Ilze Scamparini, que atua na cobertura do funeral do Papa Francisco neste sábado (26), na Globo, relembrou um momento delicado que vivenciou ao lado do líder religioso. A jornalista comentou a pergunta que fez ao pontífice sobre a causa LGBT, pontuando que ele teria ficado “nervoso” e “embaraçado”, segundo a percepção dela.
“Era um domingo, e entrei no avião com uma intuição. Me coloquei numa espécie de fila para fazer minha pergunta, levantando minha mão. Dois jornalistas brasileiros cederam os lugares deles para mim. Fiquei bastante tempo com o braço levantado. Alguns jornalistas fizeram perguntas, até que o porta-voz do Vaticano encerrou a entrevista, deixando meu braço levantado sem resposta”, lembrou.
“Mas o papa não me ignorou, olhou para mim e pediu ao porta-voz para deixar que eu falasse. Num gesto, me chamou. Eu fui lá na frente, onde ele estava, e peguei o microfone. Antes de perguntar, pedi licença ao papa para tocar num assunto delicado. Ele consentiu com a cabeça, bem sério. Na hora, Francisco ficou bastante embaraçado, um pouco nervoso. Essa foi a minha impressão. Era a primeira vez que alguém perguntava a um papa sobre gays”, acrescentou.
Em seguida, ela detalhou que o Papa refletiu para dar a declaração que dividiu opiniões entre os fiéis católicos.”Depois, ele foi fazendo sua reflexão, então veio a frase, criando um antes e depois, ‘Quem sou eu para julgar?’. Isso dito por uma igreja que sempre julgou de uma maneira impiedosa”, argumentou.
“Ele me agradeceu, falou ‘obrigado por ter feito essa pergunta’, mas já não sorria. Saí dali sentindo uma emoção muito forte, contrastante. Sentei-me na cadeira do avião, fechei os olhos, e por um instante senti alguém apertando meu braço. Era o padre Lombardi, o porta-voz, que me disse algo como ‘[se sinta] tranquila que o papa gostou da pergunta'”, detalhou.
A correspondente da Globo ainda disse que a repercussão do caso foi rápida e as polêmicas sobre a declaração do pontífice são presentes em debates até hoje. “Oito ou nove horas depois, a gente pousou em Ciampino, em Roma. A confusão estava armada e começou então um debate na igreja que até hoje não terminou”, finalizou.