ideologia autoritária e ultranacionalista que exalta o Estado acima do indivíduo, enquanto o nazismo, além de ser fascista, incorpora uma forte ideologia racista e antissemita, buscando a “pureza racial”.
Um elemento essencial para o pleno estabelecimento e disseminação de ambas as ideologias é uma antiga e conhecida estratégia política, também muito utilizada no marketing: a narrativa (ou o gatilho) do inimigo comum.
No A Arte da Guerra, Sun Tzu menciona a importância de identificar e manipular percepções sobre o inimigo para manter a coesão e a moral do exército. Em O Príncipe, Maquiavel descreve a necessidade de um governante manter um estado de guerra ou tensão para garantir a unidade do povo e justificar seu poder. Carl Schmitt, um dos mais importantes filósofos do nazismo, em O Conceito do Político argumenta que a essência da política é identificar e definir um inimigo.
Musk, em sua aliança com Donald Trump, escolheu quem é o principal inimigo comum dos norte-americanos “de bem”. E, do lado de cá do Atlântico, não seriam os judeus, né?
Os grandes vilões que impedem a América de ser grande novamente são os imigrantes ilegais.
São eles os responsáveis por roubar os empregos. São eles os culpados pelo aumento da criminalidade nas cidades. São eles que matam e comem indefesos gatos e cachorros de estimação na pacata Springfield — a de Ohio, não a dos Simpsons, infelizmente.
Mas, além de uma narrativa certeira para eleger políticos e unificar o país, será que somos capazes de pensar em termos práticos? Imagine que, nos próximos quatro anos, Musk e Trump consigam expulsar todos os imigrantes ilegais dos EUA.
A Federação para a Reforma da Imigração Americana (FAIR) estimou que, em 2023, havia cerca de 16,8 milhões de imigrantes não autorizados nos EUA. Ou seja, aproximadamente 5% da população total deixaria o país.
Neste momento, surgem previsões como “o país vai quebrar”, justificadas com frases como “os imigrantes fazem os trabalhos que o americano não quer fazer”. No imaginário popular, esses empregos que o cidadão médio dos EUA “não quer” estão ligados a trabalhos braçais no setor agrário ou a serviços como limpeza e construção civil.
Mas será que quem diz isso não está prestando atenção no que esse sul-africano branco, que cresceu durante o apartheid, está planejando para o futuro da sua empresa mais valiosa?
No ano passado, a apresentação da mais recente versão do Optimus chocou muita gente (veja no vídeo). O robô humanoide em desenvolvimento pela Tesla foi projetado para realizar tarefas perigosas, repetitivas ou entediantes e passou por diversas atualizações. Para você ter uma ideia, ele já é capaz de realizar tarefas domésticas simples e interagir com humanos.
Agora, em janeiro, durante uma teleconferência sobre os espetaculares resultados financeiros do quarto trimestre de 2024(por que será?!), Musk destacou o potencial do Optimus, afirmando que a receita gerada pelo robô poderia eventualmente superar a das vendas de veículos da Tesla.
Segundo ele, o robô poderá “ser um professor, cuidar de seus filhos, passear com seu cachorro, cortar a grama, fazer compras… Tudo o que você imaginar, ele fará”. E o melhor de tudo? Custará mais ou menos o preço de um carro.
Com o avanço da inteligência artificial, nós, meros mortais, já não somos capazes de acompanhar a evolução da tecnologia. Mas ainda não ficamos tapados a ponto de não perceber qual é o verdadeiro movimento em curso.
Para Musk, a expulsão dos imigrantes ilegais não criará um rombo na economia. Pelo contrário. A ausência de 5% da população abrirá um novo e gigantesco mercado, no qual a Tesla estará muito bem posicionada.