No interior de Mato Grosso, a vida da família Freitas sempre foi regida pelo ritmo das ordenhas, pelas madrugadas no curral e pela persistência silenciosa de um homem: o produtor rural Alaerte Alves de Freitas. Por 30 anos, ele se dedicou à produção de leite com afinco, mesmo em tempos difíceis, quando o lucro era escasso e a técnica, limitada.
Hoje, ao lado da esposa Zilmar e dos filhos Lucas e Gustavo, colhe os frutos de uma trajetória marcada pelo trabalho árduo e pela abertura para o novo. Com o apoio do Sebrae e do Senar, a família multiplicou a produção leiteira, alcançando picos de 700 litros diários. Agora, eles se preparam para um novo ciclo: a transição para a pecuária de corte.
Lucas Alves de Freitas, engenheiro agrônomo e técnico do Senar, guarda na memória o esforço do pai, que começou praticamente do zero. “Com seis anos, eu já tirava leite de seis vacas. Cresci vendo meu pai levantar cedo todo dia, mesmo quando não tinha certeza se valia a pena continuar”, conta.
O início foi modesto. A produção diária girava em torno de 70 a 80 litros, e quase tudo era feito manualmente. “Era tudo no braço, e a gente trabalhava com o que tinha. Meu pai sempre foi muito dedicado, mas sabia que, sozinho, não ia conseguir evoluir”, relata Lucas.
Foi nesse contexto que a chegada do projeto Balde Cheio, do Sebrae, se tornou um divisor de águas. A decisão de participar do programa não foi fácil. “A gente ficou com medo de mudar, mas minha mãe insistiu. Começamos a seguir as orientações dos técnicos e, aos poucos, vimos a diferença”, lembra Lucas.
Técnica e coragem: o segredo para crescer
O ponto de virada veio com a técnica. Com os novos conhecimentos, o rebanho ganhou qualidade genética, a pastagem foi reorganizada e a produção disparou. “Saímos de 80 para 700 litros por dia. E tudo isso foi feito com o que já tínhamos na propriedade. Só mudamos o jeito de fazer”, afirma Lucas.
Zilmar Alves de Freitas, esposa de Alaerte, também reconhece o impacto da assistência técnica. “Veio a irrigação, a divisão de pastos, a recuperação de pastagens, o controle sanitário. A produção cresceu muito. E tudo isso começou com a coragem da familia”, lembra.
Com o passar do tempo e os desafios de saúde do patriarca, a família decidiu iniciar uma transição planejada para a pecuária de corte. A decisão, embora difícil, é encarada como mais uma etapa da caminhada iniciada por Alaerte há três décadas.
“Estamos migrando do leite para o corte. É um desafio, mas temos suporte técnico da ATeG Senar, o que nos dá segurança”, afirma o filho Lucas.
A nova fase conta com apoio gerencial, controle financeiro detalhado e orientações sobre mercado e nutrição animal. Mesmo com a mudança, o respeito ao trabalho feito até aqui permanece.
“Meu pai construiu tudo isso com as mãos e com muito sacrifício. A gente só está conseguindo seguir em frente porque ele plantou essa base forte”, completa Gustavo, irmão de Lucas.
O valor de um pai que nunca desistiu
Para a família Freitas, a história do pai é uma homenagem à perseverança e à fé no trabalho rural. Desde pequeno, Lucas viveu essa realidade: com apenas seis anos, já cuidava de suas vacas leiteiras, uma rotina que manteve até se formar em agronomia.
“Neste Dia dos Pais, ele é o exemplo de um homem incansável, que nunca desistiu e sempre acreditou, mesmo nos momentos difíceis. Ele sempre diz: ‘Meu filho, um dia vai melhorar’. Hoje, graças a ele, temos conhecimento, estrutura e um futuro promissor”, orgulha-se o filho.
Mais que na produção, seu legado ensina que é possível crescer sem deixar o campo, mudar com humildade e que o conhecimento técnico é o melhor aliado do produtor familiar. A trajetória da família, marcada por superação, inovação e união, mostra que o campo é um lugar de oportunidades, especialmente quando se tem um pai que lidera pelo exemplo, mesmo em silêncio.
Do leite ao corte: uma história de legado e transformação
A transição para a pecuária de corte é um novo capítulo que se constrói sobre a base sólida de três décadas de dedicação ao leite. A capacitação técnica, o apoio do Sebrae e do Senar, e a união familiar mostram que é possível reinventar o negócio sem perder a essência. Para muitos, o leite é apenas um produto.
Para Alaerte, foi o caminho para construir um futuro melhor para os filhos. Um pai que, com sabedoria, coragem e trabalho duro, ensinou que a maior herança que se pode deixar é o conhecimento.