Implantes cerebrais
já são uma tecnologia real e presente na ciência e medicina atuais, embora seu uso ainda seja restrito. Grandes avanços na área estão trazendo à tona mais preocupações éticas do que tecnológicas, por mais que pareça ficção científica. Entre os principais pontos de discussão, está a chance de alterações na personalidade dos usuários dos chips cerebrais, que vão de auxílio a pessoas com paralisia
e deficiência auditiva a novas formas de controlar o computador.
O site Business Insider
conversou com alguns especialistas em psicologia e filosofia para saber mais sobre as mudanças e efeitos adversos gerados pelos implantes cerebrais e como está o debate
ético em torno do avanço tecnológico. Para Anna Wexler, por exemplo, professora de filosofia na Universidade da Pensilvânia, já está claro que qualquer implante causa mudanças em seus usuários, sendo apenas uma questão de quais mudanças e qual a implicação delas em nossas vidas.
Entre as mais proeminentes empresas envolvidas na fabricação de chips a serem usados no cérebro, está a Neuralink
, do empresário Elon Musk, que diz ter planos de fazer um “Fitbit cerebral”, se referindo às pulseiras inteligentes que registram atividades físicas, batimentos cardíacos e dados corporais gerais dos usuários. A companhia está longe de ser a única no campo
, com mais de 200 mil pessoas usando algum tipo de implante por todo o mundo.
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A parte boa dos implantes cerebrais
Não é porque questões éticas sobre os implantes, no geral, estejam sendo levantadas que os dispositivos não tenham um lado positivo. Um exemplo bem-sucedido e benéfico é o dos implantes cocleares, utilizados por deficientes auditivos para amplificar sons e permitir uma audição considerada padrão, e outro é o de aparelhos de monitoramento cerebral que avisam sobre possíveis crises de epilepsia. Há até o caso de um homem tetraplégico que recuperou movimentos e sensações com o uso de implante
.
Além disso, há pacientes com Parkinson que recebem estímulos cerebrais
profundos com fios metálicos, ajudando com seus sintomas motores. Wexler acompanhou muitos desses pacientes e descobriu que muitos deles já haviam perdido senso de identidade e capacidade motora antes de receber o tratamento cerebral, perdendo, de certa forma, sua própria percepção de si.
Os implantes ajudaram a “voltar a ser quem eram”, recuperar a identidade e voltar a fazer o que se pensa ser capaz de fazer, o que havia sido perdido com a doença. A questão é que a mudança na identidade nem sempre é assim, benéfica. Frederic Gilbert, professor de filosofia na Universidade da Tasmânia e especialista em neuroética aplicada, comenta que a ideia de personalidade, agência, autonomia e autenticidade não são tão claras quanto parecem, sendo na verdade obscuras, compactas e opacas.
Não há um consenso sobre seu significado, e, em alguns casos, pacientes com implantes cerebrais acabaram tendo a personalidade mudada
em relação a como eram anteriormente, e, em outros, até mudanças na expressão da sexualidade.
A parte ruim dos implantes cerebrais
Em uma perspectiva mais séria, Gilbert notou o que se chama de “alienação”, onde pacientes relataram não se reconhecerem mais. Eles sabem quem são, mas têm a impressão das coisas não serem como eram antes de serem implantados. Alguns passam a acreditar ter habilidades sem relação com o implante, como uma mulher de cerca de 50 anos que tentou levantar uma mesa de bilhar e acabou se machucando apenas por acreditar que podia. Casos mais graves incluem tentativas de suicídio.
Uma questão muito importante está no fato de que, para quem está com limitações médicas sérias, como pacientes de Parkinson ou portadores de alguma deficiência, o custo-benefício psicológico de um implante acaba sendo positivo de qualquer maneira. Agora que estamos diante de uma popularização dos chips e prestes a ver sua entrada no mercado, as desvantagens começam a ser mais preocupantes, especialmente no que tange a dependência dos implantes.
Um paciente acompanhado por Gilbert, por exemplo, acabou com “paralisia de decisão”, onde se via incapaz de decidir o que iria almoçar ou para onde iria sair sem consultar o implante cerebral. O especialista aponta que não há problema em ter um aparelho que ajuda a decidir questões do dia-a-dia, mas quando o dispositivo passa a tomar as rédeas da decisão e excluir o humano da equação, aí o problema começa.
Outros pacientes enfrentaram depressão após a remoção dos implantes
, o que ocorre quando o período de testes clínicos acaba ou o programa fica sem financiamento. Enquanto os chips ainda se restringem à área médica, a tecnologia segue valendo a pena. Quando entramos no campo dos implantes sem necessidade absoluta, a coisa muda de figura, e é bom nos prepararmos para este tipo de debate em um futuro muito, muito próximo.
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