Uma das descobertas mais fascinantes sobre os grandes autores é perceber suas vulnerabilidades, preocupações e o lado humano que nos aproxima deles. Isso inclui as inquietações do cotidiano e os desejos por uma vida diferente. Com a chegada de um novo ano, essas reflexões se tornam ainda mais evidentes, enquanto buscamos organizar mudanças e abandonar hábitos antigos. É nesse contexto que surgem as resoluções, nem sempre seguidas à risca, mas fundamentais por oferecerem novas perspectivas. Entre as resoluções mais comoventes estão aquelas registradas nos diários de Virginia Woolf. Em dois momentos do livro publicado, ela compartilha seus planos para o ano que se inicia. O que surpreende e cativa é justamente a simplicidade dessas metas. Confira abaixo:
[2 de janeiro de 1931]
A maré virou. Os dias se alongam. Hoje foi um dia bom do começo ao fim – nosso primeiro desde que viemos, eu acho. E pela primeira vez fiz minha caminhada até Northease e vi a lua nascer às 15h, pálida, bem fina, em um céu puramente azul sobre vastos campos enevoados e planos, como se fosse o começo de uma manhã de junho.
Eis as minhas resoluções para os próximos três meses; a próxima volta do ano.
A primeira é não ter nenhuma. Não estar presa.
A segunda é ser livre e gentil comigo mesma, sem instigar terceiros: me sentar, de preferência sozinha, para ler no estúdio.
Fazer um bom trabalho com As ondas .
Não me importar em ganhar dinheiro.
Quanto a Nelly, não me irritar pela certeza de que nada vale a irritação: se eu ficar irritada, ela deve ir embora. E então, dessa vez, não ser levada pela facilidade de deixá-la ficar.
E então – bom, a primeira resolução é a mais importante – não ter resoluções. Às vezes ler, às vezes não ler. Sair de casa, sim, mas ficar em casamesmo sendo convidada a sair. Quanto a roupas, penso em comprar algumas de qualidade.
[ Os diários de Virginia Woolf , Editora Rocco]
Já o trecho abaixo não está presente no livro publicado pela editora Rocco, que inclui apenas a entrada do dia 3 de janeiro de 1936, seguindo diretamente para os meses posteriores.
[4 de janeiro de 1936]
Ler o menor número possível de jornais semanais [até terminar Os Anos]; encher minha mente com livros e hábitos distantes; ser totalmente fundamental e o mínimo superficial possível, ser física e o mínimo apreensiva possível.
[Tradução direta de The Diary of Virginia Woolf Volume 5, a Harvest Book ]