Sempre me pergunto: como o Brasil, um dos maiores produtores de feijão do mundo, pode conviver com a queda constante no consumo interno desse alimento? O feijão, base do nosso Prato Feito, símbolo de identidade cultural e nutricional, vem perdendo espaço para ultraprocessados.
É um contrassenso: temos um alimento completo, nutritivo, barato e democrático, que somado ao arroz fica perfeito, mas que ainda não recebem o valor que merecem. Por isso defendo, com convicção, que precisamos agir agora. Não é apenas sobre mercado, mas sobre saúde pública, economia e até soberania alimentar.
Em minha visão, nós não podemos mais nos limitar a ser apenas um observador do setor. O Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe) está se posicionando como um dos articuladores de uma causa maior: transformar o feijão e arroz e os alimentos de verdade em bandeira nacional.
E não estamos sozinhos. Já contamos com instituições de peso que entenderam a importância desse movimento, como a Associação dos Irrigantes (Aprofir), a Embrapa, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), o Instituto Terras Altas (TAA), o Good Food Institute (GFI) e a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Feijão. Essa união prova que a pauta não é apenas de produtores ou de acadêmicos, mas de toda a sociedade.
Defesa do Brasil real
O consumo regular de feijão cinco vezes por semana é capaz de reduzir riscos de doenças crônicas, melhorar a qualidade de vida e aliviar gastos do sistema de saúde. No campo econômico, significa renda para milhares de famílias produtoras, empregos na indústria e novas oportunidades de exportação.
Culturalmente, o Prato Feito — com arroz, feijão, proteína e salada — é talvez o maior símbolo da nossa identidade alimentar. Negligenciá-lo é abrir mão de um patrimônio nacional. Não me parece exagero dizer: defender o feijão é defender o Brasil real, o Brasil de verdade.
Se queremos que o feijão e arroz reassumam seu protagonismo, precisamos de mobilização social, de articulação política e de compromisso produtivo. Consumidores devem se conscientizar, escolas precisam reforçar a alimentação saudável e restaurantes podem valorizar o Prato Feito.
O setor público deve dar atenção ao tema e produtores têm de investir em qualidade, rastreabilidade, sustentabilidade e comunicação com o consumidor. O movimento Viva Feijão! mostra que já estamos no caminho. Ele nasce simples, mas com potencial para crescer e se tornar uma grande campanha nacional.
Eu acredito que o futuro do Prato Feito é também o futuro dos alimentos de verdade no Brasil. Não podemos aceitar que um alimento tão completo e acessível seja relegado a segundo plano. Temos instituições, temos parceiros e temos um legado cultural que nos obriga a agir. A hora é agora. Precisamos transformar o feijão e arroz em símbolo de saúde, orgulho e união nacional.
Deixo aqui meu convite: siga a campanha Viva Feijão, compartilhe esta mensagem e ajude a espalhar essa ideia. O Brasil precisa, e o arroz e feijão merecem.

*Marcelo Lüders é presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), e atua na promoção do feijão brasileiro no mercado interno e internacional
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