Nos últimos dias, um tema ganhou destaque no debate nacional: a Proposta de Emenda à Constituição que propõe o fim da jornada de trabalho 6×1. Essa discussão, que tem dominado as redes sociais, coloca em questão a importância do descanso na construção de uma vida mais digna e equilibrada.
Esse movimento, é claro, entra em confronto com os princípios do sistema econômico vigente, tornando seus desdobramentos ainda mais imprevisíveis. Para aprofundar este debate, selecionamos cinco livros — que vão da sociologia à ficção — que abordam a relação entre trabalho, neoliberalismo e a necessidade de descanso dentro da nossa sociedade.
Descansar é resistir – Um manifesto (2024), de Tricia Hersey
Tricia Hersey explora a importância do descanso como um ato de resistência em um mundo obcecado pela produtividade. Ela argumenta que trabalhar em um ritmo exaustivo nos desumaniza e alimenta um sistema que nos explora. Ao afirmar que o valor de uma pessoa não vem de sua produtividade, Hersey convida os leitores a repensar a relação com o descanso, sugerindo que ele é um caminho para reconectar-se com a própria humanidade e sonhar com um futuro mais justo e sustentável.
Sociedade do Cansaço (2010), de Byung-Chul Han
Byung-Chul Han argumenta que a sociedade repressiva descrita por Foucault deu lugar a uma nova forma de controle: a “violência neuronal”, onde as pessoas se cobram cada vez mais. Essa pressão aumenta casos de doenças como depressão e burnout. O livro ajuda a entender como essa ideologia da positividade afeta a vida moderna e pode ser útil para educadores, psicólogos e gestores compreenderem os desafios do século XXI.
A Nova Razão do Mundo: Ensaio Sobre a Sociedade Neoliberal (2016), de Pierre Dardot e Christian Laval
Os autores examinam o neoliberalismo em profundidade, desvendando sua influência global como uma racionalidade que molda todas as relações sociais, indo além de uma simples doutrina econômica. A obra explora como o neoliberalismo transforma indivíduos em “sujeitos empresariais”, responsáveis por se autogerir e maximizar seu valor em todas as esferas da vida. O livro também revela o impacto desse sistema na corrosão da esfera pública e democrática, levando à chamada “era pós-democrática”.
Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico (2021) , de Vladimir Safatle e Nelson da Silva Junior
O neoliberalismo, por meio de práticas como a individualização da culpa, a rejeição ao fracasso, o culto ao mérito e a constante criação de crises e mudanças, extrai um excesso de produtividade das pessoas. Este livro revela como esse modo de produção criou uma nova forma de sofrimento, que se tornou uma moral inquestionável, afetando nossas vidas. Ele se posiciona como uma resposta crítica aos manuais de gestão e motivação, às narrativas de sucesso e aos discursos que moldam indivíduos como se fossem empresas.
A Angústia do Precariado: Trabalho e Solidariedade no Capitalismo Racial (2023) , de Ruy Braga
O livro examina o comportamento político dos trabalhadores racializados e brancos em pequenas cidades rurais dos Estados Unidos, com foco na eleição de Donald Trump em 2016. A pesquisa, realizada na região dos Montes Apalaches, desafia a ideia de que a eleição foi apenas uma reação de uma classe trabalhadora branca ressentida, mostrando, em vez disso, trabalhadores imersos em uma profunda crise socioeconômica, o que os aproximou das condições de vida das comunidades negras.
A alma perdida (2020), de Olga Tokarczuk
Ilustrada por Joanna Concejo, vencedora da Menção Especial do Prêmio Bologna Ragazzi 2018, A alma perdida é a mais nova obra de Olga Tokarczuk, laureada com o Prêmio Nobel de Literatura. Voltado ao público jovem, o livro narra a história de um homem que, imerso no trabalho, não percebe a passagem do tempo, vivendo de forma monótona, como se estivesse preso em uma folha de caderno com quadradinhos iguais.
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