domingo, 6 de outubro de 2024
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A Bossa de Lyra

Segundo Carlos Lyra, ao longo desses 50 anos de Bossa Nova, existem muitas histórias sem fundamento e definições erradas. “Em primeiro lugar, Bossa Nova não é um movimento como muitos denominam. Nenhum de nós jamais se juntou para fazer manifestos, ninguém estava pensando num objetivo comum. Tudo foi muito espontâneo. Nós só nos demos conta da importância do que estávamos fazendo no show no Carnegie Hall, em 1962”, explica.

Embora espontânea, Bossa Nova não se resume a um estado de espírito, como descreveu certa vez Ronaldo Bôscoli. Outro absurdo para o compositor é a afirmação de que se cantava baixinho para não incomodar os vizinhos. “A maioria das casas onde fazíamos música tinham pé-direito altíssimo, a minha, a de Nara Leão, a de Vinicius. Essa história é engraçadinha, mas muito simplista, não faz sentido”, rebate.

O que é Bossa Nova então? Para Carlos Lyra é uma maneira de compor, de tocar e de interpretar. “É um surto cultural nascido na zona sul do Rio de Janeiro, proveniente da classe média, em virtude do desenvolvimento econômico e político do país naquela época. O Brasil estava em franco crescimento, e a gente tinha tempo e sossego para falar de amor. Não era um momento para contestar o governo, protestar”, argumenta.

Por que cantar baixinho? “Era o contraponto aos vozeirões da Rádio Nacional, que cantavam dores-de-cotovelo, dores-de-corno, que colocavam a mulher na condição de malvada. Cantar baixinho e enaltecer a mulher fazia parte do discreto charme da burguesia”, explica.

De onde vem o nome Bossa Nova? “A primeira vez que ouvimos esse nome foi no Clube Hebraico, onde eu, Sylvinha, Menescal e Bôscoli nos apresentamos em 1957. O diretor social do clube usou ‘Os Bossa Nova’ para anunciar nosso show, mas não considero que ela tenha nascido ali, porque o time não estava completo. Não tinha Tom, João e Vinicius.”

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No primeiro número da coleção 50 Anos de Bossa Nova, Bravo! defendeu a tese de que a Bossa nasceu com o disco Canção do Amor Demais , gravado por Elizeth Cardoso, em 1958, com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes e violão de João Gilberto. Bravo! entende que estavam ali reunidos os três principais nomes dessa fase ímpar da música popular brasileira: o maior compositor, o maior poeta e o maior violonista.

Carlos Lyra contesta veementemente essa teoria. “Elizeth Cardoso não era cantora de Bossa Nova! Nem sambista ela era. Elizeth era baladista, uma cantora comportada da Rádio Nacional”, diz. Além disso, para Lyra, o time também não estava completo no disco Canção do Amor Demais . “Não tinha eu nem Bôscoli. Considero o LP Chega de Saudade, gravado em 1958, que saiu no ano seguinte, o verdadeiro marco zero, porque todos nós estávamos ali”, diz.

Bravo especial 50 anos de Bossa Nova/acervo rede Abril

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