A ovinocultura de corte no Brasil pode estar diante de uma revolução. Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul (RS) trabalham no projeto da chamada “ovelha do futuro”, resultado de pesquisas em melhoramento genético que reúnem quatro características de alto impacto econômico:
- melhor conformação e rendimento de carcaça,
- perda espontânea de lã,
- maior prolificidade,
- resistência à verminose.
O objetivo, segundo o Canal do Criador, é entregar ao produtor animais mais produtivos, resistentes e lucrativos, adaptados à realidade do campo.
Ganhos com mais carne na carcaça
Um dos destaques é o gene Bombacha, identificado em ovinos Texel, raça voltada para a produção de carne. Ele garante até 9% de aumento no peso médio das carcaças – de 17 kg para 18,5 kg – e 5% a mais no rendimento médio, de 40% para 42%.
“Esse ganho se traduz em mais receita para o produtor, já que cada cordeiro passa a entregar mais carne aproveitável por animal”, explica o pesquisador Carlos Hoff de Souza. O gene já foi introduzido em outras raças do rebanho da Embrapa e fará parte da disseminação em rebanhos comerciais.
Perda natural de lã reduz custos
Outra inovação é a seleção de animais com perda espontânea de lã, característica que responde ao baixo valor de mercado da fibra. Desde os anos 2000, o preço da lã comum despencou, tornando a tosquia um custo extra.
Na região de Bagé (RS), o serviço custa cerca de R$ 12 por ovelha ao ano, muitas vezes mais caro que o valor pago pela lã. “Esse custo pode ser ainda maior em regiões sem tradição na ovinocultura”, afirma o pesquisador João Carlos de Oliveira.
Com ovinos que perdem a lã naturalmente, espera-se reduzir em pelo menos 50% o número de animais tosquiados por ano, diminuindo despesas e a necessidade de mão de obra.
Mais cordeiros, mais rentabilidade
A maior prolificidade também faz parte da “ovelha do futuro”. Essa característica permite o nascimento de dois ou mais cordeiros por parto, ampliando a produção sem aumentar o número de matrizes.
A Embrapa já introduziu no Brasil o gene Booroola, do Merino Australiano, responsável por essa vantagem. Outros genes com a mesma característica foram identificados em raças como Santa Inês (gene Embrapa) e Ile de France (gene Vacaria).
Na prática, isso significa mais cordeiros para venda e maior retorno econômico para o produtor.
Resistência à verminose: saúde e sustentabilidade
A seleção de animais com resistência à verminose completa o pacote de melhoramento genético. Essa característica reduz a necessidade de medicamentos, corta custos e contribui para uma produção mais sustentável.
O projeto já está em fase de testes com produtores parceiros, que recebem carneiros melhorados via comodato para cruzamento com suas matrizes. A meta inicial é acompanhar 1.000 cordeiros nascidos, monitorando peso, prolificidade, resistência sanitária e qualidade de carcaça.