O feijão enfrenta impactos indiretos significativos decorrentes do conflito Israel-Irã, que se intensificou dramaticamente com a entrada dos Estados Unidos na guerra e os ataques israelenses a instalações iranianas no 11º dia do conflito.
Os efeitos se manifestam principalmente através do encarecimento dos custos de produção e logística, embora não seja mencionado especificamente como uma das commodities mais afetadas diretamente pelo conflito.
Impactos nos fertilizantes para o feijão
O feijão, assim como outras leguminosas, depende de fertilizantes nitrogenados para seu desenvolvimento, especialmente durante as fases iniciais de crescimento. Com o Irã sendo o terceiro maior exportador de ureia do mundo, responsável por 10% da oferta global com 4,8 milhões de toneladas anuais, e fornecendo 17% da ureia importada pelo Brasil, o encarecimento desse insumo afeta diretamente os custos de produção do feijão.
A ureia é fundamental para o desenvolvimento vegetativo da cultura, e sua escassez ou encarecimento pode comprometer tanto a produtividade quanto a viabilidade econômica da lavoura.
O impacto nos preços foi imediato: o fertilizante subiu de US$ 399 por tonelada para US$ 500 por tonelada em menos de uma semana. Além disso, as tensões no Oriente Médio levaram à interrupção da produção de ureia no Egito, já que Israel reduziu a produção de gás em polos estratégicos, impactando diretamente o Egito, que utiliza esse insumo na fabricação de fertilizantes.
Isso mexe na oferta do mercado global, criando pressão adicional nos custos de produção para os produtores de feijão que ainda não adquiriram os insumos para a safra 2025/26.
Efeitos do aumento do petróleo
O preço do petróleo Brent subiu 19% desde o início dos primeiros ataques israelenses, atingindo US$ 77,1 por barril (R$ 419) nesta segunda-feira (23), refletindo a entrada dos EUA no conflito e a decisão do parlamento iraniano de considerar o fechamento do Estreito de Ormuz.
Esse aumento gera efeitos cascata que impactam a cultura do feijão:
- Custos de transporte: o feijão brasileiro depende fortemente do transporte rodoviário para chegar aos centros de consumo. Com o aumento do preço do diesel – combustível essencial para abastecer caminhões responsáveis por transportar mais da metade das cargas no Brasil – os custos de frete tendem a subir, pressionando as margens dos produtores.
- Custos operacionais: as operações de plantio, tratos culturais e colheita do feijão dependem de maquinário que consome diesel, elevando os custos diretos de produção.
Impactos logísticos e risco do Estreito de Ormuz
O conflito já provoca alta dos fretes marítimos, afetando não apenas a importação de fertilizantes, mas também o custo de importação de outros insumos utilizados na cultura do feijão, como defensivos agrícolas e equipamentos.
A decisão do parlamento iraniano de considerar o fechamento do Estreito de Ormuz representa uma ameaça crítica, já que por esse pequeno trecho marítimo de 33 quilômetros passam 20% da produção mundial de petróleo, equivalente a 19 milhões de barris por dia.
Israel atacou seis aeroportos do Irã nas regiões oeste, centro e leste, destruindo pistas, hangares e aeronaves, incluindo aviões militares F-14, F-5 e AH-1. Também mirou instalações de produção energética, incluindo o complexo South Pars, que abriga um dos maiores campos de gás natural do mundo, e refinarias de petróleo no sul do país.
Cenário de incertezas ampliado
O momento exige que os produtores de feijão apertem o cinto de segurança e revisem o planejamento praticamente toda semana. A escalada militar, com Israel utilizando mais de 15 aviões de combate para atacar instalações iranianas e o Irã respondendo com ataques que deixaram 11 pessoas feridas em Israel, cria um ambiente de extrema volatilidade.
A volatilidade dos preços de insumos e combustíveis cria um ambiente de incerteza que dificulta o planejamento de safra, especialmente considerando que o feijão tem ciclos mais curtos que outras culturas, permitindo múltiplas safras anuais.
A questão cambial também afeta indiretamente o feijão, uma vez que a desvalorização do real encarece a importação de fertilizantes e outros insumos, pressionando ainda mais os custos de produção dessa cultura essencial para a segurança alimentar brasileira.
O conflito representa um risco real para as cadeias globais de suprimentos, especialmente no que diz respeito à segurança alimentar e à logística internacional, com expectativas de que os preços do petróleo possam alcançar os níveis observados no início da invasão russa da Ucrânia, gerando impacto inflacionário em diversas cadeias produtivas.
*Marcelo Lüders é presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), e atua na promoção do feijão brasileiro no mercado interno e internacional
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