S

ioduhi , do povo Piratapuya, do Alto Rio Negro, no Amazonas, fez sua estreia na edição 55ª da Casa de Criadores , com sua marca Sioduhi Studio , nesta quinta-feira (5), que aconteceu no Vale do Anhangabaú, no centro da cidade de São Paulo. Com a coleção ‘ Kahtiridá: Fio da vida ‘, o estilista celebra o potencial criativo do Norte brasileiro e dos povos originários, fazendo uma conexão com o passado, o presente e o futuro.

Ao utilizar materiais biodegradáveis, o tingimento natural a base de resíduo da casca de mandioca, que fortalece o sistema agrícola tradicional do Rio Negro, e a fibra do tucum, que aparece em peças feitas no tear por sua tia, o designer coloca em pauta o fio da vida que continua através de tecnologias originárias mesmo diante das brutais mudanças do mundo. “Falar do fio da vida é falar desse lugar de resistência, da continuidade, da coletividade e de compreender que a indústria da moda precisa tomar ciência de que ela não acontece sem as pessoas de toda a cadeia “, afirma Sioduhi em entrevista à CAPRICHO .

Ele ainda aborda o futurismo indígena , expressão cunhada pela pesquisadora americana Grace Dillon, que faz parte da identidade da marca. “É um pensar que fala sobre o passado, o presente e o futuro aconteceram simultaneamente. Não existe deixar o passado só no passado e não existe vivenciar o presente sem pensar no que vai acontecer no futuro. A partir do momento em que estamos vivenciando em uma área pós-apocalíptica, em que a colonização já tirou muito da gente, a língua, a cultura, as tecnologias, [pensar] como a gente vai começar a recompor e contar as nossas próprias histórias. Futurismo indígena é nesse lugar de como vamos criar esse estímulo e dizer que estamos vivos e vamos continuar valorizando o povo que sobrou da devastação do processo de colonização .”

As peças foram cocriadas com uma estilista convidada, Thais Desjardins , formanda em Design de Moda pela Faculdade de Santa Teresa, em Manaus, com o intuito de promover o pensar coletivo para fortalecer a moda autoral amazonense. “Esse projeto fala da ancestralidade, do momento em que estamos passando e como a gente vai cocriar para mostrar a nossa potência enquanto pessoas nortistas após a colonização, que deixou tantos apagamentos e apropriações”, explica Sioduhi.

Thais, por sua vez, deixa um conselho para a juventude nortista que deseja pavimentar seu caminho na moda. “A melhor forma de você criar é você ser muito ciente da sua história, da sua cultura e do que você quer mostrar. Pra mim, a moda vem junto com um sentimento interno de que a nossa cultura e os nossos costumes, que por muito tempo não foram mostrados ao mundo, sejam vistos.”

“Os estudantes de moda do Amazonas precisam tomar consciência de que as tecnologias originárias estão vivas e seus descendentes, sejam ribeirinhos, estrativistas, quilombolas, coexistiram e têm histórias para contar e tecnologias para serem mantidas de geração para geração. A nossa juventude do Norte e a nível nacional precisa se questionar disso e olhar para os nossos signos que são originalmente muito autênticos”, completa Sioduhi.

O desfile, que foi encerrado com a participação de Isabelle Nogueira , influenciadora amazonense, ex-BBB e atual cunhã-poranga do Boi Garantido do Festival Folclórico de Parintins, teve alguns problemas técnicos com o som, afetado pela forte chuva que caía no momento. No entanto, esse pequeno impasse não diminuiu e nem ocultou a história tão potente que a marca conta por meio da moda, denunciando a emergência climática e a invisibilidade do Norte pela sociedade e pela mídia.