domingo, 5 de janeiro de 2025

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Nosferatu: Comparação com Drácula e suas Origens

Não sei você, mas sempre achei curioso o fato de que Hollywood gosta do dia de Natal para trazer aos cinemas vampiros como Drácula . Em 1992, foi no dia 25 de dezembro que o filme de Francis Ford Coppola entrou em cartaz e em 2024, pelo menos nos Estados Unidos, o mesmo dia do mês marca a volta de Nosferatu . No Brasil, entra em cartaz dia 2 de janeiro. E diante da resposta ao filme de Robert Eggers , que críticos americanos consideram uma experiência cinematográfica , vou me debruçar pela estranha e atemporal obsessão pelo sugador de sangue que faz tanto sucesso nos cinemas.

Nosferatu provocou tanta antecipação justamente porque Eggers é adorado por seu estilo autoral e abordagem psicológica ao medo, portanto quando ele se lançou em refilmar um clássico, céticos e fãs ficaram em alerta. O original, de 1922, faz parte de um a disputa judicia l de direitos autorais complex a , mas que é essencial para entender a “origem” desse vampiro tão diferente da imagem que temos do Conde Drácula, imortalizado nas páginas de Bram Stoker e nos cinemas com atores como Christopher Lee , Bela Lugosi e Gary Oldman .

A icônica cena da versão original de Nosferatu Nosferatu (1922)/reprodução

O “verdadeiro” Drácula

A criação de Drácula por Bram Stoker foi influenciada por uma combinação de mitos, lendas históricas e figuras reais, além de sua própria visão literária. Obviamente, pensamos primeiro na figura histórica d e Vlad III, o Empalador (Vlad Drăculea ) , príncipe da Valáquia, notório por sua crueldade e preferência de e mpala r seus inimigos , o que criou um reinado de terror. Como ele era chamado de Drăculea (filho do dragão) devido ao seu pai, Vlad II , ter sido um membro da Ordem do Dragão, uma sociedade militar cristã , a associação entre brutalidade e o nome Drácula se tornou irresistível.

Com um príncipe sanguinário e nome exótico, Stoker mistur ou muitos aspectos de sua personalidade com outros elementos mitológicos , além d as tradições e mitos populares sobre vampiros, que já existiam em várias culturas ao redor do mundo. Em particular, o conceito de um morto-vivo que retorna para sugar o sangue dos vivos era comum no folclore eslavo e europeu. Stoker leu muito sobre as histórias de vampiros do Leste Europeu, incluindo figuras como o strigoi da Romênia, o nosferatu da Grécia e outros vampiros da região balcânica. Essas histórias deram forma à figura do vampiro que conhecemos hoje, com suas características de imortalidade, sedução e sede de sangue.

Embora não haja provas diretas de que Stoker tenha se baseado em uma única pessoa, algumas especulações sugerem que ele pode ter sido inspirado por suas próprias experiências e pessoas em sua vida, em especial na sua amizade com o famoso ator Henry Irving , que biógrafos consideram ter influenciado o caráter de Drácula, dado que Irving tinha uma personalidade imponente e carismática, além de ser uma grande figura do teatro vitoriano.

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© 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução

Aliás, falando em tempos vitorianos, como o livro foi l ançando nesses anos de ambiente repressivo , Drácula t eve grande impacto entre leitores. Afinal, e ra uma época marcada por uma forte moralidade, mas também por medos de decadência, sexualidade reprimida e a ameaça do “outro” . Drácula, com sua origem estrangeira e suas tendências predatórias, representa esses medos da época. A figura do vampiro estrangeiro (Drácula vindo da Transilvânia) também pode ser vista como um reflexo dos temores vitorianos sobre a imigração e a contaminação de uma sociedade percebida como pura.

“Drácula” também veio na trilha aberta por Mary Shelley com seu Frankenstein , os poemas de Edgar Allan Poe e Dr. Jekyll e Sr. Hyde de “O Médico e o Monstro , de Robert Louis Stevenson , que também tratam daobsessão pela morte e pelo além-vida, comuns na literatura gótica, por isso não deixa de ser curioso que tenha dado frutos para Nosferatu décadas depois. Esses elementos históricos, culturais e pessoais se fundem para criar uma das figuras mais duradouras da literatura e do cinema. Drácula, como um arquétipo, continua a ser reimaginado, mas sua origem está profundamente enraizada em uma mistura de história, mito e as tensões de seu tempo.

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Cenado filme Nosferatu, que estreia em 2025 nos cinemas brasileiros © 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução
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Em essência, o mesmo vampiro com outro espírito

H oje , Nosferatu e Dracula são ícones do cinema de terror , mas s e dependesse da família de Bram Stoker só haveria um deles. O livro de 1897 rapidamente se tornou uma das obras mais influentes da literatura de terror e estabeleceu muitas das convenções modernas sobre vampiros.

Apaixonado pela obra, F.W. Murnau quis fazer uma adaptação para o cinema na Alemanha em 1922 , mas a família de Stoker não entrou em acordo com ele . P ara não perder o projeto, o diretor fez “adaptações” para sua versão. Do tipo: o Conde Dracula virou Conde Orlo k; e nquanto Dracula geralmente é retratado como um aristocrata elegante, charmoso e sedutor com habilidades sobrenaturais para se transformar em morcego, o Conde Orlok é apresentado de forma muito mais monstruosa e grotesca , com uma aparência cadavérica, com longos dedos, dentes proeminentes e orelhas pontudas, o que o torna menos humano e mais assustador. A história não se passa mais em Londres, mas no interior da Alemanha. Outros personagens também mudaram de nome, mas a trama é muito próxima.

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Lily-Rose Depp estrela nova versão de Nosferatu © 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução

Enquanto o Conde Drácula se muda da Transilvânia para a Inglaterra para espalhar a maldição dos vampiros, enfrentando personagens como Jonathan Harker, Mina Murray e Van Helsing , e m Nosferatu o Conde Orlok viaja da Transilvânia para a cidade fictícia de Wisborg , na Alemanha , atrás da noiva do agente imobiliário Thomas Hutter , Ellen .

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No cinema, antes de da visão de Coppola sobre o clássico, Dracula era um tanto clichê e até cafona, mas o filme de Murnau ainda é considerado um clássico do cinema expressionista alemão , altamente reverenciado por sua atmosfera e cinematografia inovadoras . Os descendentes de Stoker entraram na Justiça para impedir a exibição do filme, conseguindo que a Justiça decidi sse que todas as cópias d e Nosferatu fossem destruídas , mas, e mbora a ordem tenha sido acatada na Alemanha, cópias do filme já haviam chegado aos Estados Unidos, e lá Dracula era de domínio público. Por isso a obra de Murnau sobreviveu. Ainda bem, não é?

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Willem Dafoe na nova versão de Nosferatu © 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução

As conexões entre os elencos de Dracula, Nosferatu e outros vampiros

A regravação do clássico do terror alemão conta com um grande elenco que inclui Bill Skarsgård , Lily Rose-Depp, Nicholas Hoult , Emma Corrin , Aaron Taylor-Johnson e Willem Dafoe . O trio principal tem dois pés no universo de vampiros . Por exemplo, em A Sombra do Vamp i ro , de 2000, um filme que fantasia os bastidores das gravações de 1922, Dafoe viveu o ator Max Schreck (o Orlok original) e é apresentado como um vampiro de verdade. Agora ele ajuda a perseguir o Orlok . Hoult está na comédia Renfield : Dando o Sangue Pelo Chefe , onde interpreta o ajudante de Dracula. E Lily-Rose, que é filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis , se parece com Winona Ryder , a Mina do filme de Coppola que, na época, era namorada do pai de Lily-Rose.

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Cena do filme “Nosferatu” © 2024 FOCUS FEATURES LLC/reprodução
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Em geral, mesmo longe da inovação do original, Nosferatu parece ter alcançado seu objetivo, mantendo muitos dos elementos visuais e temáticos que viraram a base do gênero vampiro em 1922 , como a cena famosa em que sua sombra é projetada na parede enquanto ele sobe uma escada, simbolizando o horror inescapável que ele traz consigo. Essas imagens icônicas continuam a influenciar os filmes de terror até hoje. O novo Nosferatu é descrito como excitante, repulsivo e belo em igual medida , uma espécie de poesia macabra , mantendo a tradição sombria de contra programação de Natal . Eu pelo menos, estou louca para reviver o medo no cinema. E você?

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