Episódio 37 – Colido ou Escapo?
Ingmar ainda está sentado no Antonio’s esperando Afanes voltar. Esfrega insistemente a perna e o pescoço que continuavam doloridos. Ele não entende como pode ter levado aquele golpe e não ter reagido. Nunca havia perdido uma luta. Nunca havia refluído de um conflito. Já esteve às voltas com criminosos perigosos e gangues violentas. Estava sendo dificil ter sido colocado a pique por um filósofo que praticava Krav-Maga.
Ao mesmo tempo reconheceu que subestimou o timing com que Afanes agiu e sabia que, de alguma forma havia salvo aquelas pessoas de um destino violento.
Salo continua a sua obstinada procura por vestígios nos vãos das mesas enquanto espiona Afanes arremessar objetos em sua banca. A metáfora que obceda as pessoas não tem nada de racional. Elas buscam o que os seus inconscientes assopram e poucas se tornam conscientes desta busca.
Ingmar chama Salo com um irritante sinal de estalar dois dedos
‘Nosso amigo não vai voltar, não? Já estou aqui faz uma hora e nada? Onde é que ele se meteu?’
‘Doutor, é que as vezes Afanes é meio estabanado. Sabes que ele é também filósofo?’
‘Amigo…teu nome é Salo, não?’
‘Salobral. Mas Salo está bem. Pois não? O amigo quer um chopp, empanado, alguma coisa para beliscar?’
‘Quero falar com o teu amigo, cadê ele caramba?’
E Ingmar agitava-se na cadeira como se estivesse com a síndrome das pernas inquietas’
‘Creio que ele está na Banca, posso ir falar com ele que o Sr está aflito.’
‘Eu mesmo vou até lá. Onde é que é?’
“Posso ir chamá-lo, não custa nada’ Salo expressa preocupação no rosto e a preocupação denota um indício de culpa.
Ingmar olha para o rosto de Salo com desprezo interrogativo e fala com a agressividade daqueles que sabem como travar o maxilar:
‘Senta aí, vamos bater um papo’
‘Não posso, tenho que atender o pessoal’ Salo, tremulo, aponta para as mesas’
Ingmar Berthold olha em volta, o Bar está quase vazio. E então coloca sua arma em cima da mesa.
‘Estou falando, senta aí pô, caramba’
Em momentos decisivos as ações precisam ser tomadas acionando o cérebro reptiliano: fuga ou luta. Na máxima criada pelo poeta concretista: colido ou escapo, enfrento ou afino, reajo ou acato.
A adrenalina é a única garantia que o coração e os músculos responderão com eficiência frente a um desafio agudo. Quando o organismo chega ao veredito de qual será o próximo ato e o tempo é o imperador, o tirano do que é conveniente.
Nem sempre.
Salo berrou algo para Afanes (a banca ficava a uns 80 metros do Bar) e saiu correndo.
Continua