Drive Thru da Reciclagem é vitrine de iniciativas que mostram como a economia circular vai além do ambiente, criando um ciclo de oportunidades e fortalecimento
Os três dias do 14º Drive Thru da Reciclagem, que aconteceu de 20 a 22 de março, em Campo Grande, trouxeram uma amostra do impacto produzido pela prática e aprendizado constantes de reduzir, reutilizar e reciclar. O evento coordenado pela Du Bem Negócios Sustentáveis, tendo a Agência Estadual de Regulação (AGEMS) como um dos principais parceiros é uma vitrine de sustentabilidade não apenas ambiental, mas na vida de muitas mulheres que encontram no reaproveitamento de materiais uma forma de transformação pessoal e profissional.
Quando criança, Cintia Moreira da Silva não tinha recursos para comprar materiais e fazer os brinquedos que queria. Guardava caroço de manga para fazer bonecas, que ela vestia com roupas feitas de papel. Mais tarde, contou com a ajuda da avó, costureira. Há quatro anos se profissionalizou e resolveu investir definitivamente no artesanato. Mais que um trabalho, a aposta tem gerado oportunidades de fazer a diferença e se orgulhar.
Fui professora em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, auxiliei ONGs, e fiz muitas bonequinhas para levar para crianças indígenas”, ela conta. “Em Campo Grande participei de projetos que ensinava outras mulheres a fazer artesanato, e cheguei a ‘levar as aulas para dentro de casa’ quando o projeto acabou.
Do investimento pessoal em materiais para produzir as peças, ela hoje conta também com doações de roupas descartadas e de embalagens como garrafinhas de água mineral e de amaciantes, que usa para dar vida às bonecas. E no projeto Escola de Mães Luz, Cintia é quem doa seu tempo e conhecimento para o ensino e acolhimento de mulheres mães.
Eu acredito que o nosso trabalho é um exemplo de que a reciclagem é muito importante. A reciclagem não é futuro, é presente.
Orgulho e paixão pelo artesanato também é o que move Jane Clara Arguello. Designer, pós-graduada em Artesanato Regional, com formação em Artes Visuais e MBA em Gestão Pública e Gestão de Cidades, ela produz uma diversidade de peças com diferentes matérias-primas e compartilha o amor pelo ofício e as possibilidades do artesanato com outras mulheres.
No CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), nas incubadoras municipais de empreendedorismo, na Casa da Mulher Brasileira estão as potenciais alunas, mulheres em diferentes situações de vulnerabilidade social que são o principal público dos cursos.
Muitas delas estão sem esperança, começam a fazer um trabalho e então passam a ter gosto pela vida de novo, conta Jane, entusiasmada.
Resíduo de marcenaria que se tornam vasos e tigelas decorativos e funcionais, cerâmica que ganha ‘vida’ na representação de mulheres quilombolas, retalhos delicadamente costurados criando formas colorida em panos de copa orgulham a artesã.
As mulheres que nós ensinamos estão tendo coragem de recomeçar uma nova vida, com empreendimento, criando o sustento delas mesmas, sem precisar dos outros.
Se as artesãs encontraram no reuso de resíduos e peças descartadas a matéria prima para fazer arte, Leila Tinti tem na mesa a receita da valorização dos alimentos, combatendo o desperdício. Na fabricação de geleias regionais, mesmo o que não vira doce também é aproveitado.
O sabor típico da guavira transformada em compota também chega ao sal especial temperado produzido com o aproveitamento da casca da fruta. O mesmo acontece com o chutney de cebola – que ainda leva alho e pimenta dedo de moça – e com o limão, que tem o suco utilizado em grande quantidade em praticamente todas as geleias e do qual se aproveita as cascas na saborização de sal especial para tempero.
A produção que começou como “plano B”, executado noites a fio, se tornou “plano A” quando veio a pandemia e problemas familiares que a fizeram ter que deixar o “emprego CLT”.
É muito bom mexer com alimento assim e mostrar como tudo pode ser aproveitado, conta ela, agora oficialmente uma microempreendedora individual, orgulha da marca De Colher em Colher.
Para o diretor-presidente da AGEMS, Carlos Alberto de Assis, O Drive Thru da Reciclagem é demonstrou claramente como a sustentabilidade pode gerar mais do que benefícios para o planeta; ela é capaz de transformar vidas.
Estamos vivendo tempos desafiadores, onde o cuidado com o meio ambiente e a inclusão social caminham lado a lado. Cada peça reciclada, cada arte feita com amor e criatividade, é um símbolo de resiliência e de mudança. Na AGEMS, temos orgulho de ser parte de iniciativas como essa, que fortalecem a sociedade e impulsionam a consciência ambiental de forma inclusiva e prática.