A safra 2025 de trigo em São Paulo tem projeção positiva em volume e em qualidade, indicada entre as melhores dos últimos anos. É o que diz o presidente da Câmara Setorial do Trigo, Nelson Montagna.
Segundo ele, com base nos dados de lavoura obtidos até o momento, espera-se uma colheita próxima de 400 mil toneladas, acima das 350 mil indicadas nas estatísticas preliminares.
Os dados foram anunciados na quinta-feira (16), durante a terceira e última reunião da entidade no ano.
A mudança de cenário ao longo do ano foi atribuída às condições climáticas favoráveis. “Nossa previsão inicial era de uma safra menor. Já havia mencionado, na última reunião da Câmara, que acreditava em uma das melhores safras dos últimos tempos, e isso está se confirmando. O clima foi excelente, o que contribuiu para uma qualidade superior em relação aos últimos anos e impactou positivamente a produtividade”, frisou.
O presidente do Sindustrigo, Max Piermartiri, que também marcou presença no encontro, reforçou a importância da combinação entre tecnologia e clima na performance da safra.
“Tivemos uma coincidência muito positiva: a evolução genética das cultivares coincidiu com condições climáticas extremamente favoráveis para a cultura do trigo. Como resultado, obtivemos produtividade elevada e qualidade muito acima da média nas lavouras paulistas”, considerou.
Para ele, o estado de São Paulo possui uma cadeia de trigo sólida, que envolve produção, suprimentos, moagem, transformação da farinha e produção de alimentos, com raro nível de organização e profissionalização.
“Poucos lugares no mundo reúnem, de forma tão próxima, uma região de produção e de consumo como São Paulo. Isso é uma grande vantagem competitiva para o estado”, ressaltou.
Cenário global
No cenário internacional, o mercado de trigo vive um momento de recuperação. A expectativa é de que a produção mundial atinja 816 milhões de toneladas em 2025, com destaque para o desempenho europeu. Apesar disso, o Brasil caminha em sentido oposto, com colheita menor e maior dependência de importações.
O representante da CJ Internacional, Douglas Araújo, contextualizou que a área plantada no país foi reduzida, o que impactou a produção nacional.
“No Brasil, estamos produzindo menos trigo neste ano, principalmente porque a área semeada foi menor. Em termos de produtividade, o destaque fica para o Centro-Oeste, especialmente Minas Gerais.”
Dependência externa
Embora o Rio Grande do Sul deva manter um volume expressivo de exportações, o país segue dependente do trigo importado para atender à demanda.
“O Brasil é um gigante adormecido na produção de trigo. Pode produzir muito mais do que produz hoje, especialmente nas safras de inverno”, alertou Araújo, ao citar o avanço do país no cultivo no Cerrado.
“Nessa região, podemos utilizar técnicas como o trigo por sobressemeadura em lavouras de milho, com semeadura a lanço (por máquina ou avião) e até sistemas de inundação. Após a colheita do milho, inicia-se rapidamente a safra do trigo, com um ciclo de aproximadamente 75 dias. O trigo pega carona na cultura anterior e pode gerar rendimentos muito elevados”, afirmou.
O estado de São Paulo, apesar de ser referência em consumo e moagem, ainda possui desequilíbrio entre produção e demanda. A necessidade regional gira em torno de 3 milhões de toneladas por ano, enquanto a moagem atinge cerca de 1,8 milhão de toneladas.
Esse cenário reforça a dependência de importações e a importância da logística regional. “São Paulo tem um consumo expressivo e precisa recorrer ao mercado externo. O Porto de São Sebastião pode ser uma rota complementar importante para garantir o abastecimento do trigo no estado”, ressaltou Araújo.