quarta-feira, 7 de maio de 2025

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80 anos da Aviação de Caça: uma homenagem à coragem e ao dever

Andressa Anholete/Agência Senado

Plenário do Senado Federal durante sessão especial em homenagem ao Dia da Aviação de Caça (22 de abril) e aos 80 anos da Aviação de Caça no Brasil

Recém-casado e com filho pequeno, eu fui transferido para o 3º/10º Grupo de Aviação, o “Esquadrão Centauro”, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 1986.

Como “Centauro 77″, passei ali 3 anos da minha vida. Certamente, uma das experiências mais intensas e enriquecedoras que já tive, onde a vida de cada um depende, literalmente, da performance do outro. Muitas vezes, nós decolávamos de madrugada, chovendo, com o tempo ruim e a família esperando em casa. 

Ali fica a Base Aérea de Santa Cruz (BASCR), uma unidade da Força Aérea Brasileira( FAB), a primeira sede do Regimento de Aviação. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Base recebeu dirigíveis da Marinha dos Estados Unidos, que os utilizavam como patrulha marítima. Também foram recebidos ali os pilotos do 1° Grupo de Aviação de Caça (1.º GAvCa) que estiveram em combate na Itália.

Em 22 de abril de 1945, no meio da Segunda Guerra, nos céus da Itália, esse lendário 1.º GAvCa realizou 44 missões em um único dia. Foi o maior esforço operacional da Força Aérea Brasileira em toda a campanha da Segunda Guerra Mundial. O grupo realizou mais de 2500 ofensivas ao longo de 450 missões nos céus da Europa durante a guerra e até hoje inspira militares e civis. Essa data foi escolhida para comemorar o Dia da Aviação de Caça.

Como Piloto de Caça e o primeiro Astronauta brasileiro, trago no meu coração o amor pelo Brasil e pelo voo. Sentimentos que compartilhei com todos os heróis da Aviação de Caça Brasileira ao comemorar o Dia da Aviação de Caça na Sessão Especial do Senado Federal, nesta terça-feira (06/05) pelos seus 80 anos de história.

Comemorar esta data é, acima  de tudo, reconhecer o valor da nossa Força Aérea e, especialmente, daqueles que, desde a Segunda Guerra Mundial, arriscaram — e muitos entregaram — suas vidas em defesa da soberania do nosso país. A criação da Aviação de Caça foi um marco na história militar do Brasil, projetando nosso país no cenário internacional pela capacidade de agir ao lado de grandes nações com competência.

Aqueles jovens que voaram sob o lema “Senta a Pua!”, deixaram um legado que ultrapassa os livros de história: deixaram uma lição de coragem, disciplina e amor à pátria.

Durante a sessão, eu tive a honra de poder entregar homenagens póstumas, reconhecendo os brasileiros que serviram à nossa pátria com coragem e compromisso com os ideais de soberania, liberdade e dever. 

Especialmente, dois heróis representaram nosso país com bravura e lealdade: o Brigadeiro Nero Moura, Patrono da Aviação de Caça do Brasil, e o 2º Tenente-Aviador Danilo Marques Moura, combatente da Segunda Guerra Mundial.

O Sr. Reinaldo Moura, sobrinho do Brigadeiro Nero Moura e filho do Tenente Danilo Moura, recebeu a homenagem em nome do Senado Federal e de todos os brasileiros. Suas histórias são incríveis.

Brigadeiro Nero Moura comandou o 1º Grupo de Aviação de Caça na Segunda Guerra Mundial e foi o responsável pela histórica realização de onze missões de combate em um único dia (22 de abril de 1945). Sua firmeza em manter o grupo até a vitória final garantiu honra à Força Aérea Brasileira na Campanha da Itália.

Seu irmão, o 2º Tenente Danilo Marques Moura, também brilhou como herói de guerra: após ser abatido, percorreu mais de 340 km em território inimigo até retornar às forças aliadas, protagonizando uma das histórias mais impressionantes do grupo, eternizada na famosa “Ópera do Danilo”.

Homenageamos também o 2º Tenente Sebastião Miniró Ribeiro da Silva, veterano da Segunda Guerra Mundial e especialista em aerofotometria, cuja atuação sigilosa foi essencial na produção de mapas estratégicos para as missões aliadas na Itália.

Natural de Mariana (MG), treinado no Panamá e na Inglaterra, serviu com excelência no 1º Grupo de Aviação de Caça, sendo condecorado com a Medalha da Campanha da Itália e a Presidential Unit Citation. Após a guerra, seguiu carreira como fotógrafo da FAB e da Presidência da República. Faleceu em 2019, deixando um legado de patriotismo, competência e memória histórica. A homenagem póstuma foi recebida simbolicamente por seu filho, Roberto Miniró.

Entregamos certificados de reconhecimento de brasileiros exemplares, como o Tenente-Brigadeiro do Ar Alcides Teixeira Barbacovi, representando o Tenente-Brigadeiro do Ar, Sr. Marcelo Kanitz Damasceno, Comandante da Aeronáutica, piloto de caça mais antigo na ativa da Força Aérea Brasileira.

O Tenente-Coronel Aviador Fórneas, Comandante do Primeiro Grupo de Defesa Aérea, recebeu o certificado de reconhecimento das mãos do senador Jorge Seif e a Major Aviadora Carla Borges, a primeira mulher a lançar uma bomba a partir de um caça de alta performance da FAB, recebeu o certificado das mãos da senadora Damares Alves.

Além disso, realizamos um ato simbólico de grande valor histórico: a assinatura de dois projetos de lei que propõem a inscrição de nomes marcantes da aviação de caça e da Força Aérea Brasileira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Este livro, guardado no Panteão da Pátria em Brasília, homenageia aqueles cuja dedicação ao Brasil se transformou em legado eterno. O ato foi realizado ao lado do Tenente-Brigadeiro do Ar Alcides Teixeira Barbacovi, representando o Comandante da Aeronáutica.

O Projeto de Lei nº 4.774/2019, de autoria do deputado Eduardo Cury e relatado no Senado por mim, propõe a inscrição do nome do Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Visionário e fundador do ITA e do DCTA, Casimiro é considerado um dos pilares da ciência e tecnologia no Brasil. Como engenheiro formado pelo ITA, destaco a honra de relatar a proposta, que já foi aprovada pela Comissão de Educação e Cultura e segue para sanção presidencial, reconhecendo formalmente a importância histórica de Montenegro para o país.

E o Projeto de Lei nº 1.711/2024, de minha autoria, propõe a inscrição do Tenente-Aviador Alberto Martins Torres no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Torres foi piloto do 1º Grupo de Aviação de Caça, pioneiro na patrulha aérea na Segunda Guerra Mundial e responsável pelo único afundamento confirmado de um submarino inimigo em águas brasileiras, além de completar 100 missões de combate no front italiano — o maior número entre os brasileiros na Frente do Mediterrâneo.

O projeto foi aprovado pela Comissão de Educação e Cultura do Senado em caráter terminativo e segue para apreciação na Câmara dos Deputados. A homenagem, junto à de Casimiro Montenegro, reconhece o legado de bravura e dedicação à Pátria na história da Força Aérea Brasileira.

Celebrar os 80 anos da Aviação de Caça é celebrar o Brasil que dá certo. Um Brasil que valoriza o mérito, a hierarquia, a técnica e a dedicação. Um Brasil que não esquece dos seus heróis.

Nessa profissão, aprendi os valores e o espírito de equipe que me deram essa base sólida que levei ao espaço e hoje carrego comigo. Eu tenho orgulho de ter feito parte dessa família de caçadores do ar e de ter servido ao Brasil com honra e com dever cívico.

Em tempos de relativização de valores, precisamos lembrar, com ainda mais força, da importância de datas como esta.  Não podemos permitir que o tempo apague o exemplo daqueles que nos mostraram o que significa lutar pelo bem comum.

Lá em Santa Maria (RS), passávamos por tempestades, mas cumpríamos nossa missão. Ao voltar para casa, as nuvens pretas saíam abrindo espaço para aquele magnífico tapete de nuvens brancas ao nascer do sol. Se você mantiver sua posição, seus princípios, seus valores, fazer a sua parte e, principalmente, acreditar, uma hora a tempestade vai passar e você terá cumprido a sua missão.

Por isso, reafirmo aqui meu compromisso com a memória nacional e com a valorização do civismo. Para deixar um legado que inspira as futuras gerações e deixar um país que a gente sonhou para nossos filhos. Que esta sessão sirva não apenas como um tributo, mas como um chamado à responsabilidade e ao patriotismo.

Que essa sessão seja uma motivação para os jovens que desejam seguir o caminho da aviação, especialmente, a aviação de caça. Quantos pilotos você conhece? Quantos são pilotos de caça? Essa profissão exige disciplina, dedicação e coragem, além de trabalho em equipe e amor pelo nosso país. Que a gente possa compartilhar esse propósito, mostrando que é possível alcançar o impossível.

O Brasil precisa de cada um de nós. E é nosso dever cívico manter viva essa chama. Não podemos permitir que o tempo apague o exemplo daqueles que nos mostraram o que significa lutar pelo bem comum.

Senta a Pua! Viva a Aviação de Caça! Viva o Brasil!

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