A promessa de ganhar dinheiro com alguns toques na tela do celular tem virado pesadelo para famílias sul-mato-grossenses. Um caso recente ocorrido em Caarapó, no interior de Mato Grosso do Sul, escancarou os efeitos do chamado “jogo do tigrinho” — nome popular do Fortune Tiger, um jogo de apostas online que viralizou nas redes.
Na cidade, uma mulher perdeu R$ 11 mil no jogo e, endividada com agiotas, passou a ser ameaçada. O desespero foi tanto que o filho dela, de apenas 8 anos e com diagnóstico de autismo, teve um surto. A situação foi parar na delegacia e deixou marcas profundas na rotina da família.
Apesar da aparência de “joguinho inofensivo”, com cores chamativas e promessas de lucros fáceis, o Fortune Tiger funciona como um cassino virtual ilegal, onde as chances de ganhar são mínimas e o risco de vício é alto. Nas redes sociais, influenciadores divulgam links para a plataforma e mostram supostos ganhos, alimentando a ilusão de que é possível ficar rico jogando no celular.
Segundo especialistas, os danos não são apenas financeiros. “O jogo aciona um sistema de recompensa muito parecido com o de drogas. A pessoa aposta, perde, insiste, e acredita que pode recuperar. É um ciclo muito perigoso, que tem levado ao colapso emocional e ao rompimento de vínculos familiares”, explica a psicóloga Renata Azevedo, que atende casos de compulsão por jogos.
A psicóloga alerta para alguns sinais que pais e familiares devem observar:
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Isolamento e mudanças de humor
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Gastos ou transferências bancárias não explicadas
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Mentiras constantes sobre o uso de dinheiro
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Irritabilidade ao ser questionado sobre o jogo
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Dificuldade para dormir e desinteresse por outras atividades
Para o psiquiatra Jorge Amaral, que acompanha casos de vício digital, o alerta vale especialmente para adolescentes e jovens. “Esse jogo tem tudo que prende: visual atrativo, falsa sensação de controle, recompensas rápidas. O público jovem é o mais vulnerável”, afirma.
O jogo do tigrinho não é autorizado no Brasil, e o jogo de azar online segue ilegal, mesmo com a discussão sobre sua regulamentação avançando no Congresso. Apesar disso, o acesso à plataforma ocorre livremente, inclusive por menores de idade.
Em Campo Grande, a Polícia Civil já recebeu denúncias relacionadas ao Fortune Tiger e investiga possíveis golpes e endividamentos. Em muitos casos, a dependência leva a pessoas a contrair dívidas, vender bens da família e até entrar no cheque especial ou crédito consignado para continuar apostando.
O SouCG reforça: se você ou alguém da sua família está passando por isso, procure ajuda psicológica. Existem tratamentos especializados e o primeiro passo é quebrar o silêncio. O vício em jogos digitais é real, silencioso e, como mostra o caso de Caarapó, pode ter consequências graves — não só para o bolso, mas para toda a estrutura familiar.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil