O cinema tem avançado ao retratar narrativas de mulheres com mais de 60 anos, um grupo frequentemente negligenciado ou reduzido a papéis estereotipados, como mãe ou avó, sem a oportunidade de protagonizar suas próprias histórias. No entanto, o cinema internacional tem dado passos importantes para corrigir essa falha. Um exemplo recente é o filme iraniano Meu bolo favorito , dirigido pelo casal Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha, que estreia nesta quinta-feira no Brasil.
A trama se concentra na vida de Mahin (Lily Farhadpour), uma mulher viúva, em seus 70 anos, que mora sozinha em Teerã e enfrenta a monotonia da solidão. Sua rotina consiste em conversar com a filha que vive na Europa, cozinhar, tricotar e assistir TV. Um dia, ela decide acompanhar suas amigas a um chá da tarde, o que acaba sendo o ponto de partida para uma mudança em sua vida. Ela conhece o taxista Faramarz (Esmaeel Mehrabi) e, juntos, desenvolvem um romance. Mahin convida o homem a ir até sua casa, onde bebem, dançam e conversam. O filme aborda as preocupações comuns entre eles, como o envelhecimento, a morte e o desejo de continuar amando.
Embora seja uma comédia romântica, o filme não deixa de refletir sobre as questões sociais e políticas do Irã, especialmente no que diz respeito aos direitos das mulheres. ou a falta deles. Os cineastas Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha estão em constante conflito com o governo iraniano devido às críticas à repressão em seus filmes. Inclusive, foram impedidos de viajar para promover Meu bolo favorito em festivais internacionais. Apenas a representação na tela de uma mulher sozinha com um homem em sua casa já era motivo para eventuais represálias do governo iraniano.
“Eles invadiram a casa do nosso editor. Levaram os discos rígidos, os computadores, tudo. Assistiram ao filme e começaram os interrogatórios. Quando queríamos ir a Paris para finalizar a pós-produção, pegaram nossos passaportes e nos deram uma proibição de viagem. O caso já dura quase um ano. Não podemos viajar com o filme. Não podemos ir a nenhum festival ou estreia”, declarou Behtash Sanaeeha, em entrevista ao site Another Mag.
Ainda assim, isso não os impediu de levar o filme a novos públicos. O longa participou de importantes eventos, como o Festival de Berlim, onde venceu o Prêmio FIPRESCI de Melhor Filme, e o Festival de Cinema do Rio de Janeiro.
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