A área, que desde os anos 1990 servia como campo de futebol de terrão, era o principal ponto de lazer das crianças e famílias da comunidade. De acordo com os moradores, a Prefeitura teria mandado construir o espaço em tempo recorde, em apenas quatro dias, a menos de dez dias do pleito eleitoral, com pista de caminhada, iluminação e quadra de vôlei de areia, sem a devida regularização da área.
“O que descobrimos aqui é uma obra de enganação e desperdício de dinheiro público”, denunciou o vereador. “Fizeram uma praça em área privada, sem segurança jurídica, em pleno período eleitoral. Agora o terreno está sendo reivindicado e quem paga o preço é a comunidade. Vou protocolar requerimento cobrando a origem da obra, quanto foi gasto e quem vai arcar com o prejuízo se a praça for perdida.”
Landmark destacou que o caso veio à tona durante a escuta do Orçamento Participativo, iniciativa do mandato que tem o objetivo de coletar demandas populares para inclusão no PPA (Plano Plurianual) e na LOA (Lei Orçamentária Anual).
O morador Sebastião Gutierrez Barão, de 42 anos, promotor de vendas, foi um dos primeiros a relatar o problema. “O campo já existe desde a década de 90. A gente cresceu jogando bola ali, foi um espaço que o povo criou. No ano passado, fizeram a praça e a gente cuidou, manteve limpa, virou o orgulho do bairro. Agora apareceu o dono do terreno e quer tomar de volta. É o único lugar de lazer que temos, o único espaço para as crianças brincarem”, lamentou.
A denúncia foi acompanhada pela indignação dos participantes da reunião, que expressaram revolta com o risco de perder o único espaço de convivência da comunidade. Muitos apontaram que o investimento feito pela Prefeitura, além de ter motivação política, teria sido feito sem planejamento e sem responsabilidade.
Infraestrutura precária
Além da polêmica da praça, a reunião escancarou a realidade de abandono enfrentada pelos moradores do Jardim das Cerejeiras e bairros próximos. Ruas sem asfalto, buracos, falta de cascalhamento, iluminação precária e ausência de serviços públicos básicos foram as principais queixas.
“A demanda maior que nós temos aqui é a falta de luz e o cascalhamento,” contou Sebastião. “Toda vez que chove, vira um lamaçal e a gente não consegue nem sair de casa. A gente sabe que o asfalto demora, mas o mínimo seria manter as ruas cascalhadas”.
O morador Emy Corrêa de Souza, do Conselho Regional de Saúde e de Segurança do bairro, alertou para o risco iminente de colapso de uma ponte que liga o bairro a outras regiões. Segundo ele, o problema começou após uma intervenção mal executada em uma obra de saneamento, que cortou a estrutura para manutenção da rede e não compactou o solo corretamente.
“A ponte tá rachando dos dois lados e afundando. Já chamei engenheiros da prefeitura, que prometeram vir e não vieram. Se ela cair, a gente fica praticamente isolado”, alertou.
Landmark afirmou que vai protocolar requerimentos e ofícios para cobrar respostas tanto da Prefeitura quanto da concessionária, exigindo laudo técnico da estrutura e um plano emergencial de reparo.
O vereador reforçou que o mandato continuará presente nas comunidades, ouvindo e fiscalizando. “Nosso mandato é popular, participativo e de fiscalização. Vamos transformar cada fala de hoje em ofício, requerimento e proposta no orçamento. A praça não pode virar símbolo de obra eleitoreira que deixa prejuízo para o povo. O dinheiro público tem que servir à população, não a interesses de campanha.”
A reunião fez parte da série de encontros do Orçamento Participativo, que seguirá nas próximas semanas em outras regiões da Capital. Todas as demandas registradas serão sistematizadas e apresentadas como propostas e emendas ao PPA e à LOA, garantindo que as prioridades da periferia estejam dentro do orçamento de Campo Grande.
Texto: Renan Nucci
Foto: Pedro Roque