A suspensão das importações de carne bovina de três frigoríficos brasileiros pela China, anunciada no dia 3 de março, segue em vigor. O embargo foi justificado por autoridades chinesas com base em supostas não conformidades sanitárias, como a presença de resíduos de ivermectina em lotes exportados. Apesar disso, o impacto da medida foi mínimo no mercado brasileiro e internacional.
Segundo avaliação do analista da Scott Consultoria, Felipe Fabbri, o mercado não registrou viés de baixa após a suspensão. Pelo contrário, o Brasil bateu recordes de exportações nos meses de março e abril, encerrando o primeiro quadrimestre de 2025 com volumes expressivos. A planta de Mozarlândia (GO), uma das mais relevantes em capacidade de abate, foi a principal atingida pela medida.
A análise da consultor indica que a decisão da China teve motivação essencialmente comercial, com o objetivo de pressionar os preços da carne bovina importada. No entanto, essa estratégia não surtiu efeito prático. O preço da carne exportada pelo Brasil seguiu em alta, inclusive com valorização adicional após declarações de Donald Trump em abril, que geraram receio no mercado global e aumentaram a procura por carne brasileira, especialmente por parte de norte-americanos e chineses.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima que a liberação das unidades possa levar até seis meses. Enquanto isso, as negociações entre as autoridades brasileiras e chinesas continuam em andamento para tentar acelerar o processo de reabilitação das plantas embargadas.
Orientações sobre o uso de medicamentos
A entrevista também trouxe orientações importantes para os pecuaristas, especialmente em relação ao uso de medicamentos veterinários na fase de terminação. Produtos como a ivermectina podem deixar resíduos na carne se não for respeitado o período de carência, que varia conforme a formulação e via de aplicação — podendo ir de 30 a 120 dias.
O uso de antibióticos e promotores de crescimento também deve seguir orientação técnica, sempre respeitando dosagens e finalidades específicas. O uso incorreto pode gerar problemas como resistência microbiana ou impacto negativo na qualidade da carne. Considerando que grande parte do rebanho destinado à exportação passa por terminação em confinamento, a atenção a esses detalhes é essencial para evitar embargos futuros.
A avaliação é de que o episódio atual não reflete uma falha generalizada no manejo sanitário nacional, mas sim uma ação pontual e estratégica por parte da China no cenário comercial global.