Imagina usar o focinho do boi como uma digital exclusiva. Essa é a proposta da QR Cattle, empresa brasileira que criou um sistema de identificação biométrica para bovinos a partir do espelho nasal — estrutura única de cada animal, assim como as impressões digitais nos humanos.
Liderado pelo advogado Flávio Mallmann, CEO do Grupo Sistema Sul S.A, e pelo administrador Paulo Bitar, CEO da RD2Buzz Brasil, o projeto nasceu de uma escuta ativa do campo. “Nosso escritório é no meio da estrada. A ideia surgiu escutando o produtor, não foi de dentro do ar-condicionado”, conta Mallmann. A QR Cattle quer levar tecnologia de ponta sem complicar o manejo, ouvindo quem realmente está na lida.
Como funciona a tecnologia?
Inspirado na lógica das digitais humanas, o sistema utiliza inteligência artificial e blockchain para transformar o focinho do boi em uma chave única, segura e imutável. O reconhecimento é feito em até 4 segundos, com o animal em movimento e sem contato físico. O resultado é um “RG animal” que acompanha o bovino por toda a vida produtiva — desde as primeiras horas de nascido. “A gente já registrou um animal com 12 horas de vida”, conta Flávio Mallmann, CEO e cofundador da QR Cattle. “A partir do ID, é como se abrisse uma folha em branco. O produtor pode preencher o que quiser: informações de pai, mãe, origem, saúde, inseminação, vacinas, pesagens… tudo o que for importante pro manejo.”
A Biometria complementa o brinco eletrônico
A tecnologia não vem para substituir o brinco eletrônico, mas para complementá-lo. “O brinco é a placa, mas a biometria é o chassi. A placa você troca, o chassi não”, compara Mallmann. Em situações de fraude, furto ou perda do brinco, a leitura do focinho oferece uma camada extra de segurança.
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Conectado ao SISBOV e ao PNIB
O sistema já está preparado para atender às novas exigências do governo. A QR Cattle é integrada ao Sistema Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia de Bovinos e Bubalinos (SISBOV) e ao Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB), que passará a ser obrigatório em 2027.
Até hoje, apenas 4 milhões dos mais de 238 milhões de bovinos do país estão registrados no SISBOV. A expectativa é que, com o novo plano, essa realidade mude — e a QR Cattle quer ser protagonista nessa transição.
Pensado para todo tipo de fazenda
Sem exigência mínima de cabeças, a solução pode ser usada em qualquer propriedade, de forma simples. Basta um celular com câmera. O sistema funciona offline e sincroniza os dados assim que houver conexão.
A empresa cobra a partir de R$ 0,95 por animal ao mês. Atualmente, são 200 mil animais cadastrados — 60 mil deles em planos pagos. A meta é atingir 8 milhões até o fim de 2026.
Ganhos para a genética e segurança
Com a biometria, o produtor tem em mãos uma ferramenta poderosa para controle genético. É possível acompanhar o desempenho de cada bezerro desde o nascimento, monitorar linhagens e cruzamentos, e melhorar a seleção do rebanho com base em dados reais.
A tecnologia permite que o produtor evite perdas e identifique com precisão os animais roubados. Em um dos testes, a QR Cattle conseguiu cadastrar um bezerro com apenas poucas horas de vida.
Saúde e bem-estar animal sob controle
Além de identificar o animal de forma única, a tecnologia da QR Cattle permite registrar todo o histórico sanitário do rebanho, contribuindo diretamente para a gestão da saúde animal. As informações são coletadas de forma automatizada e integradas ao sistema por meio de smart contracts em um blockchain privado, garantindo a veracidade dos dados. Isso inclui vacinação, eventos sanitários, manejo e uso de medicamentos. Tudo é vinculado à biometria do focinho e, quando disponível, ao brinco RFID. “No frigorífico, essas informações são auditadas no momento do abate. Se estiver tudo certo, o sistema mostra um check verde para aquele animal”, explica Flávio Mallmann. O resultado é uma cadeia mais segura, com mais confiança para o consumidor e menos riscos para o produtor.
Com apoio de parcerias como o cantor e criador Sorocaba, a QR Cattle quer mostrar que é possível aplicar tecnologia de ponta no campo, sem perder a praticidade. “A gente não quer complicar. A ideia é facilitar a vida de quem já tem muito trabalho”, resume Bitar.