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'Toque de recolher na Internet': Maduro em guerra com as redes sociais na Venezuela

MANDEL NGAN

(COMBO) Combinação de banco de imagens criada em 31 de julho de 2024 com o dono da rede X, Elon Musk, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro

Mandel NGAN

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, passou de defensor regular das redes sociais a detrator. São “multiplicadoras do ódio e do fascismo”, afirmou o presidente, que acusa a oposição de usá-las para “campanhas de ódio” em meio a denúncias de fraude na sua reeleição.

Em um país onde a liberdade de imprensa é restrita, Maduro ordenou a suspensão do X por 10 dias: o prazo terminou no domingo, mas a rede social continua inacessível sem VPN. O presidente também promove um boicote à plataforma de mensagens WhatsApp e acusa Instagram e Tik Tok de quererem atacá-lo.

“Fora Elon Musk e fora X da América Latina!”, lançou na segunda-feira o presidente, que há meses critica o bilionário dono da rede social.

Maduro busca agora conter o protesto contra a sua reeleição, com gritos de fraude da oposição que rapidamente viralizaram.

Após a aprovação na semana passada de uma lei para supervisionar as ONGs, amplamente criticada pelos defensores dos direitos humanos, o governante chavista prometeu uma lei sobre as redes sociais para os próximos dias.

“Esta é uma escalada no sistema de censura”, disse à AFP Giulio Cellini, diretor da consultoria política Log Consultancy. “O governo identifica as redes sociais como o mecanismo através do qual as pessoas podem se informar”.

A questionada reeleição de Maduro em 28 de julho gerou protestos que deixaram 25 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.000 detidos. Ativistas denunciam prisões por publicações nas redes.

“Na Venezuela há um toque de recolher na Internet”, enfatiza Marco Ruiz, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Imprensa (SNTP). “Há centenas de venezuelanos que estão sendo perseguidos por suas expressões em diferentes redes sociais e dezenas deles foram detidos”.

A legislação “presumivelmente”, adverte Ruiz, “aumentaria a perseguição, a estigmatização e a judicialização” das vozes dissidentes.

– Ecossistema midiático dizimado –

Maduro acusa os seus adversários de promoverem a violência através das redes, mas Carlos Correa, diretor da ONG Espaço Público, afirma que na verdade ele tenta fechar “as válvulas de escape com as quais as pessoas tentam obter informação” em um ecossistema midiático pequeno e silenciado.

A Espaço Público, que promove a liberdade de expressão, contabiliza mais de 400 jornais, estações de rádio e televisão fechados em duas décadas de governos chavistas.

As estações de televisão e rádio de sinal aberto operam em um clima de censura e autocensura, enquanto portais críticos da Internet são alvo de bloqueio por parte dos fornecedores locais de Internet.

Redes de notícias internacionais como a “CNN em Espanhol” também foram retiradas do ar pelas operadoras de TV a cabo.

A Venezuela ocupa o 156º lugar entre 180 países no índice de liberdade de imprensa de Repórteres Sem Fronteiras (RSF), atrás apenas da Nicarágua (163) e de Cuba (168) na América Latina.

No contexto da crise pós-eleitoral, o SNTP documentou as detenções de quatro repórteres e de outros dois jornalistas dedicados ao ativismo político. A organização sindical também tem relatado dezenas de demissões em veículos de comunicação estatais por retaliação a interações a favor da oposição nas redes.

– “Venezuela pode viver sem o X” –

O ministro da Comunicação, Freddy Ñáñez, alega que a prorrogação do bloqueio do X se deve à documentação exigida da empresa, que não foi entregue.

“A Venezuela pode viver sem o X”, disse ao portal La Iguana TV, de linha chavista.

Segundo Ñáñez, o Facebook é a rede social mais popular entre os venezuelanos, com 22 milhões de perfis; seguido pela chinesa Tik Tok, com 8 milhões de contas; e Instagram, com 7,9 milhões. De acordo com estes números, existem 2,7 milhões de contas no X neste país.

No entanto, é uma plataforma com peso político, utilizada como principal canal por líderes da oposição como María Corina Machado, que reivindica a vitória do candidato Edmundo González Urrutia nas eleições presidenciais.

“Seu bloqueio reduz seu alcance e, no caso da Venezuela, é uma rede muito política, muito sobre assuntos de interesse público”, diz Correa.

Maduro, por sua vez, faz múltiplas aparições na ampla rede pública de mídia, a serviço da “Revolução Bolivariana”.

Um desenho animado de propaganda, Superbigote, apresenta Maduro na televisão estatal como um super-herói com punho esquerdo de ferro que enfrenta monstros da oposição e dos Estados Unidos, país que tem liderado a pressão internacional contra ele. O inimigo em seu último episódio: Elon Musk caricaturado como um demônio.

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