quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Rádio SOUCG

  • ThePlus Audio

O ciclo da dor em Coração de Lutador: The Smashing Machine

Aqueles que assistiram Rocky 4 (1985) , lembram-se perfeitamente; agora, aqueles que desconhecem a obra que, hoje, ultrapassou os limites das salas de cinema, transformando-se em um fenômeno cultural, não devem saber do que estamos falando. Portanto, vamos lá.

No quarto filme da clássica franquia cinematográfica, temos o boxeador americano Rocky Balboa (Sylvester Stallone) indo para um confronto nos ringues contra Ivan Drago (Dolph Lundgren), um boxeador soviético responsável por outra tragédia pessoal na vida de Balboa.

Durante o treinamento de Rocky Balboa para a luta definitiva contra Ivan Drago, observamos uma montagem eletrizante dos tipos de exercícios físicos realizados pelo personagem-título para conseguir a vitória.

Em uma das séries de treino pesado – que pode ter sido uma inspiração para o que, hoje, conhecemos como CrossFit – vemos Rocky treinando sob os olhares de “Duke” (Tony Burton), figura paterna, amigo, treinador e empresário de Apollo Creed (Carl Weathers), que se torna o treinador de Rocky na luta contra Drago. O veterano treinador repete várias vezes para Rocky enquanto ele está no meio de alguma série (bem) pesada – ‘Sem dor! Sem dor! Sem dor!’

Ali, claramente, analisamos a proposta narrativa de um lutador que deve suprimir sua dor física de modo disciplinar, alcançando seus objetivos corporais para uma batalha, aonde lá, e apenas lá, poderá liberar toda a carga emocional do que reside em suas partes internas. De preferência, no queixo de Ivan Drago.

Dito isso, podemos afirmar que Coração de Lutador: The Smashing Machine, de Benny Safdie, estrelando Dwayne Johnson, é como um anti-Rocky.

Mas, não se aventurem em interpretar isso de uma forma negativa. Longe disso.

Foi-se estabelecido um comparativo, pois ambos filmes sobre lutadores que almejam serem os melhores, cada um na sua categoria, seguem caminhos diferentes, tanto espiritualmente quanto em sua filosofia de vida.

Na série de filmes da franquia Rocky , notamos desde o começo, um pobre coitado que não dá uma dentro na vida, assim, quando a oportunidade surge de ser algo mais, como um bom sobrevivente, ele a aproveita. Não especificamente pelo cinturão, mas para provar para si e aqueles que o julgavam que ele pode ser mais do que aquilo que o destino reservava para ele.

E, novamente, como um eterno sobrevivente, toda vez que uma barreira intransponível ou uma perda irreparável surgisse em seu caminho, só existia um jeito para superar aquilo tudo: luvas e ringue.

Enquanto em Coração de Lutador: The Smashing Machine, acompanhamos, literalmente, o que o título brasileiro já entrega, no caso, um lutador que é todo coração, no melhor e no pior.

Se o treinador de Rocky esbraveja o mantra disciplinar “sem dor”, Coração de Lutador: The Smashing Machine é um testemunho sobre Mark Kerr – papel de Dwayne Johnson –, um homem que sobre(vive) pela supressão de uma dor aguda e contínua.

Pode não parecer, mas dá para notar isso pela qualificada performance de Dwayne Johnson. Percebe-se que para o cineasta Benny Safdie, é menos sobre os olhares e mais sobre a opulência física de Mark Kerr.

Ainda na primeira parte da narrativa, temos uma cena aonde podemos acompanhar uma caminhada do protagonista em direção aos vestiários. Safdie fez uma escolha interessante, colocando a câmera nas costas de Mark Kerr, deste modo, não conseguimos visualizar suas reações faciais, tudo o que temos é nuca, ombros e costas.

Aquilo que mais impressionou nesta cena, foi a capacidade de como a câmera (levemente) trepidante de Benny Safdie, conseguiu captar o aspecto explosivo do corpo transformado de Dwayne Johnson. O que na teoria era apenas uma caminhada, torna-se um presságio para o que pode ser uma grande explosão hecatombica.

Benny Safdie e Dwayne Johnson tratam o corpo de Mark Kerr, como um recipiente tampado, ou seja, é um sofrimento que está engarrafado, sem ter para aonde escapar; e o que torna (ainda) mais perigoso é que Kerr possui uma personalidade gentil e calorosa.

Foi pela dicotomia, entre imponência e suavidade, que descobrimos o magnetismo da performance de Dwayne Johnson.

Nada mais natural que pensem, ou até imaginem que, ao final de Coração de Lutador: The Smashing Machine, como espectadores que são, acabem ficando esgotados pela atmosfera carregada de um filme que traduz, essencialmente, o que é viver pela dor. Mas, fiquem tranquilos, uma vez que Benny Safdie compartilha do pensamanto de que todo ciclo tem: um início, meio e fim.

E, de maneira inédita na carreira, provamos um Benny Safdie que, agora, enxerga (um pouco mais de) luz no sofrimento humano.

gente.ig.com.br

Enquete

O que falta para o centro de Campo Grande ter mais movimento?

Últimas