Em Campo Grande, a música não está apenas nas rádios: ela ecoa pelos corredores das escolas municipais que possuem Bandas e Fanfarras. Cada nota é um convite para sonhar, aprender e transformar vidas. Atualmente, a Divisão de Esporte, Arte e Cultura (DEAC), da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), mantém 13 unidades escolares com 11 professores dedicados à expressão artística por meio da Banda Marcial, atendendo cerca de 467 alunos da rede municipal.
O investimento da Prefeitura soma R$ 3,5 milhões em kits completos, com 150 instrumentos musicais, incluindo tuba, eufônio, trombone, trompete, trompa, pratos, bumbo, caixa tenor e estantes de partitura, oferecendo aos alunos não apenas melodias, mas oportunidades, disciplina e sentido de pertencimento em equipe.
Entre esses alunos está Maria Raffaella, de 16 anos, do 9º ano da Escola Municipal Elizabel Maria Gomes Salles, no bairro Santa Luzia. Ela toca pratos e lembra com carinho do momento em que chegou à nova escola no ano passado.
“Já vinha de uma escola que tinha fanfarra e achei que aqui não ia ter banda. Fiquei com medo. Pensei: ‘Meu Deus, vou chegar numa escola nova e não vou poder fazer algo que gosto tanto’. Quando me disseram que tinha, uma felicidade imensa subiu! Fiquei muito feliz e prometi para mim mesma que ia continuar até o fim do ano”, conta, com brilho nos olhos.

Ao lado de Maria Raffaella, Giovana Mara, de 11 anos, do 6º ano, e Gabriele, de 13 anos, do 8º ano, compartilham a mesma empolgação. Giovana toca trompete e entrou no projeto influenciada pela família e amigas. “Minha tia fazia e minhas amigas me chamaram. Agora, toda apresentação tem plateia: meus pais, minha tia. Eles ficam orgulhosos de me ver participar e tocar”, diz.
Gabriele, que também toca pratos, afirma que o projeto mudou sua rotina. “Antes, só ficava em casa, mexendo no celular. Agora, venho para a banda, conheci várias pessoas e aprendi coisas diferentes. É muito melhor! Cada apresentação é uma nova alegria, um novo começo”.

Envolvimento com a música
Essas histórias se repetem por diversas escolas da Capital, sempre guiadas por maestros apaixonados. Um deles é Bryan Coronel Moralles, 35 anos, regente da Banda da Escola Municipal Elizabel Maria Gomes Salles, com 23 anos de dedicação à música, sendo 11 como maestro.
Bryan lembra que seu primeiro contato com a música aconteceu quase por acaso, ao assistir a uma apresentação do professor Wander Gomes da Silva, maestro da Escola Municipal Dr. Eduardo Olímpio Machado. “Na época, eu tinha acabado de perder meu pai. Vi a banda do Wander tocando em uma igreja e pedi para minha mãe para assistir. Durante o culto, o irmão dele convidou todo mundo para participar. Entrei e, desde então, a música passou a fazer parte da minha vida. Entre nós nasceu uma amizade que vai seguir para sempre”, lembra.

Hoje, Bryan repassa o mesmo legado aos alunos e ao próprio filho que participa da banda. “Cada criança aqui tem um motivo diferente para tocar. A música ensina disciplina, trabalho em grupo e faz eles acreditarem que são capazes”, afirma o maestro.
A diretora Aparecida Vanessa Gomes da Silva Ribeiro, de 48 anos, ex-aluna da Elizabel Maria Gomes Salles, vive a retomada da banda com emoção. “Toquei na banda quando estudava aqui. Depois, os instrumentos foram doados e a fanfarra acabou. Ver a banda viva de novo é um sonho realizado”, celebra.
Já a vice-diretora Rosa Meira Estreite, de 55 anos, reforça o impacto do som no ambiente escolar. “Quando comecei a trabalhar aqui, em 2018, o que mais me chamou atenção foi o som. Hoje, temos mais de 50 alunos participando. É emocionante ver o brilho no olhar deles. A música transforma a aprendizagem e a vida”.

Desafio a cada novo aprendizado
A Escola Municipal Dr. Eduardo Olímpio Machado carrega tradição nos concursos de Bandas e Fanfarras. Suas estantes de honra exibem os troféus conquistados, frutos da dedicação de alunos e professores que transformam ensaios em espetáculos.

O maestro Wander Gomes da Silva, 48 anos, destaca que cada ensaio é uma chance de ver a transformação acontecer. “Eles chegam sem saber nada e, em poucos meses, já conseguem criar suas primeiras melodias. Ver esse encantamento me dá energia todos os dias”.
Com 35 anos de dedicação à música, Wander se orgulha de ver ex-alunos seguirem carreira musical ou ingressarem em bandas oficiais, como do Exército, da Guarda Municipal e da própria Prefeitura. “Saber que ajudei a construir esses sonhos é motivo de orgulho”.

Alexandre Monteiro Carvalho, coordenador da DEAC, reforça que o projeto vai além da música: “Mais do que aprender notas, os alunos desenvolvem aspectos cognitivos, socioafetivos e culturais. A arte abre uma porta para quem talvez não se identifique com o esporte, mas encontra na música um caminho para crescer”.
Com os investimentos da Prefeitura, o projeto cresceu: antes, apenas 7 escolas tinham grupos de percussão; hoje, são 13, e a previsão é chegar a 20 até 2026.

Música que passa de geração em geração
O maestro Wander acompanha alunos do 4º ao 6º ano, que retomaram o contato com a música após a pandemia. Em sua própria casa, a música também se multiplica: seus filhos, Gabriel Henrique, de 20 anos, e Ana Beatriz, de 17, participam das bandas e ajudam a ensinar outros estudantes.
“Ver meu filho, que estuda Música na universidade federal e faz estágio aqui comigo, ensinando com a mesma dedicação que eu sempre tive, me emociona. É a continuidade de algo que começou há anos e que agora transforma vidas”, conta Wander.

Bryan também vê a música como herança familiar. Seu filho, Augusto, de 10 anos, já iniciou o aprendizado musical inspirado pelo pai. “Nos ensaios da banda e fanfarra, ele viu os colegas tocando, pegou o instrumento e começou a aprender sozinho. É incrível ver essa curiosidade e paixão tão cedo”, orgulha-se.
Alexandre também compartilha essa relação pessoal com a música, iniciada na igreja e fortalecida em projetos sociais. Hoje, vê o legado seguir com seu filho, Arthur, de 10 anos, começando aulas de violão. “Sempre vi a música como elo de transformação, disciplina e pertencimento. É isso que queremos levar para nossos alunos”.
Como participar
A participação é aberta a estudantes matriculados nas escolas do projeto. As inscrições podem ser feitas diretamente nas secretarias das unidades, e os ensaios acontecem no contraturno escolar, garantindo que as crianças não deixem de frequentar as aulas regulares.

Escolas com Bandas e Fanfarras:
- E.M. Plínio Mendes dos Santos
- E.M. Agrícola Barão do Rio Branco
- E.M. Dr. Eduardo Olímpio Machado
- E.M. Elizabel Maria Gomes Salles
- E.M. Tertuliano Meirelles
- E.M. Licurgo de Oliveira Bastos
- E.M. Tomaz Ghirardelli
- E.M. Maria Lúcia Passarelli
- E.M. Frederico Soares
- E.M. Imaculada Conceição
- E.M. Alcídio Pimentel
- E.M. Bernardo Franco Baís
Escolas que receberão bandas a partir de 2026:
- E.M. Maria Tereza Rodrigues
- E.M. Gonçalina Faustina de Oliveira
- E.M. Prof. Carlos Henrique Schader
- E.M. Isauro Bento Nogueira
- E.M. Prefeito Manoel Inácio
- E.M. Nerone Maiolino
- E.M. Governador Harry Amorim Costa
#ParaTodosVerem: Imagens mostram a Banda da Escola Municipal Dr. Eduardo Olímpio Machado durante um evento. As estudantes Maria Rafaella, Gabriele e Giovana, da Escola Elizabel Maria Gomes Salles, aparecem em momentos de ensaio e entrevista. O maestro Bryan e as diretoras da escola acompanham com orgulho o projeto. Também são mostrados os troféus da E.M. Dr. Eduardo Olímpio Machado, o maestro Wander com seus filhos em um desfile, o coordenador do DEAC, Alexandre Monteiro, e um jovem músico integrante da banda, representando a nova geração transformada pela música.