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Primeira mulher a presidir o Conselho Federal de Medicina Veterinária discute o futuro da profissão

O exercício profissional dos médicos veterinários e zootecnistas precisa ser fiscalizado de perto, com rigor, visto a importância dessas duas profissões. Para isso, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) existe há 55 anos e abrange todo o território brasileiro.

Para conhecer melhor a atuação desta autarquia, o Canal Rural Entrevista desta edição conversa com primeira presidente mulher da história da entidade, a Ana Elisa Almeida. Assista a entrevista na íngra no vídeo acima e acompanhe os principais trechos abaixo:

Canal Rural: As mulheres estão cada vez mais tomando à frente de grandes instituições. Como foi chegar a este posto tão importante?

Ana Elisa – Eu sou médica veterinária, formada pela Universidade Federal da Bahia. Fui presidente do CRMV do estado e me identifiquei muito com a oportunidade de trabalhar efetivamente para a melhoria e valorização da nossa profissão. Foram dois mandatos na Bahia e, em 2017, entrei na disputa pela gestão federal. Depois, fui convidada pelo Dr. Francisco a ingressei no Conselho Federal na condição de vice presidente. Depois disso, iniciei a minha gestão como presidente em 15 de dezembro do ano passado […]. Fico muito honrada em estar gerindo a maior entidade [do setor], sendo a primeira mulher a chegar neste posto. Nós mulheres já somos, inclusive, a maioria dentro do sistema do Conselho Federal e Conselhos Regionais. Então é uma honra eu poder gerir a maior entidade da minha profissão, a qual escolhi por vocação e amor e à qual eu dedico quase quatro décadas da minha vida. Além disso, há outra profissão que está vinculado a esta autarquia e que eu respeito e admiro muito, dada a importância que tem para o agronegócio, para a sociedade, que é a zootecnia. Então, hoje não existem mais barreiras, mais limites. Nós, mulheres, chegamos para ficar.

CR: Para gerir uma instituição como o CFMV é preciso ter como base o pé na profissão, ter vivenciado todo o processo da medicina veterinária. Como foi o início de tudo e o quanto essa trajetória na carreira te ajudou a chegar ao cargo de presidente?

Ana Elisa – Quando jovem, ainda estudante, confesso que não me envolvia muito nas questões do centro acadêmico porque eu era muito focada na formação. Fui muito estudiosa, então tinha pressa em terminar o curso […]. Depois, já formada, fui convidada pelo presidente do Conselho da Bahia à época para ser presidente da Sociedade de Medicina Veterinária da Bahia, que é a entidade que exerce parte mais social e cultural da classe por meio de, por exemplo, congressos. Em 2001 eu realizei na Bahia o Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária que, modéstia à parte, foi um sucesso. Foram mais de duas mil pessoas no Centro de Convenções da Bahia, com muitas autoridades e palestras. Isso me deu uma certa projeção nacional. Em 2003, o presidente do Conselho me convidou para ingressar na gestão dele na condição de secretária geral. Comecei, então, a enveredar pelo campo da fiscalização, já que o Conselho tem como premissa e como finalidade o exercício profissional. Foi a partir daí que comecei a conhecer as legislações, as normas, a entender, e eu estudava muito. No cargo de secretária geral precisava gerir toda aquela parte das inscrições, dos registros, cancelamentos.

CR: A atuação do médico veterinário em campo e o quanto ele representa hoje para a pecuária brasileira cresceu muito nos últimos anos. O produtor rural se identifica com esse profissional, procurando-o, inclusive, para a tomada de decisões.

Ana Elisa – Sim, principalmente porque o Brasil hoje está em um patamar competitivo muito grande e sabe que para poder se manter neste nicho, inclusive nos mercados internacionais, precisa ter competência, qualidade, conhecimento e isso o produtor encontra nesses profissionais, no médico veterinário, no zootecnista, no agrônomo. […] Outro dia estive no Ministério da Pesca e o secretário-executivo era um zootecnista. Nós temos vários colegas médicos veterinários ocupando importantes cargos dentro do Ministério da Agricultura, inclusive até vice-governadores. Então percebemos que existe uma procura por este profissional, inclusive as associações de produtores têm nos procurado exatamente para manter essa aproximação com esses profissionais porque eles entendem e sabem da importância de atender, inclusive, as exigências do mercado nacional e internacional.

CR: O quanto a medicina veterinária e a zootecnia têm contribuído para a saúde animal?

Ana Elisa – A saúde animal preventiva e curativa é uma área privativa do médico veterinário. Logicamente que o zootecnista também tem um olhar voltado à saúde animal, uma vez que ele lida com a nutrição, a produção. Temos difundido muito o conceito da saúde única. O Conselho Federal vem reforçando e formulando medidas nesse sentido. Isso porque não se pode imaginar uma saúde humana sem a saúde animal e a saúde ambiental. São indissociáveis.

CR: Falando em integração, de que maneira o médico veterinário e o Conselho Federal vêm trabalhando a normativa do Environmental, Social and Governance (ESG)?

Ana Elisa – Temos normatizado, através de nossas resoluções, uma série de práticas que precisam ser seguidas pelo profissional para que ele possa promover essa convivência sem agredir o meio ambiente. Já provamos que isso é possível. Podemos fazer pecuária, melhoramento, todas as nossas interações convivendo e compartilhando sem nenhum problema com o meio ambiente. Há uma série de resoluções nossas que preveem e orientam os médicos veterinários e zootecnistas neste segmento, ou seja, na interação com o meio ambiente e aumento de produtividade, respeitando, inclusive, os próprios parâmetros do animal. Hoje nós temos tecnologias avançadas que têm nos permitido maior eficiência e, também, maiores acertos de diagnósticos para tomadas de decisões, mais confiáveis. Exemplos disso são as ferramentas de inteligência artificial, super úteis para a pecuária de precisão.

CR: A inteligência artificial, como a senhora disse, tem ajudado muito o trabalho do médico veterinário. Como conciliar o olhar técnico do profissional com esse tipo de tecnologia?

Ana Elisa – A tecnologia só é útil e bem-vinda se o profissional conseguir conciliar o seu olhar técnico e o cuidado com o animal, com a natureza. Dessa forma, produzem um resultado positivo em nosso trabalho. No entanto, precisam ser feitas dentro dos preceitos éticos que normatizam a nossa profissão. […] Em 2022, por exemplo, aprovamos a telemedicina, algo que veio para somar. É lógico que o padrão ouro das nossas atividades é o atendimento presencial, o olho no olho, mas a telemedicina é uma ferramenta que veio para encurtar a distância entre o animal, o tutor e o profissional. Assim, o médico veterinário pode fazer com que o diagnóstico e o tratamento possam ser iniciados de uma forma mais rápida do que se o tutor levasse o animal até o consultório. Isso facilita o fluxo.

CR: Qual recado a senhora pode dar aos futuros profissionais da Medicina Veterinária e da Zootecnia?

Ana Elisa – Fui professora por 34 anos na Universidade Federal da Bahia e sei a importância de uma formação sólida para o exercício profissional. Então, quero dizer aos futuros colegas que não desistam dos seus sonhos. A medicina veterinária é uma profissão linda, que trabalha com a vida, não apenas a animal, mas também a humana e a ambiental. Busquem uma formação sólida, continuada. Digo sempre que são precisos cinco elementos: atitude, vontade, conhecimento, habilidade e entusiasmo. É preciso que tenhamos fé em nossa capacidade. Não tenha medo de se arriscar. Quero, também, mandar um recado para as mulheres profissionais: nós podemos, sim, ocupar espaços de decisão, podemos conciliar a nossa vida profissional com a familiar. […] Temos que manter esse olhar holístico, que é próprio do feminino. Costumo dizer que nós, mulheres, temos uma capacidade maior de ouvir, acolher e entender. É importante que a gente não tenha medo de arriscar e de assumir todas as possibilidades que nos são apresentadas. Há uma máxima que diz assim: “ouse e o poder lhe será dado”. Então, a todos os profissionais, mas, de um modo especial, às mulheres: avante! Só depende de nós. Juntos podemos fortalecer cada vez mais o agronegócio brasileiro, alcançar os mercados internacionais e também fortalecer o mercado interno.

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