segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Recorde de produção e queda nos preços: por que 2026 pode ser o ano mais apertado da soja

O produtor brasileiro de soja começa dezembro com duas certezas e uma grande dúvida. As certezas: vai colher uma supersafra (177 a 178 milhões de toneladas, segundo Conab e consultorias privadas) e o mundo está nadando em estoques (124 milhões de toneladas globais, recorde histórico). A dúvida: quanto vai sobrar no bolso depois de pagar a conta de produção mais alta dos últimos três anos.

“É o clássico cenário de muito grão e pouco prêmio”, resume Lauro Rezende, analista sênior da Agroconsult. “Quem não travar preço agora e não controlar custo vai trabalhar no vermelho em maio/junho.”

Onde está o preço hoje e para onde vai:

  • Paranaguá (28/11): R$ 155,75/saca (melhor preço do ano foi R$ 178 em março)
  • Previsão média 2026 (base caso): R$ 135–140/saca (Cepea, Safras, StoneX)
  • Cenário otimista (seca moderada no Sul + China comprando forte): R$ 150 a 160
  • Cenário pessimista (safra cheia + China lenta): R$ 120 a 128

A conta é simples: para pagar o custo operacional efetivo (COE) médio de Mato Grosso, 57 sacas/ha em Sorriso, o produtor precisa de no mínimo R$ 133/saca com produtividade de 65 sc/ha. Qualquer preço abaixo disso já com margem bruta.

Os cinco alertas vermelhos para 2026

  • Estoques globais recorde O carryout mundial 2025/26 ficará entre 122 e 125 milhões de toneladas. Nunca na história houve tanto grão sobrando no fim da safra.
  • A China ainda hesita Apesar do acordo EUA-China de 12 milhões de toneladas, Pequim compra devagar e prioriza o Brasil só quando o prêmio cai. Novembro fechou com apenas 62% do volume esperado.
  • O custo de produção subiu entre 12 e15% Fertilizante +8%, defensivos +10%, diesel +5% e arrendamento em dólar em várias regiões. A margem bruta média recuou de 78 para 64 sacas/ha (CNA/Cepea).
  • Clima joga contra o prêmio El Niño ainda ativo até março pode trazer excesso de chuva no RS/PR e atraso de colheita. Qualquer problema de qualidade (umidade alta) derruba o prêmio de exportação.
  • Janela de comercialização encurtada Com a safrinha de milho atrasada entre 15 e 20 dias em várias regiões, a soja de março/abril vai competir com milho no porto. Resultado: fila e desconto.

Estratégia prática para o produtor (o que fazer AGORA)

  1. Trave pelo menos 40 a 50% da safra já

Melhor janela: contratos março/maio 2026 na B3 ou CPR dolarizada com trading
Níveis interessantes hoje: R$ 142–145 Paranaguá (já dá margem de 10–12 sacas acima do custo)

  1. Reduza custo em 8–10 sacas/ha

Negocie fertilizante para entrega janeiro/fevereiro (preço caiu 6% nas últimas 3 semanas)
Use biológicos + fixação biológica de nitrogênio (redução de 15–20 kg de N/ha)
Faça rotação soja-milho-safrinha intensiva com cobertura vegetal (milho consorciado com braquiária)

  1. Monitore três datas-chave

12/dezembro → WASDE USDA (pode cortar yield americano e dar fôlego)
10/janeiro → novo levantamento Conab (primeiro número “de campo”)
28/fevereiro → pico de compra chinesa pós-Ano Novo Lunar

  1. Diversifique a comercialização

30% basis Paranaguá (trava dólar)
30% CPR física com trading grande
20% Barter de insumos (trava custo)
20% livre para oportunizar alta em abril/maio

A frase que resume 2026: “2026 não vai ser ano de ficar rico com soja. Vai ser ano de não ficar pobre.” (André Pessôa, sócio-fundador da Agroconsult, em webinar 28/11)

O Brasil vai produzir como nunca, exportar como líder absoluto e, pela primeira vez em muitos anos, o grande desafio não será colher, mas remunerar. Quem entender que preço médio de R$ 138 é o “novo normal” e agir rápido sai na frente. Quem esperar R$ 180 como em 2022 vai quebrar a cara.

Produtor: o seguro morreu de velho, mas o teimoso morreu pobre. Trave, corte custo e durma tranquilo. 2026 já começou.

www.canalrural.com.br

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