No mês passado, a artista Rosana Paulino, a primeira vencedora do Prêmio Munch inaugurou sua nova exposição, “Novas Raízes”, em comemoração aos 30 anos de sua carreira, na Casa Museu Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Nela, seus trabalhos dialogam com a arquitetura e o acervo do espaço. Com produções que vão de desenhos a instalações, a artista propõe uma reflexão sobre a relação entre o ambiente doméstico e a natureza. No térreo do local, as obras, como “Espada de Iansã”, destacam como as plantas rompem as barreiras entre os espaços internos e externos, questionando a separação tradicional entre arquitetura e botânica.
No segundo andar, a mostra foca na vida privada das mulheres negras ao longo da história brasileira. Obras como “Paraíso Tropical”, “Ama de Leite” e “Das Avós” recuperam fotografias e símbolos que representam a subjugação e o apagamento das histórias dessas mulheres, especialmente a de Mônica, uma ama de leite fotografada em 1860. Por meio de uma diversidade de materiais, como tecidos, fitas e recortes, Paulino cria um espaço de descanso simbólico para essas figuras históricas, promovendo um ambiente de reflexão e reconhecimento.
“Novas Raízes” propõe uma revisão crítica da história e da epistemologia sob uma perspectiva contemporânea, questionando como novas leituras podem ser feitas em relação ao legado deixado por figuras históricas.
“Rosana pretende que esta exposição tenha um caráter educativo bem acentuado, questionando sobre como podemos repensar a produção contemporânea em diálogo com novas leituras de mundo, este bem diferente daquele deixado por Eva Klabin há mais de trinta anos”, afirma o curador Lucas Albuquerque.
A obra “Parede da Memória” (1994), que deu início à produção da artista paulistana, também integra a exposição. O trabalho é composto por centenas de retratos em preto e branco da família de Rosana, impressos em patuás — pequenos amuletos de tecido típicos de religiões afro-brasileiras. A obra estabelece um diálogo com as instalações desenvolvidas para a Casa Museu Eva Klabin, que utilizam tecidos com retratos históricos da população afro-brasileira, propondo uma reflexão sobre a memória, o apagamento e a representação do negro na história da arte .
A exposição, que poderá ser visitada gratuitamente de quarta a domingo, das 14h às 18h, ficará em cartaz até 12 de janeiro de 2025, oferecendo ao público uma oportunidade de imersão no trabalho dessa artista fundamental para a discussão sobre a cultura e a identidade afro-brasileira.
Prêmio Munch
Na última semana, no dia 24, a artista brasileira foi agraciada com o primeiro Prêmio Munch, concedido pelo Museu Munch, na Noruega. Reconhecida por sua dedicação em abordar temas como gênero, raça e identidade, Paulino foi destacada por seu papel fundamental em promover diálogos sobre a história e cultura afro-brasileira através de sua obra.
O prêmio, instituído recentemente pela instituição de Oslo, inclui uma recompensa de NOK 300.000 (aproximadamente £20.000) e é concedido a artistas que se destacam pela coragem e integridade em suas trajetórias, especialmente em tempos de crescentes desafios à liberdade artística.
Até 12 de janeiro
Casa Museu Eva Klabin – Av. Epitácio Pessoa, 2480 – Lagoa, Rio de Janeiro
Gratuito