Na tarde deste sábado, vivenciamos um episódio que lamentavelmente precisa ser registrado. Durante a cobertura do jogo que terminou empatado, o repórter da Rádio EsporteMS, Lucas Mendonça, ao exercer seu papel profissional e questionar aspectos técnicos da partida, foi tratado de forma desrespeitosa pelo treinador Raphael Pereira.
O tom e a postura adotados pelo treinador destoaram da civilidade que deve pautar qualquer relação entre imprensa e agentes esportivos. A crítica feita pelo repórter – como todas as realizadas ao longo destes 23 anos de história do nosso site, da Rádio EsporteMS e do nosso canal no YouTube – foi embasada, respeitosa e sempre com o intuito de contribuir com o desenvolvimento do futebol local.
Ao longo dessas mais de duas décadas, nossa postura sempre foi clara: apoiar o futebol do Mato Grosso do Sul em todos os seus níveis, dar visibilidade aos clubes, jogadores e comissões técnicas, mas também exercer com responsabilidade o papel crítico que cabe à imprensa séria. Quando há elogios, eles são justos. Quando há críticas, são pontuais, fundamentadas e jamais pessoais.
O que presenciamos neste sábado, infelizmente, retrata uma tendência crescente: o afastamento entre os profissionais do futebol e a imprensa. Algo que, nos grandes centros, pode até ser compreensível pela dimensão e exposição constantes. Mas em Mato Grosso do Sul, que amarga a penúltima colocação no ranking nacional, esse distanciamento só enfraquece ainda mais um futebol já carente de atenção, de estrutura e, sobretudo, de público.
Treinadores e dirigentes precisam entender que, ao fecharem portas e rechaçarem questionamentos, não prejudicam a imprensa – prejudicam a si mesmos e ao torcedor. É esse torcedor que, cada vez mais alheio aos bastidores e às histórias de seu clube, se distancia dos estádios, não por falta de paixão, mas por falta de informação, de engajamento, de conexão.
E se a grande mídia estadual já virou as costas para o nosso futebol, cabe a nós, veículos alternativos, manter viva essa chama. Mas para isso, é preciso respeito mútuo. Respeito pelo trabalho de quem, mesmo diante de limitações técnicas e financeiras, assim como vive os clubes sul-mato-grossense, se dedica a divulgar, informar, questionar e valorizar o que é da nossa terra. E olha que os clubes, dirigentes e a própria entidade organizadora ainda tem um aporte financeiro de órgãos públicos para se manterem, diferentemente de nós que somos ignorados e que recebemos apenas os famosos “tapinhas nas costas”. Quando oferecemos esse produto futebol, a resposta é sempre a mesma “existe futebol aqui”.
Esperamos que o episódio deste sábado sirva de reflexão. Que o treinador Raphael Pereira – a quem respeitamos enquanto profissional – possa, num momento oportuno, rever sua postura e compreender que a imprensa não é inimiga. Ao contrário: é aliada. E que todos nós, juntos, possamos continuar lutando por um futebol mais forte, mais respeitado e mais próximo de seu torcedor.
Cláudio Severo
Editor de Jornalismo