sábado, 21 de dezembro de 2024

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“O Quebra-Nozes” de George Balanchine: 70 anos do ballet que reinventou o Natal

Entramos em dezembro e é aquela época do ano na qual Tchaikovsky é a trilha sonora nas quatro partes do mundo. Isso graças a uma de suas obras mais populares, a música do balé O Quebra-Nozes . Pois bem, em seus 132 anos, a versão mais popular para alguns (como eu) é a imbatível versão de George Balanchine que 2024 complet ou 50 anos .

Criada para o New York City Ballet a partir de lembrança s dos natais que coreógrafo viveu como criança na Rússia, a produção é considerada um programa obrigatório de Natal na cidade e confesso, porque vi ao vivo mais de uma vez, é mesmo emocionante. É uma das coisas mais perfeitas criadas por Balanchine , foi transformada em filme em 1992 e segue atemporal.

Quando estreou em 1954, a companhia era formada por 90 bailarinos, 62 músicos, 40 ajudantes de palco e o coreógrafo trouxe mais de 125 crianças para o palco, todas estudando na School of American Ballet. Por isso mesmo é a tradição porque é o balé que marca todo profissional da dança , que, invariavelmente, em algum momento, dançou “O Quebra-Nozes” ainda pequeno. Também está aí a razão de ser tão mágico, como a árvore de cerca de 12 metros de altura que marca o começo do sonho de Clara. Seja na plateia ou no palco, a reação é a mesma, garanto. Doce, feliz e esperançosa.

Mas se engana quem pensa que é simples. O Quebra-Nozes é também um dos balés mais complexos do repertório da Companhia do New York City Ballet . Só a árvore é um trabalho intricado e difícil, que envolve muitos profissionais para apenas alguns minutos.

Outro destaque, embora algumas vezes eu não tenha curtido, são os trajes coloridos criados por Karinska , assim como os cenários mágicos de Rouben Ter- Arutunian . Cada cor, forte ou pastel, reflete uma memória do criador, alinhado com elementos do palco e uma iluminação projetada para intensificar a imaginação com efeitos visuais frequentemente aplaudidos em cena aberta. Seja a neve que cai no primeiro ato, a árvore de Natal que cresce de 4 para 12 metros em uma cena importante, a figura cômica da Mãe Ginger do alto dos quase três metros de largura e uma saia que demanda nada menos que um time de três pessoas para movimentar, o que não falta são momentos de suspiro.

No primeiro ato, na festa de Natal dos Stahlbaum , Marie (Clara) e Fritz, brincam com amigos e anseiam pelas trocas de presentes. O padrinho de Marie, Herr Drosselmeyer e seu sobrinho, trazem bonecos de tamanho natural, mas é o pequeno quebra-nozes que encanta a menina. Fritz quebra o boneco , Drosselmeyer o conserta, mas depois que todos se vão, ela volta sozinha até a sala para dormir perto do brinquedo. Em um sonho ultra real, ela encolhe para o tamanho onde fica de igual estatura dos bonecos e dos ratos, que atacam. Ela é salva, claro, embarcando numa viagem mágica ao mundo dos doces antes de acordar na sala na dúvida do que “realmente” aconteceu.

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No segundo ato, Balanchine fez mudanças importantes. O solo da Fada Açucarada é um dos primeiros movimentos do segundo ato e o pas -de- deux , depois de uma estonteante Valsa das Flores (cuja primeira solista foi a encantadora Tanaquil Le Clercq ) é um desafio da física para os dançarinos. Por isso vale buscar o filme com Macaulay Culkin para entender uma parte do que estou descrevendo. Podem até ter 70 anos, mas não envelheceu em nada.

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Paul Kolnik site New York City Balletreprodução

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Paul Kolnik site New York City Balletreprodução

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Paul Kolnik site New York City Balletreprodução

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Paul Kolnik site New York City Balletreprodução

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Paul Kolnik site New York City Balletreprodução

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Paul Kolnik site New York City Balletreprodução

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Paul Kolnik site New York City Balletreprodução

Lembrando o começo : o último ballet de Tchaikovsky

Historiadores comentam que Tchaikovsky não gostou particularmente de trabalhar na partitura do que viria a ser seu último balé, O Quebra-Nozes . Ele aceitou a encomenda do Teatro Imperial para entregar dois projetos e um dele o reuniria com o coreógrafo Marius Petipa . Os dois tinham feito sucesso dois anos antes com A Bela Adormecida , mas nem a trama nem o desafio de O Quebra-Nozes o agradaram profundamente. Curiosamente é justamente, 13 2 anos depois, é a elogiada música do balé que é uma das suas composições mais conhecidas e adoradas, meio que uma trilha sonora mundial para as festas de Natal.

O Quebra-Nozes é também uma obra nostálgica para dançarinos e a principal fonte financeira em um árido universo de recursos como o da Dança. Só para se ter uma ideia, estima-se que a venda de ingressos para a tradicional produção do The New York City Ballet represente pelo menos 45% do lucro anual da companhia. Esse valor é maior para companhias menores ou semiprofissionais, fazendo de O Quebra-Nozes uma das obras mais importantes do balé clássico. A pandemia, por exemplo, que impediu a apresentação ao vivo e interrompeu a tradição de mais de 66 anos, representou um prejuízo de mais de 70% para a companhia em 2020. Sem o prestígio artístico de outras obras, o balé natalino garante sua importância por essa fonte de lucro.

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Tudo começou quando o diretor do Teatro Imperial da Rússia, Ivan Vsevolozhsky , selecionou o tema a ser trabalhando no final do ano: a adaptação da história de E. T. A. Hoffmann , A História de um Quebra-Nozes , por sua vez inspirado no O Quebra-Nozes e o Rei dos Ratos , de Alexandre Dumas . O balé estreou em São Petersburgo em 6 de dezembro de 1892, a pedido do czar Alexandre III , que estava presente na plateia. A música foi sucesso imediato, a coreografia, mais ou menos. O enredo foi ultra simplificado para poder ser contado em dois anos (e um prólogo), recontando a história de Clara (ou Marie, na Rússia), uma garotinha que ganha um quebra-nozes de brinquedo e em seus sonhos ela o salva do ataque do Rei dos Ratos. O Quebra-Nozes se transforma então em um belo príncipe que a leva para a terra açucarada. Na manhã seguinte, ela desperta sozinha na sala, feliz pela noite de Natal mágica.

Na remontagem do balé, alguns anos depois, a idade de Clara foi alterada para que ela pudesse ser dançada desde o início pela principal bailarina da noite e não apenas no final, como na apresentação original. Um dos que voltou ao conceito de 1892 foi George Balanchine .

Mas é como negócio que “ O Quebra-Nozes” mantém sua importância m ais de 130 anos depois. Aos poucos , a obra se transformou em uma peça de marketing lucrativa porque permite aplicação da marca das companhias em eventos e produtos relacionados que geram receita extra. Enfeites, sabonetes, soldados e – claro – o Quebra-Nozes. Existem parcerias do New York City Ballet e várias lojas, desde a Tiffany a lojas de brinquedos, e estima-se que os “negócios auxiliares” possam arrecadar mais de 200 mil dólares extras. Somando os mais de 2 milhões de dólares arrecadados nas bilheterias da temporada que começa em dezembro, é o suficiente para sustentar todo elenco ao longo do ano.

Não é por nada que O Quebra-Nozes seja apontado como a grande vaca leiteira da dança clássica, cuja genialidade é por ser associada às crianças. Isso mesmo, por conta da história infantil, o balé conta com muitos papéis de destaque feitos para o público infantil, que gosta de participar e também movimenta a compra de produtos. Uma equação vencedora.

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O sucesso nas salas de concerto antes dos palcos

A hesitação de Tchaikovsky com “O Quebra-Nozes” se revelou um erro de julgamento do compositor. Ao apresentar trechos da música em um concerto (a versão suíte) tanto o público como os críticos aprovaram, dando maior confiança ao exigente músico. “O Quebra-Nozes” traz algumas das melodias mais famosas de Tchaikovsky, e é desde os anos 1960s, quando retomou popularidade, uma das trilhas obrigatórias de Natal.


A versão de 1892

Mas a polêmica mesmo não é em torno da música, mas sim de quem efetivamente assinou a coreografia do ballet, que estreou no dia 18 de dezembro de 1892. Marius Petipa ou seu assistente e sucessor, Lev Inavov ? Os dois levam crédito, mas reza a lenda que Petipa contribuiu pouco ou mesmo nada com a obra.

Assim como fez em A Bela Adormecida , Petipa encomendou a música para Tchaikosvky apenas sem a melodia. Sua orie n tação era tão detalhada que definia para cada peça o tempo e compasso que qu e ria. Porém, assim que começou a trabalhar, em agosto de 1892, Petipa ficou doente e precisou se afastar. Ivanov, seu assistente há sete anos, tomou a frente da criação.

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Pelo visto os bastidores foram confusos porque a primeira versão do ballet não foi unânime como os trabalhos anteriores. A primeira apresentação ficou longe do sucesso. Alguns críticos elogiaram detalhes, outros, detestaram. A inovação de colocar crianças dançando no papel de crianças (uma tradição mantida desde então) não ganhou apoio. A cena da batalha foi considerada confusa e amadora, o roteiro que omitiu partes da história original foi também alvo de reclamações, assim como a transição do mundo real para o mágico foi descrita como “abrupta”. Para piorar, a principal bailarina – que faz a Fada – não dança até praticamente o final do ballet. Nem a música, em geral aprovada, despertou muitos elogios.

Não é surpresa então que O Quebra-Nozes tenha ficado “esquecido” até Alexander Gorsky fazer uma primeira revisão, em 1919. Nela, o pas -de- deux da Fada foi “dado” para Clara e o Quebra-Nozes, tirando as crianças da montagem. Essa alteração foi copiada em várias produções até o dia de hoje.

Em 1934, O Quebra-Nozes foi montado pela primeira vez na Inglaterra, se inspirando na coreografia de Petipa e Ivanov e apenas 10 anos depois chegava aos Estados Unidos , logo se torn ando uma produção “obrigatória” natalina.

Para muitos no ocidente, a versão “definitiva” é a de Georges Balanchine . Na primeira apresentação, Maria Tallchief era a fada e T a naquil Le Clercq ganhou um solo espetacular na Valsa das Flores , que é o ponto alto de toda apresentação.

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Por isso mesmo, sete décadas após sua estreia, a versão de “O Quebra-Nozes” de Balanchinecontinua sendo um marco indiscutível para a cultura natalina. Mais do que um espetáculo, ela é um exemplo vivo de como a arte pode transcender gerações, combinando memória pessoal, excelência técnica e apelo universal. Balanchine não apenas reinventou um clássico, mas transformou-o em um fenômeno cultural, uma tradição que conecta crianças e adultos, dançarinos e público, realidade e fantasia.

O Quebra-Nozes celebra a magia do Natal e a imaginação infantil, e é a prova de como a arte pode ser ao mesmo tempo atemporal e profundamente enraizada em seu contexto histórico. Que continue encantando por muitos natais futuros !

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