O trigo, principal cultura de inverno do Paraná, enfrenta uma temporada desafiadora com uma redução significativa na área plantada, estimada em cerca de 300 mil hectares, o que representa uma queda de 25% em relação à última safra. Os produtores paranaenses estão desestimulados pelos altos custos de produção e, agora, pela diminuição dos recursos destinados ao seguro rural.
Com a semeadura se intensificando e se estendendo por todo o mês de julho, as chuvas recentes no estado têm auxiliado no desenvolvimento das lavouras. No entanto, os custos de produção continuam a ser um grande entrave. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), os principais adubos registraram um aumento de 22%, contribuindo para um acréscimo de aproximadamente 8% nos custos variáveis, que passaram de R$ 67 para R$ 72 por saca nos últimos 12 meses.
Giovanni Teixeira, produtor de Lapa, a 70 km da capital, exemplifica a situação. Mesmo com as contas no limite, ele decidiu arriscar no cultivo de 150 hectares, ciente de que muitos em sua região não farão o mesmo. “Eu acho que deu uma redução de uns 50%. Todo mundo está com medo de arriscar, porque é uma cultura de risco. Nosso caixa está baixo. A gente ganhava na soja e investia no trigo, e ganhava no trigo e investia na soja. E já faz praticamente dois anos que a gente não está assim”, lamenta Teixeira. Apesar do cenário, ele mantém um otimismo cauteloso: “Acredito numa pequena chance de ganharmos dinheiro nesta próxima safra, no caso da falta do produto”.
Neste ciclo, os produtores paranaenses semearam 850 mil hectares de trigo, contra 1,13 milhão de hectares na temporada anterior. A redução do seguro rural é outro fator que pesa nas decisões dos agricultores. Carlos Hugo Godinho, engenheiro agrônomo do Deral, explica: “Normalmente temos uma situação que permite o produtor arriscar mais porque a parte do seguro é subsidiada e isso acaba refletindo em uma área pelo menos normal aqui no estado e esse ano com algumas mudanças de regra isso acabou inibindo também um pouco o plantio, tirando o apetite do produtor por se arriscar mais, visto que ele vai ter que bancar ainda mais se tiver algum sinistro”.
Em maio, os preços pagos pela saca de trigo registraram uma média de R$ 79, valor próximo ao de abril, mas 15% superior a maio de 2024. Contudo, esse patamar é insuficiente para reverter o desânimo dos produtores, especialmente quando se compara ao aumento dos fertilizantes, que superou a valorização do cereal. “Teria que estar no mínimo uns R$ 85 pra você conseguir fazer uma média bem boa de troca”, finaliza Giovanni Teixeira.