A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura completou 10 anos com um evento em São Paulo nesta quinta-feira (3), reunindo nomes de peso do setor produtivo, financeiro, da pesquisa e da sociedade civil. A plenária marcou o início da agenda de 2025 em um ano simbólico: o da COP 30, que será realizada em Belém (PA), no segundo semestre.
A rede, formada por mais de 400 organizações, atua com foco na proteção de florestas, no fortalecimento da agricultura de baixo carbono e na geração de renda sustentável no campo. Desde sua criação, promoveu cerca de 900 reuniões em diferentes forças-tarefa temáticas, buscando consensos e propostas viáveis para alinhar produção e conservação ambiental.
Implementar é mais urgente que debater
Durante o evento, o tom foi de urgência. Para os participantes, o desafio agora é sair da fase de discursos e entrar na de execução. Muitas soluções já estão mapeadas — o foco deve ser sua aplicação em larga escala.
“A gente já passou da fase de prova de conceito. Agora é hora de escalar e democratizar essas soluções. O setor privado não caminha sozinho”, afirmou Liege Correia, diretora de sustentabilidade da JBS, uma das empresas integrantes da coalizão.
A executiva alertou que a base produtiva do Brasil, formada por pequenos e médios produtores, não pode ser deixada para trás. Segundo ela, incluir todos na jornada da transição verde é fundamental para que o setor alcance escala e impacto real.
Produção e preservação: ainda há polarização
Para Marcelo Brito, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal e enviado especial da COP 30, o agroambiental ainda é visto de forma polarizada, dificultando avanços estruturais.
“A Coalizão existe porque ainda há quem veja produção e preservação como opostos. Mas o Brasil já avançou em descarbonização, agricultura de baixo carbono e financiamento verde. O caminho está dado, precisamos seguir”, destacou Brito.
Clima extremo já impacta produtividade
Outro ponto de destaque foi a crise climática no campo, que deixou de ser um alerta futuro e se tornou realidade. André Guimarães, diretor do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), trouxe dados alarmantes:
- Em regiões do Xingu, no norte do Cerrado, a temperatura média já subiu 4 °C nos últimos 15 anos.
- A produtividade da soja cai cerca de 6% a cada grau de aumento.
- O milho sofre ainda mais, com 8% de perda de produtividade por grau.
Essas informações, baseadas em estudos do próprio IPAM, mostram como a ação climática é também uma pauta econômica e produtiva.
O agro como parte da solução
Com a COP 30 no horizonte, o Brasil se posiciona como uma potência agrícola com responsabilidade ambiental. A Coalizão Brasil quer mostrar ao mundo que é possível conciliar produção eficiente com metas climáticas ambiciosas.
A expectativa é que os resultados dos últimos 10 anos da rede sejam convertidos em propostas práticas e políticas públicas durante a conferência. O setor agropecuário, tradicionalmente apontado como parte do problema, tem agora a chance de liderar a solução.