No Dia Mundial do Meio Ambiente, uma importante vitória foi conquistada para a conservação ambiental no norte de Mato Grosso do Sul. A cachoeira Água Branca, um dos maiores atrativos naturais da região, agora conta com proteção permanente, graças à criação oficial da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Água Branca.
A portaria nº 2081, assinada no último dia 2 de junho pelo presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires, garante a preservação perpétua de 29,26 hectares da área onde está localizada a cachoeira. Isso significa que, mesmo que a propriedade mude de dono, a proteção ambiental continuará válida.
A medida encerra uma longa luta contra a ameaça de instalação de uma usina hidrelétrica, que poderia reduzir em até 80% o fluxo da queda d’água. A nova RPPN assegura a integridade ecológica da cachoeira e abre caminhos para o turismo sustentável e o desenvolvimento econômico local.
Um sonho realizado
Nelson Mira Martins, proprietário da área, comemora a segurança jurídica para investir em um antigo sonho: a construção de uma pousada ecológica. “Quando comprei a terra já pensava em fazer turismo, mas aí veio essa história da represa. Como investir com esse risco? Foram dez anos de luta”, afirma.
Com o apoio da organização ambiental Ecoa e a mobilização de moradores, Ministério Público Estadual (MPMS) e especialistas, o projeto da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) foi suspenso em 2024. Ainda assim, a criação da RPPN foi considerada essencial para garantir a proteção definitiva da cachoeira.
Importância ecológica e estratégica
Com mais de 80 metros de queda livre, a cachoeira Água Branca é a segunda maior de Mato Grosso do Sul e integra a sub-bacia Piquiri-Correntes, na Serra de Maracaju. A área faz parte do Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari e é um refúgio vital para aves migratórias e espécies nativas.
Segundo Laércio Machado, consultor da Ecoa, a localização da reserva é estratégica. “Ela está no fim de um sistema hídrico que nasce num platô degradado por monoculturas. A RPPN ajuda a proteger o que resta desse ecossistema antes de desaguar no Pantanal”, explica.
Potencial turístico e novos investimentos
Com vegetação típica de Mata Atlântica interiorana, paredões ideais para rapel, cavernas inexploradas e trilhas, a região possui forte apelo turístico. A formalização da RPPN permite buscar parcerias e financiamentos para o ecoturismo, além de garantir repasses de ICMS Ecológico ao município de Pedro Gomes.
“Esse lugar é único. Tem muita coisa para ser explorada de forma consciente, com respeito à natureza. Agora podemos avançar com o plano de manejo e abrir as portas para visitantes, pesquisadores e estudantes”, afirma Seu Nelson.
Linha do tempo da mobilização
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1986 – Seu Nelson começa a comprar lotes na região.
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1991 – Expande a propriedade até a área da cachoeira Água Branca.
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Anos 2000 – Projeto de PCH ameaça destruir a cachoeira. Nelson recusa propostas e inicia batalha judicial.
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2019–2024 – Mobilização cresce com apoio da sociedade civil, MPMS e campanhas públicas.
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Maio de 2024 – Projeto da usina é suspenso pelo Imasul e em nível federal.
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Junho de 2025 – Criação oficial da RPPN Água Branca com assinatura da portaria do ICMBio.
Próximos passos
Agora, o foco será a elaboração do plano de manejo da RPPN, que irá definir diretrizes para conservação e uso sustentável da área. Entre as possibilidades:
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Estruturar trilhas e pontos de observação da natureza;
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Firmar parcerias com Sebrae e Secretaria de Turismo de Pedro Gomes;
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Desenvolver infraestrutura de visitação (energia, internet, sinalização);
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Buscar apoio financeiro de fundos como o FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste).
A criação da RPPN Água Branca faz parte do projeto “Defense of the Pantanal and its Waters”, realizado pela Ecoa com apoio da Pew Charitable Trusts.
Fonte: Maikon Leal