Términos Inacabados – Episódio 35
Ficci gemia de dor no ambulatório e quando foi atendido orientou os médicos e enfermeiros sobre o que deveriam fazer em relação ao seus pés. Ele mesmo aplicou uma pomada que carregava no bolso e explicou detalahadamente tudo o que sentia. A lesão afinal não era tão grave como originalmente ele e Jerusa haviam suposto.
‘Até que meus pés são belos’ e riu enquanto observava o sangue seco e a pele dos dedos esfacelada com as unhas do primeiro e segundo dedo arrancadas.
‘Como você ousa fazer piada com essa situação, não sacou ainda Dr.? Nós quase morremos?” Você entendeu o que aconteceu? Jerusa falou indignada e levou à mão a boca.
Ficci a observou com a passividade de quem desconfia, mas prefere conservar a esperança.
‘Parece que não’ Jerusa balançou a cabeça em protesto.
Mais uma vez ela olhou Ficci de perfil e agora ele nem parecia mais tão velho. Ela sentiu uma forte atração física. Era inexplicável, ele não era uma tipo apolíneo, nem alto, nem tinha feições simétricas, seu nariz estava longe de ser um monumento plástico. E no entanto ela queria abraça-lo. Talvez a voz. Sim, ela se convenceu de que era a o tom de voz. Ela então se levantou e houve a reciprocidade que costuma consagrar a decisão de buscar intimidade.
Ficci, por sua vez, enxergou o jeito como ela se movia, o modo como suas pernas desenvolviam os passos, e a forma ágil e inteligente como ela fazia para pesquisar o ambiente através do olhar. Houve uma interseccão relampago de olhares. Ela tentou desviar, mas já era tarde, era uma fronteira que, ultrapassada, já não poderia ser remarcada para as linhas originais.
Ficci notou que o que ela estava imaginando, mas percebemndo o desconforto quis ser gentil e simulou ingenuidade, também desviou o olhar para inspecionar seus dois irreconhecíveis dedos.
A enfermeira chegou e expulsou Jerusa da sala de atendimento. Ficci precisava de uma anestesia.
Já do lado de fora da sala de atendimento Jerusa pensou nos riscos de morte, e na louca obstinação dos fanáticos.
Ele nem desonfiava que a mulher que dirigia o carro que os jogou para fora da estrada estava na recepção dos hospital.
‘Eles estão internados aqui, eu sei’ a moça baixa que tinha uma caracol na cabeça aprisionando o cabelo como um sentenciado à palha chamuscada, falava com ar ameaçador para a atendente:
‘Preciso falar com a minha prima. Ela chama Jerusa Meson, e ela está sendo atendida ai dentro, será só um minutinho’
‘Senhora, não posso fornecer os dados das pessoas. Temos normas de privacidade.”
‘Eu sei querida, mas privacidade não é tão sagrada assim, preciso falar com um deles. Ela abaixou o tom, e fazendo um gesto intimidatório com o dedo cochichou ‘Veja menina, eu só quero saber se ela está com o meu baú.’
Continua