O caso Richthofen ganha um novo capítulo na ficção em “A Menina que Matou os Pais – A Confissão”, filme que chegou ao Prime Video nesta sexta-feira (27). O longa traz de volta Carla Diaz como Suzane von Richthofen
e Leonardo Bittencourt e Allan Souza Lima como os irmãos Cravinhos, além de adicionar Bárbara Colen no elenco como a delegada responsável pela investigação do crime brutal.
Diferentemente de “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais”, o novo projeto é descrito pelo roteirista Raphael Montes como um thriller policial e repercute os acontecimentos dos oito dias após o assassinato de Manfred Albert e Marísia von Richthofen, em 2002. Em uma atmosfera mais tensa que os filmes de 2021, o público acompanha a investigação que levou à prisão do trio e repassa a tensão principalmente nas cenas dos interrogatórios.
Maurício Eça, diretor dos longas, conta ao iG Gente que os atores que dão vida aos investigados reproduziram falas ditas pelos criminosos às autoridades. “Tudo que os atores falam para polícia, eles [criminosos] de fato falaram. Nesse filme tivemos muita liberdade para ficcionar de uma maneira diferente a narrativa […] Tínhamos as diretrizes do que foi dito. Mas sempre há uma pequena liberdade para trazer o improviso. Porque eram cenas muito tensas, muito fortes de filmar”, afirma.
“[Nas cenas da confissão], tentei recriar um pouco de como foi para eles [criminosos]. A coisa de ficar ali um dia dando depoimento paralelamente, eles viraram a noite. Então tentamos criar um pouco desse desconforto para os atores. As cenas do Alan tiveram um pouco disso, de não deixar ele tão confortável”, completa. O intérprete de Cristian Cravinhos expõe os bastidores das gravações e relata como esse “foi um dos dias mais difíceis no set”.
“Começamos às 7h e terminamos às 17h. Foi uma pancada dessas cenas [tensas] do início ao fim. Óbvio que tinha a matemática de como queria conduzir elas, mas isso acabou caindo por terra, porque acabei entrando em um gatilho emocional. Teve uma hora que eu não tinha mais o que dar assim”, pondera. O ator cita o apoio da preparadora de elenco Larissa Bracher no trabalho, que descreve como um dos mais intensos da carreira.
“Em vários momentos, quando eu perdia a conexão, eu olhava para Larissa, ela começava a chorar, eu chorava junto e entrava [em cena] de novo. Isso foi do início ao fim. Óbvio, no final do trabalho foi uma catarse, um cansaço absurdo. Principalmente com a Bárbara, teve muita improvisação. Teve uma hora que o Maurício falou assim: ‘Vai, só vai’. Acho que ali vivi um dos momentos de estado presente mais forte de set de filmagem que já fiz”, destaca.
Bárbara ainda comenta como uma das cenas improvisadas, com uma reação real do ator, acabou entrando na edição final do filme. “Foi lindo. Quando você fala ‘eu tô cansado’ e ficou no filme. Ele estava realmente exausto. Foi um cansaço que ficou no filme, que lindeza”, compartilha. “Foi uma troca muito linda, eu, você e Arthur [Kohl, que também integra a cena]. Foi um encontro maravilhoso, uma tríade muito forte ali no jogo cênico da cena final, do interrogatório até o momento que ele fala ‘fui eu’”, completa Allan, sobre o momento da confissão.
A atriz também exalta a “improvisação” com os outros colegas que viveram os profissionais da polícia na investigação, mas a roteirista Ilana Casoy ressalta que nenhuma cena “fugiu muito” da realidade do caso. A criminóloga tem uma ampla pesquisa sobre o caso Richthofen e é autora de “Casos de Família: Arquivos Richthofen”, livro no qual o novo filme da franquia se baseou junto aos autos do processo.
A escritora se vê como uma “peça esquisita” nos bastidores do filme, levando em conta o conhecimento que apresenta com a história real e a possibilidade de ver atores dando vida ao caso. Um momento que marcou Ilana no set foi ver Adriano Bolshi interpretando o perito Salada, enquanto Ricardo Salada, perito que realmente participou da investigação dos assassinatos, acompanhou as gravações no set.
Bárbara explica que precisou se aprofundar no caso para interpretar a delegada e a presença do perito a auxiliou nesse processo. “Conseguimos conversar com o perito, que acompanhou [o caso] e estava nas filmagens, e foi muito bom. São coisas de detalhes que eles trazem por ter vivenciado a situação. É muito forte quando você ouve os relatos de quem realmente esteve, aí isso te dá uma dimensão maior também do que está acontecendo. E também de que não é só ficcional, que aquela história realmente aconteceu, dá um peso do que estamos fazendo”, propõe.
Casoy confessa que a visão dela sobre o caso mudou ao longo das pesquisas do crime e escrita dos três filmes, mas ter Raphael como parceiro do roteiro foi algo que a auxiliou a criar um projeto ficcional. “É algo que ele conversou muito comigo, de desamarrar do que é muito real também, porque senão fica uma coisa impossível”, reflete.
“Os três atores são tão bons, que isso foi muito incrível para mim, que nenhum deles se distanciou do que é realmente a personalidade dos assassinos. Eles conseguiram pegar essa vibração, ter um entendimento de como a cabeça da personagem funciona. Nenhum deles ultrapassou drasticamente o que aconteceu, então achei que para mim foi muito reconfortante. Não estranhei, eu aceitei, era isso mesmo, era tudo muito pertinente e muito bem construído”, complementa.
Raphael ainda defende que tornar o filme um thriller investigativo é o que justifica a realização de um terceiro longa que se distancia dos primeiros, que trazem versões diferentes sobre as motivações do crime. O escritor se diz um grande conhecedor da dramaturgia, enquanto Ilana é a grande conhecedora do caso. Essa equação permitiu que eles balanceassem a ficção e o respeito à realidade no roteiro.
“Não conhecia [certos profissionais envolvidos no caso] e alguns são amigos da Ilana, pessoas com quem ela conviveu e conhece. Então às vezes eu escrevia uma coisa e ela falava: ‘Mas ele não falaria assim’. Tem esse encontro de eu [defendendo] o que eu preciso que o personagem diga e ela que conhece essa pessoa na vida real e fala: ‘Vamos achar como é que ele diz isso sem dizer desse jeito’. Então esse jogo foi muito interessante assim ao longo de todo o processo do trabalho”, afirma o roteirista.
“Acho que nos momentos ícones, como no enterro, a última foto [do trio preso], era importante ter isso [a realidade]”, adiciona Casoy. “A Confissão” recria perfeitamente imagens do caso que entraram no imaginário do brasileiro, como Suzane chorando no enterro e os criminosos detidos pela polícia após confessarem. Maurício destaca que houve uma preocupação especial para recriar os figurinos, objetos e gestuais dos assassinos em tais momentos.
“Foi intencional da produção reproduzir essas cenas que foram marcantes e divulgadas tanto pela imprensa na época, e até hoje são divulgadas e faladas. De fato, essa reprodução foi orientada milimetricamente, então, cada ação nossa foi dirigida justamente para isso”, relata Carla Diaz.
“Com a criação emocional dos personagens reais, de uma certa forma podemos ter uma licença poética. Nunca vamos saber como é a relação da família […] Mas em momentos quando tem um imaginário muito certeiro do público, esse lugar temos que estudar milimetricamente”, complementa Allan.
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