terça-feira, 18 de março de 2025

Rádio SOUCG

  • ThePlus Audio

Términos Inacabados

“O grande problema de São Paulo é que a gente anda, anda, e nunca chega a Ipanema” 

Vinicius de Moraes

Outras Linhas Reprodução:Internet

Episódio 1 – Afanes, o jornaleiro filósofo.

Sei muito bem que estou me arriscando em me expor aqui, num portal de grande circulação. Mas, ao mesmo tempo, se algo acontecer comigo isso aqui é uma garantia de que os culpados serão encontrados. Punidos já é uma outra história, afinal estamos no Brasil!

Era uma segunda de manhã, andei até a banca de jornais, não a mais próxima, mas uma que me falaram que era especial. Precisava com urgência da droga de revista que foi censurada. Rodei pelo Rio e pedi para que amigos tentassem em Sampa. Impossível achar.

Finalmente cheguei na banca “Eole”, que parecia mais um sebo:

Um sujeito estranho estava lendo confortavelmente na berger, bem atrás da banca.

‘O Sr. tem a última edição dos “Grandes Influencers Brasileiros?’

‘Está esgotada’. (ele fez cara de tédio e se levantou para empilhar livros antigos, no topo da pilha o clássico de Stephan Zweig: “Brasil, País do Futuro”)

‘Vende como água, né?”

‘Pais do futuro’? Nem pensar! Hoje ninguém conhece o autor, e ele foi um dos maiores escritores do mundo’.

‘Eu me referia à Revista, a dos Influencers”.

‘Ah essa ai vende! O que tenho aqui é uma outra Revista: ‘Grandes Nomes Esquecidos da Política Nacional’ (e mostra a capa com um sujeito que há alguns anos quase ganhou a eleição na cidade mais populosa da América Latina).

‘E precisa de revista para esquecer?’

‘Desculpe incomodar, mas o que é que a sra. procurava naquela revista?”

‘Para encurtar: meu ex virou influencer e agora dá entrevistas com dicas para enganar trouxas.

Afanes faz cara de paisagem.

“Ele foi o destaque da última edição, preciso conferir.

“Moça, não sei seu nome…’

‘Meu nome é Jerusa.”

‘Vendo revistas aqui no Leblon faz 36 anos, e garanto, é estatístico, as pessoas gostam mesmo é das mentiras”.

‘Uhnn, mas amigo, é que o que ele fez comigo foi algo muito além da sacanagem, ele me colocou em risco’.

‘Eu acredito! Você nem imagina Sra., as coisas absurdas que a gente ouve aqui na banca. Conheço bem esse pessoal. Bato o olho no que a pessoa escolhe na banca e já sei o que vou ter que escutar. Não me leve a mal, mas aqui não fico só na análise não, sou um crítico.’

E Afanes prossegue:

‘Meu espaço funciona como um confessionário. Então, moça, pode ficar à vontade, tenho fama de ‘terapeuta da banca’.

‘Bem (hesitante), o Sr. quer que eu fale aqui, assim, ao ar livre?

‘Ué, dizem que era assim lá na Grécia, o pessoal consultava os sábios, chamavam de peripatéticos, ou filósofos itinerantes.’

‘É muito patético. (risos) Então o Sr. é filósofo?’

‘Formado não! Cursei filosofia por dois anos e larguei. Meu nome é Aristófanes, acabou ficando Afanes.

‘Afanes, o sr. lê muito?

‘Já li muito mais do que toda essa moçada que está por aí. Hoje só autores fora de moda, ou os que foram publicados há mais de 100 anos. E só leio se for em papel.

‘Então Aristófanes (risos) este sr…

‘Seu ex?

‘Ele mesmo.

‘Engraçado, já notou que as pessoas não gostam de chamar o ex pelo nome? ‘ ‘Agora que você falou, é mesmo, me dá enjoo tocar no nome dele’. Você já deve ter ouvido falar: Bráz Meson, também conhecido como Zoilo M. Olha aí, — mostra o braço — arrepio só de falar no traste.’

‘Bráz Cubas seria bem mais sonoro. O que ele te fez de tão ruim?’

‘Roubou todos os meus diários (Jerusa enuncia com voz embargada)’

(Prossegue depois de uns minutos enquanto Afanes a observa)

‘E lá está tudo. Sabe? Tudo mesmo. O diário com informações sensíveis, entende? Não só as minhas fraquezas, mas também segredos e coisas que podem complicar muita gente. Jerusa se aproxima do jornaleiro e fala quase sussurrando em seu ouvido: sou escritora, mas trabalho com marketing político!

‘Posso imaginar’, reclama Afanes.

‘E ele fica fazendo “lives” manja? Por isso precisava muito deste último número da revista. Seria uma prova. Cancelaram o site da Editora que publica, e dizem que recolheram a Revista, é verdade?’

‘Não sei’, o jornaleiro responde lacônico. ‘Me dê uns dias, consigo a Revista para você’.

‘Sério? Obrigado Afanes! Passo aqui de novo na quinta.

Jerusa sai emocionada enxugando as lágrimas com a manga da camisa.

Afanes volta para sua caverna atrás da banca.

Uma placa de papelão está fixada na poltrona: “Aqui é Divã da orla”.

Continua

Episódio 2

Jerusa segue as pistas para encontrar os diários roubados.

Episódio 3

Breve história de Afanes, o jornaleiro filósofo

gente.ig.com.br

Enquete

O que falta para o centro de Campo Grande ter mais movimento?

Últimas