A presença feminina no campo se fortalece e transforma o agronegócio a cada dia. Apesar dos desafios, as mulheres estão saindo do papel de coadjuvantes e assumindo posições de protagonismo. Essas são palavras de Caroline Barcellos, produtora de soja e a única mulher a presidir uma Aprosoja, na região do Tocantins . “Sou da sétima geração no agronegócio brasileiro e trago a força da mulher para o agro, uma herança de muitos anos de dedicação e trabalho no campo”, diz.
O Soja Brasil teve a oportunidade de conversar com a presidente e outras mulheres durante o evento Caras Country Talks, realizado em São Paulo na última terça-feira (15), em celebração ao Dia Internacional da Mulher Rural, data que destaca o papel das mulheres no setor.
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História escrita ao longo de gerações
Natural de Porto Nacional, Caroline Barcellos destaca: “Minha avó e minha mãe já participavam do agro, mas essa não é a realidade de muitas mulheres no setor. Por muito tempo, elas não tiveram a força necessária para uma participação ativa. Hoje, estamos trazendo um novo olhar e uma nova força feminina para o nosso agronegócio. Estamos abrindo fronteiras para que o caminho das futuras gerações seja mais acessível e repleto de oportunidades.”
Celebrando a trajetória feminina
De acordo com o site do evento, 19% das proprietárias de estabelecimentos agrícolas são mulheres, e cerca de 947 mil delas gerenciam seus próprios patrimônios. Além disso, 34% dos cargos de liderança no agronegócio são ocupados por mulheres, e aproximadamente 30 milhões de hectares estão sob administração feminina, o que corresponde a cerca de 8,5% da área agrícola total. Esses números ressaltam a crescente presença e influência feminina no setor agropecuário.
O olhar feminino no agro
Emília Raucci, diretora de qualidade da JBS, foi palestrante no evento e representa a nova geração de líderes no campo. Sua participação destaca a importância de celebrar as conquistas femininas, fundamental para inspirar e promover a igualdade de gênero no setor agro, evidenciando o papel das mulheres na transformação e no fortalecimento da agricultura.
Durante sua apresentação, Emília abordou a visão da mulher no agro, destacando temas como inovação, colaboração e empreendedorismo. Ela mencionou diversos projetos que têm impulsionado mudanças tecnológicas no agronegócio, como a migração dos monitoramentos de processos para um sistema eletrônico, que transformou o dia a dia dos colaboradores. Essa mudança permitiu que a equipe aproveitasse melhor a visão crítica dos funcionários, em vez de se concentrar em tarefas manuais.
Emília também falou sobre o conceito de “escritórios verdes”, que exemplificam o empreendedorismo e a inovação no setor. Esses escritórios oferecem suporte aos fornecedores, ajudando a resolver dúvidas e problemas relacionados à visão socioambiental, integrando-os novamente à cadeia produtiva e à pecuária.
Para ela, o uso da tecnologia e da inovação é importante para a inclusão e evolução de todos na cadeia do agro, promovendo um futuro mais sustentável e colaborativo.
Referência no segmento
Sônia Bonato, produtora rural de Goiás, compartilha sua trajetória inspiradora no mundo da soja e do agronegócio. Proprietária da Fazenda Palmeiras, localizada em Ipameri, na região da Chapada, ela viveu no campo durante a infância, mas se afastou do setor após a mudança da família para a cidade, permanecendo longe do agronegócio por 30 anos. Somente após se unir ao marido em uma propriedade adquirida por ele, Sônia teve a oportunidade de retornar às suas raízes e retomar sua conexão com a agricultura.
“Comecei a aprender sobre plantio, colheita e a gestão da propriedade. Enquanto meu marido cuida da parte técnica, eu me dedico à administração”, conta Sônia. Juntos, eles começaram a cultivar soja e a criar bezerros, crescendo ano a ano, mesmo em um ambiente onde havia poucas mulheres no setor.
Sobre o plantio deste ano, Sônia comenta que a soja em Goiás está em um estágio normal para o início de outubro. “Para a safrinha, precisamos plantar até o dia 20 ou 30 de outubro. Já tivemos quatro boas chuvas, e acredito que até o final do mês nossa área estará completamente plantada”, afirma.
Ela revela que, embora sua propriedade não seja muito grande, é bastante produtiva, com uma média de 70 a 75 sacas por hectare em uma área de 65 hectares. “Minha soja é certificada e exportada para a Holanda, o que valoriza nosso trabalho e garante qualidade”, explica.
Sônia destaca que a certificação é uma exigência crescente no mercado, essencial para a sobrevivência dos produtores. “Quem não tiver certificação pode enfrentar dificuldades para vender sua produção. É uma prática que deve ser encarada como normal no dia a dia da fazenda e que pode até melhorar a renda”, aconselha.
Em meio aos grãos, a paixão pelo conhecimento
Malu Anchieta é uma agricultora de Astorga, no Paraná, dedicada à produção de grãos como soja, milho e trigo. Sua trajetória é marcada por desafios, especialmente diante da complexidade de se manter no campo em meio à incerteza climática que impacta as safras. Para a próxima safra, 2024/2025, Malu mantém um otimismo cauteloso, reconhecendo a importância da chuva e das condições climáticas, que muitas vezes estão além de seu controle, mesmo com os investimentos em tecnologia.
Apaixonada pela troca de conhecimento, ela contou ao Soja Brasil que acredita que a prática é essencial para o desenvolvimento do agronegócio. Malu lidera núcleos de inclusão feminina, promovendo a participação ativa das mulheres no setor agrícola. Sua história reflete um espírito de apoio mútuo e superação, e ela também se destaca como defensora da saúde mental no campo, conscientizando sobre a prevenção e o tratamento da depressão entre trabalhadores rurais.
Coração no campo
Kislei Tavares da Silveira, de Guadalajara, Minas Gerais, é um exemplo inspirador de como a tradição familiar e a paixão pela agricultura se entrelaçam. Desde pequena, cresceu em meio à cultura do campo, com avós e bisavós dedicados à atividade agrícola. Após 20 anos em Belo Horizonte, ela decidiu voltar para sua fazenda. “Não aguentei ficar longe do que amo. A vida no campo é onde eu realmente pertenço”, compartilha.
Nos últimos três anos, tem se dedicado ao cultivo de soja, uma atividade que trouxe satisfação pessoal e momentos valiosos com seu marido e filhos. “É muito gratificante trabalhar com a terra e ver os frutos do nosso esforço”, diz.
Mãe de Gisele e Maria Rita, a produtora valoriza o papel da mulher no agronegócio. Ela acredita que o empoderamento feminino é essencial para o futuro da agricultura. “As mulheres devem se sentir encorajadas a assumir papéis ativos no campo. Temos muito a contribuir”, ressalta.
Força, inclusão e otimismo
Ani Sanders é uma representante da força feminina no agronegócio, na Fazenda Progresso, no Piauí. Sua trajetória começou ao se casar e acompanhar o marido na vida rural, onde desenvolveu um espírito de colaboração essencial para o crescimento da propriedade.
Com o tempo, Ani se tornou mãe e assumiu responsabilidades cada vez maiores. Cuidar dos filhos, da propriedade e do marido faz parte da sua rotina, e seu amor pela família e pela terra só cresceu. “A dedicação e os compromissos se tornaram maiores, assim como as responsabilidades”, afirma.
Agora, aos 61 anos, Ani mantém um espírito e uma visão inclusiva para o agro. “Quero transformar o setor, incluindo aqueles que se sentem excluídos”, diz. Para ela, capacitar as pessoas e garantir espaço para todos no agronegócio é fundamental. “O agro é vasto e temos muito a aprender”, ressalta.
Com otimismo, Ani compartilha suas esperanças para a safra: “Que ela nos proteja e não nos castigue. Espero que consigamos atingir nossos objetivos.” Enquanto chove em Minas, o Piauí também apresenta sinais promissores, deixando-a animada com o futuro. “Vejo muita sinergia onde as coisas estão acontecendo e estou otimista sobre o agro”, conclui.