Como todo mundo sabe, as produções culturais e de entretenimento seguem o que acontece no mundo. É como olharmos para a janela de casa com aquela pitada de fantasia, sci-fi, aventura, ação, romance e suspense que todo mundo adora. Os personagens da Marvel
Comics costumam estar mais alinhados com as mudanças da sociedade, e um dos exemplos disso é a mudança de comportamento de Tony Stark
.
Vale comparar a versão mais famosa de Stark, na pele de Robert Downey Jr., para que todo mundo note melhor a diferença a partir dessa referência, da mesma forma que o CBR fez. De acordo com o site, a trama e o comportamento do Homem de Ferro passaram por alterações devido a uma ordem do governo dos Estados Unidos, que não gostou do tom que a história aplicava aos vendedores de armas — afinal, quem é o maior comerciante nesse setor?
Assim, a solução encontrada pela equipe criativa do filme acabou tornando a transição de um bilionário narcisista para um herói inventor de forma mais dinâmica e natural. O governo não queria que Stark apenas parasse de vender armas, mas que também se tornasse uma figura proativa nessa causa, como forma de desafiar o pai negando sua “herança maldita”, enquanto a Stark Entreprises continuasse fazendo grana.
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Embora o Tony Stark de hoje estar muito mais alinhado com essa fase anti-armas nos quadrinhos e cinema, quando o Homem de Ferro estreou, em 1962, o discurso armamentista aumentou nos bastidores, devido ao auge da Guerra Fria. Anos depois, o fracasso dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã ganhou força entre os argumentos em prol de uma revolução cultural e social fomentada pelos movimentos de contracultura. Assim, a concepção inicial ficou na contramão das preferências dos jovens.
“Acho que me dei um desafio. Foi o auge da Guerra Fria. Os leitores, os jovens leitores, se havia uma coisa que odiavam, era a guerra, os militares. Então consegui um herói que representou isso ao centésimo grau. Ele era fabricante de armas, fornecia armas para o Exército, era rico e industrialista. Achei que seria divertido pegar o tipo de personagem que ninguém gostaria, nenhum de nossos leitores gostaria, e enfiá-lo goela abaixo e fazê-los gostar dele… E ele se tornou muito popular”, disse Stan Lee
, ao falar sobre a criação do Homem de Ferro.
Quando ele parou de vender armas?
Stark seguiu vendendo armas nos quadrinhos durante todo os anos 1960, até porque, na época, isso dava ao personagem um aspecto de inventor e fabricante popular e bem pago Seu alinhamento com o governo mantinha seu perfil “politicamente correto” — e era essa a visão de um homem de sucesso no período.’
No início da década de 1970, porém, Lee estava certo, e o público em geral não estava mais entusiasmado com a ideia de acompanhar as aventuras de um fabricante de armas que alimentou a Guerra do Vietnã. E aí entra em cena o escritor Mike Friedrich, um pacifista brisado, decidiu fazer com que Tony abandonasse o comando da produção de armas das Indústrias Stark em Iron Man #50
, de 1972 (de Friedrich, George Tuska e Vince Colletta), decidindo se concentrar na pesquisa espacial e na tecnologia
antipoluição.
Tony então renomeou a empresa de Stark Industries para Stark International para comemorar a mudança de direção da empresa. Mas, ainda assim, ele continuou vendendo armas, porque, no final das contas, são produtos caros que seguiam caracterizando bem seu lado inventor, industrialista e bilionário alinhado com o governo — mas claro, com um perfil mais atualizado com seu lado heróico.
O herói teve Stark International cobiçada pela SHIELD, e, bem Tony continuou inventando e aumentando o poder de fogo de suas próprias armaduras e de veículos como Quinjets; estruturas e sistemas de defesa dos Vingadores — note que somente aí, de 1980 a 2008, ano de lançamento do filme Homem de Ferro, o conceito de “arma” ficou mais nebuloso e até confuso.
Veja bem, Tony não fazia parte da galera da contracultura, e nunca fez. Pelo contrário, a Guerra Civil
dos quadrinhos tinha o Homem de Ferro como um claro antagonista, até com o comportamento de um vilão mesmo. A trama, que ecoava traços da Guerra da Secessão, tinha Steve Rogers
lutando pela liberdade, como sempre, enquanto o inventor bilionário ao lado do governo, querendo enquadrar os rebeldes — nos cinemas, a popularidade de Downey Jr. impediu que o filme o tornasse o criminoso da trama.
Ainda assim, Tony sempre teve um lado questionador bastante irônico e canastrão ,que só foi encontrar seu verdadeiro humor e equilíbrio quando Robert Downey Jr. se tornou o próprio Homem de Ferro — não sei vocês, mas será difícil um dia dissociar essa imagem e aceitar um outro ator interpretando o Gladiador Dourado dos Vingadores.
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