terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Entre fios e afetos

Há dores que o tempo não explica. Há traumas que não se curam apenas com palavras. Alguns precisam de silêncio, de presença, de gestos pequenos e repetidos que, pouco a pouco, reorganizam o que foi quebrado por dentro.

Débora aprendeu isso da forma mais dura.
Em 2001, em Jerusalém, ela sobreviveu a um atentado terrorista que tirou a vida de seu pai e deixou marcas profundas no corpo e na alma. Depois daquele dia, o mundo deixou de ser seguro. O medo tomou espaço, a síndrome do pânico chegou, e sair de casa virou um desafio quase impossível.

A vida, que antes seguia em movimento, ficou suspensa.

Foi então que o recomeço veio de forma simples e cheia de amor, um presente das filhas. Uma aula de tricô. Um convite silencioso para voltar a respirar,para voltar a existir fora do próprio medo.

Na Novelaria, entre fios, agulhas e mãos acolhedoras, Débora reencontrou algo que parecia perdido, o presente. Cada ponto exigia atenção. Cada movimento puxava a mente para o agora. E sem perceber, o que era linha virou esperança, o hobby virou terapia. O que era medo virou conversa, riso, afeto.

Ali, ela voltou a sair de casa.
Ali, ela voltou a se conectar com pessoas.
Ali, ela começou a se reconstruir.

O tricô virou uma forma de meditação ativa, um jeito delicado de dizer ao corpo e à mente que estava tudo bem ir devagar. Que não era preciso correr. Um ponto de cada vez também constrói algo bonito.

E Débora não está sozinha.

Maria Cecília encontrou no crochê um caminho de reabilitação depois de um AVC. As mãos antes limitadas, começaram a responder novamente. Mas não foi só o corpo que melhorou, foi o estado de espírito, a tranquilidade, a esperança de que ainda havia muito a ser vivido e criado.

Mariana, mais jovem, chegou carregando ansiedade, pressão e incertezas sobre o futuro. Entre pontos e linhas, aprendeu a silenciar o barulho do mundo, a focar no agora, respirar. E descobriu que cuidar da mente também pode ser feito com as mãos.

Na Novelaria, o fazer manual vai muito além da técnica.
É encontro.
É acolhimento.
É comunidade.

Como explica Aida Fonseca, psicóloga e fundadora do espaço:

“O movimento repetitivo das agulhas cria um estado de atenção plena que interrompe o ciclo da ansiedade, organiza pensamentos e oferece um território seguro de cura emocional.”

Não é só ciência, é vivência.
É gente cuidando de gente!

Entre fios e linhas, histórias são refeitas, laços são criados. Traumas encontram descanso… E a vida, mesmo depois da dor, encontra novas formas de continuar.

Porque às vezes, a felicidade não chega em grandes acontecimentos.
Ela começa em um ponto simples.
Depois outro.
E mais outro.

Até que, quando se percebe, a própria história foi tecida novamente, com mais calma, mais afeto e mais sentido.

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