A produção de café no Brasil começa a incorporar a inteligência artificial (IA) como ferramenta para aprimorar a qualidade e a rastreabilidade do grão, em uma iniciativa liderada pelas cooperativas Minasul e Cooxupé, em parceria com a startup de Cingapura ProfilePrint. A tecnologia busca substituir os métodos tradicionais de avaliação sensorial, oferecendo análises rápidas e precisas sobre a composição e a qualidade dos grãos.
O CEO da ProfilePrint, Alan Lai, afirma que a tecnologia captura mais de 10 mil características do grão em segundos, fornecendo uma análise digital detalhada da amostra. “É como transformar o café em uma impressão digital, capturando o perfil de sabor e outros atributos importantes”, afirmou.
A tecnologia detecta defeitos visuais e não visuais, como mofo e fermentação indesejada, que são difíceis de identificar, evitando rejeições no mercado internacional. “A identificação desses defeitos não visuais evita prejuízos para produtores e exportadores”, acrescentou.
A mesma tecnologia utiliza um scanner que, em segundos, coleta dados moleculares do café e os processa por IA, resultando em um relatório detalhado sobre a composição e características do grão.
O gerente da ProfilePrint no Brasil, Nicholas Yamada, destacou que a simplicidade da operação democratiza o acesso à tecnologia. “Qualquer pessoa pode operar a máquina, o que permite que produtores de todos os tamanhos façam suas próprias avaliações”, disse.
A portabilidade do equipamento é outro ponto ressaltado pela empresa. Com o tamanho de uma cafeteira portátil, a máquina permite testes em campo, reduzindo a necessidade de envio de grãos a laboratórios especializados e acelerando o processo de avaliação.
“A máquina pode ser facilmente transportada e usada em fazendas, laboratórios ou escritórios, proporcionando flexibilidade na avaliação”, ressaltou Yamada.
O avanço da IA ocorre em um momento crítico para o setor cafeeiro brasileiro, que enfrenta a entrada em vigor de regulamentações mais rigorosas sobre rastreabilidade, especialmente a Lei Antidesmatamento da União Europeia, prevista para começar a valer em 30 de dezembro de 2024. A nova legislação exige que os produtores de café forneçam informações detalhadas sobre a origem do produto e garantam que ele não esteja associado a áreas desmatadas.
Lai destacou que, embora a tecnologia não tenha sido desenvolvida especificamente para cumprir a legislação, ela pode contribuir para o processo de rastreabilidade. “Nossa tecnologia oferece uma visão detalhada da composição do grão, o que ajuda a verificar a qualidade e a origem do produto. Ainda não podemos emitir certificações de sustentabilidade”, afirmou o CEO da startup.
Embora a ProfilePrint já esteja presente em cerca de 60 locais, em países como Colômbia e Guatemala, o Brasil se destaca como um mercado estratégico para a empresa.
“Sendo o maior exportador de café do mundo, o Brasil oferece um cenário ideal, e as parcerias com cooperativas como a Cooxupé e a Minasul representam apenas o começo de uma transformação no setor”, afirmou o CEO.
Esta não é a primeira vez que a empresa asiática estabelece parcerias no Brasil. Em fevereiro, acordos também foram fechados com grandes nomes do agronegócio, como a Louis Dreyfus Company Brasil, a Olam Agrícola e a Sucafina Brasil.
Segundo o CEO, a tecnologia da ProfilePrint também tem potencial para ser aplicada em outras culturas agrícolas, incluindo ingredientes alimentícios processados e commodities.