segunda-feira, 21 de julho de 2025

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Ajustar o ciclo produtivo é a resposta do pecuarista à sobretaxa de 50% dos EUA

A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos agropecuários brasileiros, incluindo a carne bovina, é um golpe direto na rentabilidade do pecuarista exportador e um fator de distorção no mercado interno. Ao reduzir a competitividade do Brasil lá fora, a medida força o escoamento da produção internamente, o que pressiona os preços e impõe uma urgência: como manter a atividade com margem diante da retração das exportações?

A resposta está na técnica. Mais precisamente, em adaptar o ciclo produtivo da pecuária de corte com inteligência econômica, reduzindo custos e otimizando o tempo. É hora de trabalhar menos com produtividade máxima e mais com rentabilidade defensiva.

Cria: foco em qualidade e economia

O primeiro passo está na cria. Neste momento, não se trata de expandir o número de bezerros a qualquer custo, mas de selecionar melhor as matrizes e focar nos lotes mais produtivos, reduzindo gastos com suplementações desnecessárias.

Reprovar áreas menos produtivas para reprodução também ajuda a aliviar a pressão sobre os custos.

Recria: tempo é aliado, não inimigo

Na recria, o ideal é esticar o ciclo a pasto, priorizando o ganho de peso compensatório e reduzindo a dependência de ração. Em vez de pressa, o manejo deve ser guiado por eficiência de conversão e escore corporal, com suplementação mineral apenas quando necessária.

Essa estratégia permite diluir o custo fixo por animal ao longo do tempo, sem comprometer a qualidade do ganho de peso.

Engorda: adiar o confinamento e preservar capital

Na etapa de engorda, o confinamento, que normalmente é uma ferramenta de aceleração, deve ser adiado. O custo por arroba no cocho ultrapassa R$ 300 em muitos casos. Já a engorda prolongada a pasto pode reduzir esse valor em mais de 30%.

Essa tática transforma o boi em uma espécie de estoque vivo, capaz de ser valorizado no futuro, à medida que o mercado volte ao equilíbrio. Guardar arrobas agora pode ser mais lucrativo do que entregá-las a preço de liquidação.

Clima, pasto e caixa: o tripé da cautela

Se o pecuarista optar por segurar os animais por mais tempo, precisa garantir a capacidade de suporte das pastagens, especialmente na seca. A decisão também imobiliza capital, exigindo planejamento de caixa e resiliência financeira.

Essa é uma estratégia que exige paciência, manejo e coragem para desacelerar na hora certa.

Quem segurar o boi agora pode salvar a margem mais à frente

O momento exige pragmatismo. Não é hora de produtividade a qualquer preço. É hora de gestão racional, baseada em biologia animal, inteligência de custo e uso estratégico do tempo. Se o mercado externo está hostil, o pecuarista deve fazer do pasto seu escudo.

Segurar o boi hoje pode garantir o lucro de amanhã.

Miguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


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