O documentário “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447”, nova aposta do serviço de streaming Globoplay, do Grupo Globo, chegou às plataformas gerando um burburinho. O motivo foi o comunicado que aparece logo no início do primeiro episódio, que informa que algumas entrevistas foram dubladas através de uma ferramenta de inteligência artificial.
No comunicado, a produção coloca: “A versão em português das entrevistas concedidas em língua estrangeira para este documentário foi feita a partir da voz dos próprios entrevistados, com o uso de inteligência artificial, respeitando-se todos os direitos e leis aplicáveis. O conteúdo das dublagens é fiel às entrevistas originais. Os entrevistados que não aceitaram a dublagem foram legendados.”
Entretanto, a escolha dos responsáveis pelo documentário não foi bem recebida. O Sated-RJ (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro) emitiu nota de repúdio contra a plataforma. No documento divulgado nesta quarta-feira (5), o órgão diz “expressar sua profunda indignação e repúdio” a decisão da Globo, que emprega “vozes autorizadas das próprias pessoas envolvidas na tragédia”.
De acordo com o Sindicato, a escolha da Globo em não contratar dubladores para o trabalho foi “desrespeitosa” e o uso da IA é por “questões “exclusivamente econômicas”.
“Isso representa um desrespeito inaceitável aos profissionais de dublagem, que se dedicam a essa arte com talento e sensibilidade. Ao optar por uma solução tecnológica em detrimento dos dubladores, a Globoplay não apenas prejudica esses trabalhadores, retirando-lhes oportunidades de emprego, mas também compromete a qualidade do produto final oferecido ao público”, afirma o documento.
Segundo o sindicato, a necessidade da presença de dubladores na produção se deve a experiência e capacidade de interpretação, coisa que só se consegue com a voz humana. “Substituir essa competência humana por inteligência artificial desvaloriza a profissão e entrega um resultado de qualidade inferior, prejudicando a experiência do espectador”.
O órgão pede que a Globo repense o uso do recurso em produtos que precisam de dublagens: “Exigimos que o Grupo Globo reveja suas políticas e passe a valorizar os profissionais que contribuem de maneira essencial para a excelência das produções audiovisuais brasileiras. O respeito aos dubladores é fundamental para a manutenção da qualidade e integridade da nossa indústria”.
Antes da nota de repúdio, a Globo já havia comentado sobre o assunto e afirmou que “realizou testes e desenvolveu soluções internas que estão em experimentação e uso” antes de cravar que utilizariam uma IA no trabalho. Entretanto, eles ressaltam que se trata de um trabalho de “forma ética, com transparência, buscando a qualidade e respeitando a questão dos direitos.”
“Foi o que aconteceu, por exemplo, em Rio-Paris: cumprimos o compromisso assumido com algumas empresas de dublagem de não utilizar as vozes de seus dubladores através de processos de IA ou para o treinamento de IA”, afirma.
O assunto acabou gerando revolta uma vez que a dublagem através de IA não é regulamentada no Brasil, com movimentos correndo atrás de uma regulamentação da ferramenta.