Cantora que pôs o Brasil em luto inesperado ao sair de cena aos 77 anos de idade, vítima de um infarto do miocárdio em novembro de 2022, Gal Costa (1945-2022) vivia auge artístico e de renovação do público ao subir ao palco do Memorial da América Latina, em São Paulo, para compor a programação do segundo dia do Coala Festival.
À época, a artista rodava o Brasil com o show As Várias Pontas de uma Estrela, cujo roteiro buscava intersecções entre a história da cantora e a obra do compositor Milton Nascimento, de quem gravou clássicos como Paula e Bebeto (Milton Nascimento/ Caetano Veloso, 1975), Solar (Milton Nascimento/ Fernando Brant, 1982) e Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos, 1974).
Intitulado Gal Costa Ao Vivo no Coala, o álbum chegará às plataformas digitais em 26 de setembro, dia em que a cantora celebraria 80 anos de vida, e contará com uma edição física, em vinil duplo.
O fato é que embora conte com as participações dos cantores Rubel e Tim Bernardes, Gal Costa Ao Vivo no Coala tem efetivamente um teor de novidade muito baixo, uma vez que o registro do show já está disponível na íntegra no YouTube desde 2022.
Há com certeza outras produções que mereceriam ver a luz do dia e que, por hora, seguem engavetadas. A principal é o registro do show Gal Costa Canta Lupicínio Rodrigues, em que sob a direção artística de Marcus Preto e a direção musical de Pupillo, a cantora injetou fôlego novo no repertório do compositor gaúcho, autor de clássicos como Nervos de Aço (1947), Vingança (1951) e Se Acaso Você Chegasse (Lupicínio Rodrigues/ Felisberto Martins, 1938).
Outro registro que segue sem previsão de deixar o baú da cantora é o do (excelente) show Espelho D’Água, em que acompanhada pelo violão e pela guitarra de Guilherme Monteiro, Gal pescou algumas pérolas esquecidas em seu repertório, como Caras e Bocas (Caetano Veloso e Maria Bethânia, 1977), Passarinho (Tuzé de Abreu, 1973) e Tuareg (Jorge Ben Jor, 1969), apresentadas num espetáculo que nasceu com status de entressafra, mas conquistou seu lugar de destaque entre os fãs da artista.
A edição de Gal Costa Ao Vivo no Coala, por outro lado, explicita um primeiro passo no processo de exploração dos arquivos da intérprete, após batalha judicial que colocou em lados opostos a empresária Wilma Petrillo e o filho da cantora, Gabriel Costa, barrando assim qualquer tipo de investida sobre seu espólio artístico. O lançamento chega às lojas com o selo da gravadora Biscoito Fino.