Com mais de 60 anos dedicados à pecuária zebuína, José Humberto Vilela Martins, o conhecido Zé Humberto, da Fazenda Camparino, compartilhou sua visão sobre seleção animal durante entrevista ao podcast LanceCast, do Lance Rural.
Aos 80 anos, o criador é referência na raça nelore e voltou a levantar um ponto que considera crucial: o desequilíbrio causado pela dependência excessiva dos índices genéticos.
“Voltar no arreio é difícil”
Zé Humberto é direto ao comentar o risco de decisões tomadas apenas com base em números: “O cara que foca só em número, e não olha as outras coisas, vai destruindo o rebanho dele. E depois, voltar no arreio é difícil.”
A crítica se refere aos impactos práticos da seleção que ignora fatores como rusticidade, morfologia funcional e adaptabilidade dos animais. Na visão do criador, isso pode comprometer seriamente a produtividade e dificultar a reversão do prejuízo.
O valor de quem vive a lida
Mesmo reconhecendo os avanços técnicos da pecuária moderna, Zé Humberto defende o papel insubstituível do conhecimento empírico: “O olho com a porteira é uma ferramenta boa demais!”, afirma.
Esse tipo de análise, construída ao longo de décadas lidando com o gado, foi essencial para que ele transformasse novilhas comuns em matrizes de destaque no rebanho da Camparino, no Pantanal mato-grossense.
Não é rejeição à genética, é alerta ao exagero
Zé Humberto reforça que não é contra a genética, e sim contra a dependência cega: “O cara que não entende bulhufas de gado, se ele focar só na avaliação genética, ele erra menos.”
Para ele, os números são aliados valiosos, principalmente para quem está começando, mas precisam ser interpretados à luz da realidade do campo, e com os pés no chão.
Zé Humberto, um legado vivo
Frequentador assíduo da Expozebu, o criador leva sua experiência a novas gerações de pecuaristas. Natural de Minas Gerais, mas com trajetória marcada pelo pioneirismo em Goiás e Mato Grosso, ele se orgulha de sua paixão pela criação, que vai além do nelore, passando por cavalos, aves, suínos, gir leiteiro e sindi.
A filosofia de Zé Humberto é simples, mas poderosa: tecnologia e tradição precisam andar juntas para garantir uma pecuária sustentável, eficiente e fiel às raízes de quem vive o campo.