A busca incessante por uma fazenda top de cria no agronegócio vai muito além da simples escolha de raças bovinas de ponta. Em um cenário onde a produtividade e a rentabilidade são imperativos, a combinação estratégica de genética e nutrição, alinhadas a um manejo preciso e ao planejamento, emerge como o verdadeiro pilar para o sucesso. Assista ao vídeo abaixo e confira.
Pecuaristas, a atividade de cria no Brasil, embora impulsionada pela evolução genética que confere maior precocidade aos animais, ainda se depara com desafios significativos.
No entanto, as fazendas mais lucrativas do país consistentemente demonstram que a chave para a prosperidade reside em uma gestão eficiente, pautada por indicadores de desempenho sólidos e uma sinergia de fatores.
Em uma entrevista exclusiva ao programa Giro do Boi, o Canal Rural teve a oportunidade de conversar com dois expoentes da pecuária brasileira: o engenheiro agrônomo Antônio Carlos Silveira, amplamente conhecido como Nenê Silveira, pioneiro na criação do conceito de novilho superprecoce, e seu filho, o também agrônomo Guilherme Silveira.
Guilherme, mestre em Nutrição e Produção Animal, lidera a renomada Silveira Consultoria. Juntos, eles compartilharam os segredos para alcançar alta performance na pecuária de cria, desmistificando a ideia de que há uma dicotomia entre genética e nutrição, e revelando que ambas são interdependentes.
Cria na pecuária moderna: desafios, oportunidades e pilares da rentabilidade

O cenário atual da pecuária, marcado por margens de lucro mais apertadas, exige que o produtor rural tenha um controle rigoroso dos números para embasar suas decisões. A cria, em particular, apresenta um vasto campo para aprimoramento e evolução.
Nenê Silveira ressalta que o objetivo não é apenas “ter um bezerro”, mas sim produzir mais quilos de bezerro por vaca exposta ou por hectare, maximizando a eficiência da propriedade.
As análises e benchmarks conduzidos pela Silveira Consultoria em parceria com o Instituto Inttegra, ao longo de mais de uma década, comprovam que a produtividade e a rentabilidade na cria estão intrinsecamente ligadas a três pilares fundamentais:
- Genética apurada: Essencial para a plena expressão de genes de qualidade, como a desejada precocidade no desenvolvimento dos animais.
- Nutrição estratégica: Atua como o “combustível” vital, permitindo que o potencial genético dos animais seja expresso em sua totalidade.
- Estação de monta eficiente: Crucial para assegurar o nascimento do “bezerro do cedo”, um animal que, por nascer em período mais favorável, tende a ser mais pesado e, consequentemente, mais valorizado no mercado.
Apesar dos avanços notáveis na evolução genética do nelore e o crescente uso do cruzamento industrial, o desafio persistente na cria ainda reside na disponibilidade e adequação da “comida” no momento certo.
Nutrição e desenvolvimento fetal: a base da qualidade do rebanho


A influência da nutrição no desenvolvimento fetal é um fator crítico, muitas vezes subestimado pelos pecuaristas. Nenê Silveira revela dados impactantes: enquanto a genética contribui com aproximadamente 38% para o desenvolvimento geral do bezerro, a alimentação desempenha um papel predominante de 62% no crescimento intrauterino.
Uma vaca que enfrenta qualquer período de restrição alimentar, especialmente durante a gestação, inevitavelmente transfere essa deficiência ao feto.
O primeiro trimestre de gestação é particularmente crucial, pois é nesse período que a placenta e os órgãos vitais do feto estão em fase de desenvolvimento.
A ausência de nutrientes adequados nesse estágio pode comprometer a estrutura e o funcionamento dos órgãos, impactando diretamente a qualidade da carcaça futura do animal.
No terceiro e início do quarto trimestre de gestação, ocorre a hiperplasia (formação) das fibras musculares, processo que determina a quantidade de carne que o animal terá. Se não houver nutrientes suficientes para essa formação, a quantidade de carne será inadequada.
Portanto, garantir o peso adequado ao nascimento é um pré-requisito fundamental para o desempenho zootécnico do animal ao longo de sua vida.
Estratégias essenciais para otimizar a cria no período da seca


O período de seca e inverno impõe grandes desafios às pastagens e, por conseguinte, à nutrição das vacas.
Guilherme Silveira enfatiza que a vaca não pode passar fome em momento algum. Para evitar o “ciclo vicioso” de vacas perdendo escore corporal, bezerros subnutridos e problemas na estação de monta subsequente, ele sugere a implementação de ferramentas e estratégias eficazes:
- Ajuste da estação de monta: Idealmente, a vaca deve passar o maior tempo possível no período das águas, quando há abundância de pasto de qualidade e o bezerro está ao pé, para evitar a perda de escore corporal. A estação de monta deve ser flexível e ajustada à disponibilidade de alimento, e não a um calendário fixo.
- Forragem conservada: É fundamental ter reservas de alimento, como feno, silagem ou outras forragens conservadas, para suprir as necessidades nutricionais do rebanho durante o período seco de inverno.
- Sequestro/recria confinada: Para os bezerros, a recria em sistema de confinamento pode ser uma ferramenta de grande valia, garantindo ganho de peso constante.
- Desmama precoce: Uma estratégia poderosa, especialmente para bezerros nascidos mais tardiamente (entre 3 e 6 meses de idade), quando a qualidade do pasto começa a declinar. Ao realizar a desmama precoce, o consumo de matéria seca pela vaca é reduzido em cerca de 30%, o que preserva a matriz e seu escore corporal para a próxima estação de monta. A desmama precoce beneficia a vaca, e o bezerro, que demanda menor custo de manejo nessa fase, apresenta melhor conversão alimentar.
O futuro da cria: tecnologia, dados e planejamento essencial


A pecuária moderna dispõe de um volume sem precedentes de tecnologia e informação. Contudo, possuir dados brutos não é suficiente; é crucial transformá-los em informações úteis para uma tomada de decisão assertiva.
A Silveira Consultoria, com uma equipe de 22 técnicos atuando em diversas regiões do país, leva ferramentas personalizadas aos produtores. Guilherme Silveira enfatiza que fazendas de cria, assim como as de recria e engorda, necessitam de um planejamento claro, com início, meio e fim.
Nas regiões tropicais, onde não existe a “reserva” natural que a neve oferece em outras latitudes, quem não planejar o fornecimento de alimento para o período seco inevitavelmente enfrentará quedas na produtividade.
É imperativo romper com a mentalidade de que “o bezerro sempre nasce”, pois a ausência de uma nutrição estratégica compromete severamente a formação do feto e, consequentemente, o desempenho futuro do animal.
A gestão eficiente e a nutrição estratégica na pecuária de cria são, inegavelmente, os segredos para alcançar a tão almejada rentabilidade.