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Crítica O Menino e a Garça | Aprendendo a viver

André Mello

Crítica O Menino e a Garça | Aprendendo a viver

Existe uma coisa que sempre tive certo receio de admitir porque, às vezes, as pessoas não parecem entender direito, mas eu nunca fui muito fã das animações do Studio Ghibli. Entendo perfeitamente os motivos que fazem milhões de pessoas ao redor do mundo se apaixonarem por suas histórias, acho que são produções belíssimas, mas nenhuma conseguiu me cativar por completo.

O longa que chegou mais próximo de cair no meu gosto foi Princesa Mononoke
, um filme que preciso rever agora que estou mais velho e talvez revisitar outras animações do estúdio para saber se tenho uma nova opinião sobre eles.

Por que estou falando sobre mim em vez de falar sobre O Menino e a Garça
, novo longa e possivelmente o último dirigido por Hayao Miyazaki? Porque falar sobre esse filme é exatamente falar sobre você mesmo. Parece profundo e, de certa forma, acredito que é isso que o diretor queria para a sua despedida.


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Lidando com o luto

O Menino e a Garça
é um filme quase autobiográfico, trazendo vários paralelos com a vida do diretor de 83 anos. Ele gira em torno de um garoto de doze anos chamado Mahito, que perdeu sua mãe em um incêndio no hospital em que ela trabalhava, como aconteceu com Miyazaki.

Seu pai se casa com a sua tia e se muda para uma propriedade rural, onde o jovem menino ainda não consegue entender muito bem como lidar com a nova realidade. Toda a primeira metade da animação gira em torno dessa mudança, parecendo se direcionar a uma trama sobre crescimento e como lidar com o luto e superá-lo.

O ritmo dessa primeira metade é bastante sonolento, mas realmente parece por opção, já que a vida de Mahito não traz grandes emoções além do fato de seu pai ter casado com a sua tia, que agora está grávida.

Porém, tudo muda quando o jovem percebe uma garça que sempre ronda a propriedade. Por causa do animal, ele descobre uma torre na redondeza, onde seu tio-bisavô foi e nunca mais foi visto. A partir desse momento, o filme se transforma em uma aventura mágica e colorida, cheia de perigos e reencontros entre Mahito e figuras de sua vida em uma viagem que desafia o tempo e o espaço.

Toda essa segunda parte é confusa. Falar assim parece algo ruim, mas é o total oposto. Nessa mudança de ritmos e cenários, muitas vezes absurdo, Miyazaki parte para um caminho que consegue transmitir ideias e sentimentos sobre vida, morte, legado e como devemos enxergar a nossa própria existência.

Uma adaptação literária e uma história de vida

O Menino e a Garça
traz muito da história de vida do diretor, apesar de também ser levemente inspirado em um livro que compartilha do mesmo título original, Kimitachi wa Dō Ikiru
, ou “Como você vive?”.

O livro, que aparece brevemente em uma cena do filme, fala sobre a vida de um adolescente de 15 anos em entradas de diário escritas pelo seu tio, falando sobre diversos temas como escola, sociedade e ética, terminando com uma visão sobre o futuro.

De certa forma, o livro consegue inspirar bastante a trama de O Menino e a Garça
pelo simples fato de Mahito se ver em constante aprendizado sobre como a vida realmente funciona e como suas escolhas formarão o caminho que deverá seguir em sua vida.

A dúvida entre a fantasia e a dura realidade

O Menino e a Garça
tem uma primeira metade cansativa, já que ela chega a repetir temas sem sair do lugar. Sua segunda metade, mais voltada para a fantasia e a magia, torna o filme mais interessante e consegue realçar as forças de sua trama.

Apesar de o personagem principal do filme ter apenas doze anos, ele trata muito como vemos a vida no sentido de encarar as dificuldades ou se entregar ao escapismo, retratado como a possibilidade de uma nova vida de fantasia e magia.

Ao reconhecermos que esse pode ser o último filme de um homem de 83 anos, O Menino e a Garça
ganha mais força por não só parecer com um vislumbre do crescimento de um garoto, mas também com a de uma pessoa olhando para o seu passado e as escolhas de sua vida.

Enquanto é muito mais emocionante toda a parte colorida, cheia de ação, inimigos mágicos e a chance de se tornar o grande herói da história, a vida também é formada de momentos enfadonhos, que nos sentimos menores do que tudo frente a problemas ou traumas.

O que Miyazaki faz com a animação é tentar mostrar a beleza e a importância nas duas formas de se viver. De fazer o espectador também se perguntar como viver a própria vida. E, mesmo reconhecendo que boa parte dos filmes do Studio Ghibli não consegue me cativar completamente, esse me fez entender um pouco melhor o sentimento que queria passar. Tudo isso em um filme bem colorido sobre um menino e um pássaro com um grave problema de calvície.

O Menino e a Garça
está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.

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.

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