Um estudo realizado pela Embrapa Cerrados (DF) em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) demonstrou que planos alimentares de alta densidade energética podem transformar a reprodução bovina. Em novilhas pré-púberes da raça nelore, a estratégia aumentou em 21% a produção de embriões in vitro e antecipou a puberdade, garantindo retorno financeiro até 2,8 vezes superior ao da dieta convencional.
Novilhas mais jovens, maior eficiência
A pesquisa partiu da hipótese de que o maior aporte de energia durante a fase inicial de crescimento das fêmeas poderia influenciar diretamente a qualidade dos ovócitos e a produção de embriões. Os resultados confirmaram que animais jovens suplementados com dietas energéticas atingem peso e deposição de gordura adequados mais cedo, o que antecipa a idade reprodutiva.
Segundo o pesquisador Carlos Frederico Martins, da Embrapa Cerrados, a antecipação do primeiro parto tem efeito direto na economia dos sistemas de corte e leite.
“Se a primeira prenhez ocorre aos 14 meses, em vez dos 24 habituais, os custos caem. Isso representa maior retorno financeiro e ganhos para o melhoramento genético, já que reduz o intervalo entre gerações”, destacou.
O experimento na prática
O estudo envolveu 34 novilhas nelore pré-púberes, com cerca de 160 quilos, submetidas a dois planos alimentares: um convencional (PN1) e outro de alta energia (PN2).
No tratamento tradicional, as novilhas permaneceram a pasto com suplementação moderada, alcançando ganhos de peso esperados de até 700 g/dia. Já no regime de alta energia, as bezerras foram alimentadas com silagem de milho e concentrados mais calóricos, chegando a ganhos de 1 kg/dia.
Os resultados foram expressivos, de acordo com a Embrapa:
- 49% mais ovócitos recuperados no PN2 em relação ao PN1;
- 42% mais ovócitos viáveis;
- 21% mais embriões produzidos in vitro;
- Peso médio de 321 kg aos 12 meses, contra 309 kg do grupo convencional.
Além disso, as novilhas do grupo energético teriam apresentado melhor acabamento de carcaça e alcançaram precocidade reprodutiva semelhante à de vacas adultas.
Apesar de o plano de alta energia gerar custos 29% a 36% maiores na alimentação, o ganho na produção de embriões compensou os investimentos. Em média, cada novilha suplementada produziu 6,8 embriões, contra apenas 3,6 do grupo convencional.
A análise financeira mostrou que a receita média foi 77% superior no grupo PN2. A margem líquida chegou a ser 2,8 vezes maior na produção de embriões congelados para transferência direta (TD), considerada a mais rentável.
De acordo com a pesquisadora Isabel Ferreira, responsável pela avaliação econômica, o diferencial esteve na produtividade.
“Mesmo com custos operacionais mais altos, o maior número de embriões por novilha garantiu margens positivas. Isso prova que a dieta energética pode ser financeiramente vantajosa em sistemas comerciais”, afirmou.
Melatonina potencializa os resultados
Outro avanço foi a associação da dieta energética ao uso de melatonina, hormônio natural com ação antioxidante. O tratamento aumentou em até 13% a taxa de blastocistos, aproximando o desempenho de novilhas pré-púberes ao de vacas adultas.
Para Martins, este é um marco importante:
“O uso da melatonina melhorou a competência ovocitária e elevou a qualidade embrionária. Isso abre espaço para unir nutrição e biotecnologia em prol da eficiência reprodutiva.”