Episódio 21 – Términos Inacabados
Manuscrito Voynich
Ter-se apropriado do diário perdido de Machado de Assis assim lhe pareceu justificado por muitos motivos. E passou a enumerá-los mentalmente:
“Ela precisava do diário. Ela sabia que aquilo provaria sua tese. Em suas mãos, doa a quem doer, ele ficaria seguro. Se a honra do Machado estava em jogo ela não sabia, mas para ela seguia a filosofia do seu pai: era mais importante sentir-se feliz do que estar certa. Pensou nos vários achados históricos que poderiam mudar o curso do entendimento humano sobre algum assunto.
“Por um momento juntou-se mentalmente aqueles que resolveram problemas insolúveis e encarnou Grigory Perelmann o russo que resolveu a conjectura de Poincaré, e, por fim, a pessoa que finalmente decifraria o manuscrito Voynich.
Chegaram então até um portão de vidro e Ficci desbloqueou o cadeado gigante que bloqueava a saída.
Ele saiu primeiro carregando os dois baús. Ela saiu em seguida.
Alcançaram um pátio que parecia a saída lateral da casa. Ela viu um carro recoberto por uma lona, ele a descerrou, o veículo era um modelo muito antigo que ela reconheceu de um de seus filmes favoritos, mas não lembrava do nome.
Ficci colocou os baús no velho porta-malas e jogou a chave para ela:
Ele abriu o portão de correr.
‘Você sabe guiar?’
‘Sei, mas faz tempo, hoje uso mais a moto’
‘Corra, pode bancar o piloto’
Afanes cansou de espancar a porta.
Sentou-se na calçada especulando se eles estavam lá dentro. Sem poder admitir para si mesmo ele ficou aliviado de ninguém ter contestado a destruição da entrada. A porta que já era frágil ficou desfigurada, mas aguentou firme.
Foi quando Afanes notou o carro saindo pela rua lateral em alta velocidade.
Houve desespero, ele sabia que algo crítico e trágico poderia acontecer.
Num primeiro momento era como se vivesse num filme. Ele gritou.
‘Sou eu, parem!’
Inútil, o carro se afastava rapidamente.
Afanes tentou parar um velho Fiat que vinha lentamente pela rua e pediu ajuda. Foi quase atropelado. Mas o motorista que observava a cena — um segundo carro, um destes japoneses importados – aproximou-se e abaixou o vidro:
— Algum problema amigo?
— Um problemão, minha amiga! Afanes sentia a falta de ar instalar-se. Sua velha bronquite suprimida desde a infância por um tratamento alternativo voltava a se manifestar.
Mesmo assim, com um chiado fino conseguiu falar:
— Acabei de sair daqui agora, acho que ele (suspira) a sequestrou.
— Quem sequestrou?
Posso explicar no caminho. Afanes mal se aguentava em pé, estava apoiado sobre o joelho. Você pode seguir aquele carro ali? E apontou para o Plymouth Valiant preto, já bem distante no asfalto de uma avenida.
‘Aquela velharia? Ok. Sobe aí’
Continua
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