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Sudão luta contra epidemia de cólera com um sistema de saúde devastado pela guerra

Um homem desinfeta a entrada de um centro médico no estado de Kassala, no leste do Sudão, onde pacientes com cólera estão sendo tratados, em 17 de agosto de 2024

“Sofro de uma diarreia aguda”, declara Aisha Mohamed, encostada em uma cama de um hospital no sudeste do Sudão, cujo sistema de saúde, devastado por um ano de guerra, enfrenta uma epidemia de cólera.

Essa doença, causada pela água ou alimentos contaminados, já era comum no Sudão, especialmente durante a temporada de chuvas, antes mesmo de a guerra estourar em abril de 2023 entre generais rivais.

No entanto, mais de 16 meses de combates deixaram a maioria dos hospitais fora de serviço e o país, de 48 milhões de habitantes, luta para controlar uma doença que, embora às vezes mortal, é tratável.

As autoridades sudanesas e as Nações Unidas informaram um aumento nos casos de cólera em meio a várias semanas de chuvas torrenciais que atingiram partes do Sudão e deslocaram milhares de pessoas.

As chuvas e as enchentes contribuíram para um ressurgimento dessa doença bacteriana que pode causar uma desidratação severa e levar à morte em poucas horas se não for tratada.

O Ministério da Saúde declarou na segunda-feira uma epidemia, informando posteriormente 556 casos de cólera, incluindo 27 mortos, a maioria no estado de Kasala, onde se encontra Wad al Hulaywah.

O ministério também informou o estado de Gedaref está sendo afetado.

– Condições climáticas e contaminação da água –

A Organização Mundial de Saúde (OMS) detalhou que, desde junho de 2023, o Sudão registrou pelo menos 11.327 casos de cólera, dos quais 316 foram mortais.

O ministro da Saúde sudanês, Haitham Ibrahim, disse que “as condições climáticas e a contaminação da água” são as causas da epidemia.

Apenas em Wad al Hulaywah “contamos 150 casos até agora, entre eles sete mortos” desde o final de julho, disse um funcionário de saúde local, Adam Ali, à AFP.

Antes do início da guerra entre o Exército sudanês e as forças paramilitares, a ONU disse que cerca de 40% dos sudaneses não tinham acesso à água potável. Desde então, as condições pioraram.

“Nosso problema é a água potável”, destacou Ali. A maioria dos residentes de Wad al Hulaywah “bebe água diretamente do rio, água contaminada”, explicou.

Durante a temporada de chuvas, grandes quantidades de sedimento são arrastadas para o rio Setit, que nasce na Etiópia, aumentando os níveis de contaminação, acrescentou o funcionário.

Perto do hospital local, trabalhadores pulverizam inseticida para combater a proliferação de moscas, o que, segundo Ali, é um sintoma de falta de saneamento.

A construção de uma represa em 2015 no rio Setit desalojou “vilarejos inteiros e seus habitantes cavaram latrinas improvisadas que atraem moscas porque não têm manutenção adequada”, disse ele.

O acesso à água potável é dificultado em todo o país, tanto em áreas controladas pelo Exército quanto pelas Forças de Apoio Rápido paramilitares, ambas lutando pelo controle do Sudão.

Os paramilitares cercaram áreas inteiras, impedindo a entrada do combustível necessário para bombear água potável, enquanto os obstáculos burocráticos e os combates bloqueiam as operações de ajuda e deixam as principais estações de água fora de serviço.

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