Morreu nesta sexta-feira (5) o cineasta Silvio Tendler, aos 75 anos, vítima de uma infecção generalizada. Ele estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. A confirmação foi feita por sua filha, Ana Rosa Tendler. Nos últimos dez anos, o diretor enfrentava complicações decorrentes de neuropatia diabética, doença que afeta o sistema nervoso.
Reconhecido como um dos maiores documentaristas do país, Tendler ganhou notoriedade por retratar figuras e episódios históricos da política brasileira. Entre suas obras mais conhecidas estão “Jango” (1984), “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980) e “Tancredo, A Travessia” (2011), que juntos formam sua aclamada “Trilogia Presidencial”.
O filme sobre João Goulart permanece até hoje como um dos documentários mais assistidos do cinema nacional, com cerca de 1 milhão de espectadores. Outros sucessos de Tendler incluem “O Mundo Mágico dos Trapalhões” (1981), com 1,3 milhão de espectadores, e “Os Anos JK”, que atingiu 800 mil.
Entre seus trabalhos mais ambiciosos está “Utopia e Barbárie”, projeto que levou duas décadas para ser concluído e revisita a segunda metade do século 20 com relatos de personalidades como Augusto Boal, Eduardo Galeano e Susan Sontag.
Nascido no Rio de Janeiro em 1950, Tendler iniciou sua trajetória no cinema nos anos 1960, liderando a Federação de Cineclubes do Rio. Durante a ditadura militar, exilou-se no Chile e depois na França, onde estudou História na Universidade de Paris VII e concluiu mestrado em Cinema e História na Sorbonne.
Ao retornar ao Brasil, passou a lecionar na PUC-Rio e fundou, em 1976, a produtora Caliban, responsável por mais de 80 títulos que consolidaram sua influência no cinema documental brasileiro.
Além da carreira artística, Tendler atuou na esfera pública. Em 1990, integrou a secretaria de Cultura e Esportes do Distrito Federal e colaborou com a Unesco em projetos de fomento ao audiovisual no Mercosul. Ao longo da vida, foi agraciado com mais de 60 prêmios, incluindo a Ordem Rio Branco, concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, e a Ordem do Mérito Cultural, recebida em maio de 2025.
Sua trajetória também foi marcada por desafios pessoais. Em 2011, enfrentou uma grave condição que o deixou tetraplégico temporariamente, mas, após cirurgia e longa reabilitação, retomou as atividades cinematográficas, participando de eventos, festivais e lançando filmes até 2024, como “Saúde Tem Cura” (2021), que aborda o Sistema Único de Saúde.
Tendler deixa um legado sólido, não apenas pelo volume e qualidade de sua produção, mas pelo engajamento político e pela defesa da memória histórica. Conhecido como o “cineasta dos sonhos interrompidos”, sua obra mantém viva a história de personalidades e movimentos que ajudaram a moldar o Brasil contemporâneo.