Poucos lugares combinam literatura, cultura popular e história tão bem quanto Ilhéus. O destino baiano é conhecido não só por figurar nas páginas de Jorge Amado, mas também por ser cenário de novela e filme. Além de ter construído um doce império no início do século 20, quando se tornou o maior produtor de cacau do mundo. Fundada em 1536, é uma das cidades mais antigas do país, destacando-se tanto por seu passado histórico quanto por sua riqueza natural.
Atualmente, o município situado no sul da Bahia voltou a ganhar destaque entre os brasileiros por conta do remake da novela Renascer, que está no ar na TV Globo. Os elementos culturais dessa região ressaltam a importância da cidade como fonte de inspiração artística e como um dos principais destinos turísticos do Brasil, atraindo visitantes interessados em suas praias, sua história e seu patrimônio cultural.
Beleza natural exuberante
Além da riqueza histórica, Ilhéus é cercada por uma beleza natural exuberante que garante também essa cenografia. A cidade é ladeada por aproximadamente 100 km de praias, as quais são adornadas por altos coqueiros, destacando-se como o maior litoral da
Bahia
. A zona sul é particularmente conhecida por ser um destino turístico, abrigando grandes resorts
e praias de águas mais escuras, devido à desembocadura de diversos rios.
Algumas dessas praias são dotadas de infraestrutura turística, enquanto outras permanecem quase intocadas, preservando sua beleza natural. A rica reserva de Mata Atlântica que circunda Ilhéus adiciona outra camada à sua beleza, com vastos coqueirais e densos manguezais que contribuem para a biodiversidade regional. Esse ecossistema é um dos mais ricos do Brasil, proporcionando um lar para diversas espécies de fauna e flora.
Roteiro histórico-literário
Em Ilhéus, as histórias se entrelaçam entre as páginas da literatura e os cantos de suas ruas históricas. Um roteiro pelo destino não é apenas uma viagem ao coração da cultura cacaueira, mas também um mergulho nas narrativas de Jorge Amado, que com sua pena, imortalizou a cidade em obras como “Gabriela, Cravo e Canela” e “Terras do Sem-Fim”. A seguir, desbravamos os caminhos que conectam o passado ao presente do lugar, em um roteiro especial que leva você pelos pontos histórico-culturais mais significativos da cidade, todos marcados pela presença do ilustre autor.
A casa que conta histórias: Casa de Cultura Jorge Amado
Iniciamos nossa jornada na Casa de Cultura Jorge Amado, uma construção neoclássica do final dos anos 1920, originalmente erguida pelo pai do escritor. Transformado em museu, esse espaço oferece um panorama detalhado da vida de Amado, desde sua infância até sua consagração como uma das maiores vozes literárias do Brasil. A casa se destaca não só pela arquitetura preservada, com piso de jacarandá e azulejos ingleses, mas também pelas exposições que narram não apenas a história de Jorge Amado, mas também a de Ilhéus, entrelaçando suas memórias às da cidade.
Vale lembrar que, embora tenha nascido na cidade vizinha de Itabuna e vivido boa parte de sua vida na
capital Salvador
, foi em Ilhéus que um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos encontrou o cenário para algumas de suas mais memoráveis histórias. A cidade, com suas intrigas e belezas, serviu de inspiração para o autor, que a retratou com maestria em seus romances. Por sua vez, Ilhéus abraçou Jorge Amado, homenageando-o com a Casa de Cultura que leva seu nome e mantendo viva sua memória através dos locais que foram palco de suas histórias.
Bataclan: o palco da história e da ficção
Poucos passos adiante nos levam ao Bataclan, um estabelecimento que já foi cabaré e cassino nos anos dourados do cacau, e hoje se reinventa como bar, café, restaurante e casa de espetáculos. Revitalizado em 1987, o Bataclan mantém sua fachada original, convidando os visitantes a uma viagem no tempo, para a época em que coronéis de cacau, jagunços e intelectuais cruzavam seus destinos. Neste local emblemático, também cenário de obras de Amado.
Hoje, o Bataclan serve como um ponto de encontro para quem deseja vivenciar um pedaço da história e da boemia ilheense. Ao chegar, inclusive, os visitantes podem fazer um tour que conta a história do local, incluindo curiosidades como o pátio que servia de “conexão” entre o cabaré e o bar Vesúvio, e o quarto de Maria Machadão, antiga proprietária do espaço.
Bar Vesúvio: onde a ficção se encontra com a realidade
Nenhum roteiro por Ilhéus estaria completo sem uma visita ao Bar Vesúvio, famoso por ser o cenário onde Nacib conheceu Gabriela na obra de Jorge Amado. Fundado em 1919, o bar conserva sua aura do século passado, oferecendo não apenas uma viagem gastronômica com seus quibes famosos, mas também uma conexão direta com a literatura amadiana. A estátua de Jorge Amado, que adorna sua entrada, serve como um lembrete da marca inesquecível do autor na cidade. Vale a foto!
A majestosa Catedral de São Sebastião
Seguindo pelo coração do Centro Histórico, encontramos a Catedral de São Sebastião, cujo exterior majestoso revela uma das construções mais imponentes de Ilhéus. Inaugurada em 1967, após longos anos de construção, a catedral se destaca não apenas por sua arquitetura, mas também como um símbolo da fé e da perseverança dos ilheenses. Com 48 metros de altura, é um marco que não pode ser ignorado por quem visita a cidade. A cidade ainda conta com outras duas
igrejas
menores, em homenagem a seus também padroeiros São Jorge e Nossa Senhora da Vitória.
Fazendas de cacau
A história de Ilhéus está profundamente entrelaçada com o ciclo do cacau, que impulsionou a economia local e nacional durante os séculos 18 e 19. Este período é marcado pela opulência dos chamados anos áureos, refletida na arquitetura colonial preservada até os dias de hoje. As ruas calçadas de pedra, as igrejas e os casarões antigos anteriormente citados são testemunhos vivos da importância econômica e cultural da cidade no passado. A produção e exportação dessa fruta tipicamente brasileira, conhecida como “ouro negro”, foram atividades primordiais para a economia brasileira, e Ilhéus desempenhou um papel central nesse contexto.
Durante um extenso período, a cultura do cacau foi a principal fonte de riqueza, luxo e prestígio para a região produtora, desempenhando um papel central na economia local. No entanto, a partir da década de 1980, essa prosperidade foi severamente impactada por uma série de desafios, culminando em uma crise significativa no setor. Um dos principais fatores dessa crise foi a disseminação do fungo conhecido como “vassoura de Bruxa”, que causou grande devastação aos plantios de cacau.
Crise na monocultura do cacau
A consequência imediata da crise na monocultura do cacau foi um impacto devastador na economia regional, levando à falência numerosos produtores e empobrecendo uma vasta parcela da população que historicamente dependia do trabalho nas fazendas de cacau. Diante desse cenário de adversidade econômica, as autoridades municipais foram compelidas a buscar alternativas para revitalizar a economia local. Como resposta à crise, houve um esforço concentrado para diversificar a base econômica da região, estimulando o desenvolvimento de outros setores que, até então, desempenhavam papéis secundários em comparação ao cultivo do cacau.
Essa estratégia visava não apenas recuperar a estabilidade econômica mas também reduzir a dependência de uma única commodity
, promovendo uma maior resiliência frente a possíveis crises futuras. Hoje, a produção não recuperou totalmente seu poder; a Bahia é a sétima maior produtora de cacau do mundo.
Porém, além da distribuição da fruta e de seus produtos originários para produção de chocolate em importantes marcas globais, as fazendas também apostam no turismo como fonte de renda e desenvolvimento. Esses espaços cada vez mais abrem suas porteiras para que os turistas possam conhecer passo a passo da produção, experimentar os sabores únicos do mel e do licor do cacau, e entender o que essa fruta representa para a região que ganhou seu nome.
Fazenda Capela Velha
Um desses lugares é a Fazenda Capela Velha. Centenária, a propriedade está situada na “Estrada do Chocolate”, que se estende entre Ilhéus e Uruçuca. O lugar é considerado um marco histórico que testemunhou todos os períodos significativos da Capital Brasileira do Cacau. Porém, após anos de esquecimento, passou por uma significativa renovação em 2011, convertendo-se na fazenda com as instalações mais avançadas para a produção de chocolate na área.
Quem visita Ilhéus pode vivenciar uma experiência única por lá, incluindo participar da colheita do cacau, observar de perto seu processo de conversão em chocolate e saborear os produtos da fazenda imerso na rica história e beleza natural da região. Dá até para se sentir um verdadeiro coronel de Renascer!
Praias
Ilhéus tem o litoral mais extenso da Bahia, com mais de 70 km de
praias
. O município apresenta uma divisão de suas praias em três categorias principais: as praias do sul, notáveis pela presença de grandes resorts
e infraestrutura turística; as praias do norte, caracterizadas pela sua localização mais afastada e envolvente natural de Mata Atlântica; e as praias centrais, que se localizam próximas ao centro urbano.
Cada conjunto de faixas de areia atende a diferentes preferências de visitantes, com uma variedade de serviços e características naturais, embora compartilhem a beleza cênica como um atributo comum. As praias do sul, por exemplo, abrigam importantes hotéis, além de oferecerem serviços como quiosques, restaurantes, bares e chuveiros em locais como Praia dos Milionários e Praia do Jairi. Para os entusiastas do surf, as praias de Back Door e Batuba são recomendadas, destacando-se pelas suas condições favoráveis à prática do esporte. Assim como a Praia de Cururupe, conhecida pelas suas ondas fortes e pela desembocadura do Rio Cururupe, que é menos adequada para mergulho.
Ao norte, praias como São Miguel proporcionam um ambiente mais tranquilo, longe dos centros turísticos. Por outro lado, as praias urbanas, tais como Praia da Avenida e Praia do Cristo, são frequentemente visitadas pelos residentes locais. Infraestruturas como ciclovia, quadras esportivas e centro de eventos.
Jardim Atlântico Beach Resort: uma hospedagem feita de pessoas
Ilhéus vem se provando, também, a terra da hospitalidade. É isso que vem provando o Jardim Atlântico Beach Resort. A cidade baiana, localizada na costa sul do estado, já vive no imaginário brasileiro há muitos anos. Graças às páginas de Jorge Amado e também aos cenários da novela Renascer, que, inclusive, ganhou remake
na Globo atualmente.
Contudo, os viajantes que desembarcam por lá encontram, desde 2006, uma opção de hospedagem que vai além de sua estrutura física. Isso não quer dizer que o resort
, comandado pela família Machado há pouco menos de 20 anos, não chama a atenção por sua área de 34 mil metros quadrados à beira-mar. Muito pelo contrário. A infraestrutura complementa de forma precisa o principal patrimônio do empreendimento: as pessoas. De Nea e Júnior à Leila, Patrícia, Igor, Erick… a equipe, desde os diretores até os colaboradores de cada área, se mostra entrosada, atenta às necessidades do hóspede e pronta para oferecer uma estadia cheia de acolhimento.
Estrutura completa para as famílias
Localizado a apenas dois quilômetros do aeroporto Jorge Amado e seis quilômetros do centro de Ilhéus, o resort
conta com 129 apartamentos distribuídos em categorias: Luxo, Standard, Familiar, Flat, Flat Cook e Suíte Master. Sua infraestrutura oferece ainda dois restaurantes; piscinas adulto e infantil, mais um conjunto de piscinas circulares com sistema de hidromassagem aquecida; sauna a vapor; academia; quadras de tênis, vôlei de praia e beach tênis; campo de futebol; kids club
; salão de jogos; spa; salão de beleza; loja de artesanato e utilidades, além de ampla área verde.
Além disso, o resort
está bem em frente à chamada Praia dos Milionários, uma das mais badaladas de Ilhéus. Os hóspedes podem curtir o mar quentinho do sul da Bahia com serviço de praia, mesas e cadeiras na extensa faixa de areia.
Uma experiência gastronômica
A Bahia é um lugar único para comer. Afinal, seus temperos e sabores são famosos mundialmente. Do acarajé à moqueca, as expectativas são sempre altas por lá. E no Jardim Atlântico não é diferente. Comandada pelo curitibano radicado Cleber Aguiar, a equipe do resort
coloca muito sabor nos pratos. Entre os destaques, estão: a moqueca de peixe com banana-da-terra, o ceviche, o filé maravilha com risoto de funghi e a cocada cremosa com sorvete de tapioca.
Além do cardápio diversificado, o Jardim Atlântico Beach Resort ainda tem festivais temáticos homenageando uma gastronomia internacional, como a espanhola. E, para beber, além dos drinks
autorais, uma pedida imperdível é o frozen
de mel de cacau, refrescante na medida certa.
Desbravando a Costa do Cacau
Ao planejar uma visita a Ilhéus, os viajantes têm uma oportunidade única de expandir suas experiências e explorar os encantos da Costa do Cacau. A região é abençoada por 180 km de litoral que se estende de Itacaré a Canavieiras. Além disso, este pedaço do Brasil é uma celebração da natureza com praias que parecem intocadas, vastos coqueirais, densos manguezais e rios adornados por margens que abrigam as históricas fazendas de cacau.
Além de
Ilhéus
, municípios como Canavieiras, Itabuna, Itacaré, Santa Luzia, Una e Uruçuca compõem essa rota turística, cada um oferecendo uma variedade de atividades para os visitantes. Desde picos de surf e pontos de pesca até cachoeiras e rios propícios para esportes de aventura como rafting e canoagem, a região é um convite aberto à exploração e ao prazer.
A proximidade com a Rota do Dendê também sugere uma expansão do roteiro para aqueles em busca de mais aventuras em praias de águas límpidas e trilhas pela mata. Itacaré se destaca particularmente, sendo um destino de escolha por suas praias urbanas e rurais, cachoeiras e oportunidades de prática de esportes como surf, stand-up paddle
, tirolesa e skate, tudo isso cercado pela exuberante Mata Atlântica.
Suas praias rurais, como a Engenhoca e Havaizinho, e urbanas, como Itacarezinho, oferecem desde o sossego de
águas cristalinas
a infraestruturas sofisticadas para relaxar e apreciar a culinária local, rica em cacau. A história de Itacaré, desde sua origem indígena até o boom
do cacau e sua transformação em um destino turístico após a construção da estrada ligando-a a Ilhéus, revela a resiliência e a riqueza cultural da região.
Por Eliria Buso – revista Qual Viagem